Para Eduardo Terra, líderes de varejo precisam desenvolver novas competências para lidar com os desafios da transformação digital
Em meio à transformação digital dos negócios, o papel da liderança é um misto de uma corrida de 100 metros e uma maratona. É preciso ir muito rápido no curto prazo, mas também guardar energia para o futuro. Como se não bastasse, a transformação é uma jornada que tem data para começar, mas não para terminar, e não existe “receita de bolo”: cada caso é um caso e o que funciona para um pode não funcionar para outro.
Para lidar com os desafios da transformação digital, os líderes do varejo precisam desenvolver novas competências. Em live realizada nesta semana no Instagram, Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), e a especialista em transformação digital Andrea Dietrich conversaram sobre as mudanças no papel do líder e a reorganização dos negócios durante a pandemia. Confira os principais pontos:
Três urgências para os líderes
Para lidar com a velocidade e a intensidade das transformações dos negócios, os líderes precisam, na opinião de Eduardo Terra, de três grandes competências:
– saber lidar com um mundo em mutação: a pandemia é mais um evento desse mundo cada vez mais incerto e volátil. “No ano que vem, uma outra crise vai exigir respostas muito rápidas. Pode não ser o vírus, mas a disrupção trazida por um concorrente. O que faz a diferença é como reagir diante das ameaças”, comenta;
– digitalização: embora fosse uma competência mais específica de algumas áreas há alguns anos, hoje a digitalização é necessária para todo mundo. “O líder tem que entender de tecnologia e ter visão estratégica. Não precisa saber programação, mas tem que entender o valor da tecnologia para o negócio”, diz;
– lidar com a diversidade: a pandemia talvez tenha sido um grande despertar para boa parte da população a respeito do tema. Muitas marcas têm se posicionado com coragem e de forma efetiva em relação à diversidade e à desigualdade. “Não basta não ter preconceito, é preciso ser ativo, colocando a marca para atuar a favor de um mundo mais diverso, pois isso agrega valor”, explica.
A coragem para transitar no novo
Para Andrea Dietrich, duas competências importantes para o líder digital são a coragem de transitar no novo e a curiosidade para aprender sempre. “São dois valores muito fortes e que tiram os executivos da zona de conforto, exigindo um grande preparo emocional”, comenta. Para Eduardo Terra, o maior risco que um negócio pode correr hoje é o de ser visto como comum. “Há 10 ou 15 anos, dava para administrar uma empresa no piloto automático, sem correr riscos. Hoje isso não funciona mais: o grande risco é ficar parado”, afirma.
Como a jornada de transformação digital leva as empresas a lugares desconhecidos, a liderança tem um papel importante de catequização do time, impulsionando as mudanças. Para viabilizar essa mudança e dar mais coragem a líderes e liderados, uma recomendação é desenvolver projetos curtos, que tragam pequenos ganhos rapidamente, mostrando resultados. “Aquela coisa de fazer um megaprojeto, super caro, que só vai estar completo daqui a alguns anos e só vai dar resultado lá na frente, isso não funciona mais. É preciso entregar ganhos ao longo de todo o processo”, diz Terra.
O equilíbrio entre o hoje e o amanhã
Entregar ganhos rápidos ajuda a construir a ponte entre a empresa de hoje e a de amanhã. Essa deve ser uma preocupação constante dos líderes. “O que deu certo no passado e ainda funciona hoje não é o que vai garantir o futuro. Por isso, é preciso preparar o amanhã, mas sem descuidar do curto prazo”, afirma o presidente da SBVC.
No varejo, que tem uma cultura de resultados imediatos, isso é ainda mais difícil. “É preciso repensar até mesmo os indicadores. As lojas da Apple, por exemplo, passaram a adotar somente o Net Promoter Score (NPS) como métrica, em vez de medidas mais tradicionais, como a venda por funcionário ou tíquete médio”, exemplifica Andrea Dietrich.
Esse tipo de atitude, na opinião da especialista, muda o foco das equipes, que passam a olhar para a satisfação dos clientes. “É uma métrica de longo prazo que ajuda a construir a ponte. Em vez de empurrar a venda, é desenvolver o relacionamento”, pondera.
Para Eduardo Terra, para equilibrar a vida da empresa no curto prazo e os projetos de longo prazo, a diversidade de perfis é essencial. “É difícil termos o equilíbrio do curto e do longo prazo nas mesmas pessoas. O normal é ter executivos com perfil mais de aprendizado, enquanto outros estão focados nas vendas de curto prazo. Esse mix é que permite que a empresa equilibre o hoje e o amanhã e construa a ponte para o futuro”, acredita.
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Fonte: Redação SBVC