Para Alberto Serrentino, empresas sólidas, com visão global de seus stakeholders e responsabilidade social sairão fortalecidas deste período de crise
Na retomada da economia brasileira pós-pandemia, o varejo encontrará um cenário muito desafiador, com grande desigualdade entre empresas, segmentos e regiões. Ao mesmo tempo, é um momento de usar a criatividade para driblar os obstáculos e encontrar novas oportunidades de contato com o cliente e reinvenção dos negócios. O saldo de tudo isso será positivo para muitas empresas.
“Empresas sólidas, resilientes e com estrutura de capital saudável, poderão sair deste momento menos afetadas e com mais oxigênio para aproveitar as oportunidades”, analisa Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), durante live realizada nesta quarta-feira (15/07) pelo Waze.
Outro ponto importante é a visão global do ecossistema de negócios. “Tenho visto de forma muito positiva essa visão de stakeholder, de um senso coletivo maior, que reflete uma maturidade das empresas. Muitas, em vez de apertar os fornecedores para preservar caixa, se colocaram em uma posição de parceria, o que, no médio prazo, gera um vínculo maior com a cadeia de negócios e com os consumidores”, analisa.
É o caso da Petz, maior varejista de animais de estimação do País. “Reforçamos nosso caixa para dar aos nossos colaboradores a garantia de que não demitiríamos, dando tranquilidade em um momento difícil. Também pensamos na cadeia de fornecedores, especialmente nos pequenos, e antecipamos pagamentos a eles, além de reforçar nosso estoque para evitar rupturas”, conta Sergio Zimerman, CEO da rede. “Com isso, fizemos nossa parte para que colaboradores e parceiros ficassem um pouco mais tranquilos em um momento que já era de pressão por causa da saúde das pessoas”, acrescenta.
A Lojas Renner, maior varejista de moda do País, trilhou um caminho semelhante. “Desde o início da pandemia, tivemos uma atuação muito forte da liderança no sentido de se aproximar das equipes, com muita transparência, para reforçar o engajamento e a confiança”, afirma Maria Cristina Merçon, diretora de marketing da varejista. Para ela, esse movimento contribui para mostrar que o propósito, os princípios e valores da empresa não são somente palavras. “Norteamos todas as ações pela segurança e saúde das pessoas, pela preservação dos empregos e da renda, pela saúde financeira da empresa e pelo nosso papel social, ajudando pequenos negócios e comunidades carentes. Tudo isso engajou ainda mais os colaboradores e aumentou nosso foco nos clientes, o que ainda contribui para acelerar nossa transformação digital”, diz a executiva.
Transformação digital é questão de cultura
Para Alberto Serrentino, transformação digital não é tecnologia. “Essa é uma agenda, acima de tudo, de mudança de cultura. A transformação acontece quando o varejo deixa de focar em produtos e canais e passa a focar em seus clientes, usando dados para entender o que o cliente busca e como é possível atendê-lo melhor”, explica. Isso provoca grandes mudanças na empresa.
“Com foco nas necessidades dos clientes, perdemos o medo de errar e vamos avançando rápido”, diz Maria Cristina. “Nesta crise, temos colocado as coisas em prática muito rápido, e isso é um ganho também para o consumidor”, acredita.
Esse também é o cenário no Grupo Pão de Açúcar. “Temos usado cada vez mais inteligência de dados dos clientes para sermos mais assertivos e gerar mais retorno em nossas ações”, afirma Othon Vela, diretor de marketing da empresa. Para que isso aconteça, a relação com os parceiros de negócios muda. “Temos trabalhado com eles levando os problemas e solucionando em conjunto com eles, em vez de descobrir a solução internamente e levar só um pedido para execução. Isso faz com que a gente cresça mais e evolua rápido”, explica.
Para Serrentino, este período duro de crise carregará um enorme legado de evolução organizacional e agilidade das empresas. “O varejo está dando saltos, colocando em prática hoje projetos que estavam previstos para daqui a um ou dois anos. Além disso, o setor entendeu de vez que não é o cliente que vai à loja, e sim a loja é que vai ao cliente. Isso deu um impulso enorme à inovação e, por isso, o legado do varejo no pós-pandemia será muito positivo”, avalia.
O vice-presidente da SBVC acredita que os efeitos dessa mudança não aparecerão necessariamente nos balanços financeiros deste ano, mas terão um impacto de longo prazo no varejo. “Teremos um ano de números ruins, mas 2021 será de mais confiança. Este é um momento desafiador, mas de muitas oportunidades para empresas que estiverem preparadas e capacitadas”, completa Serrentino.
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Fonte: Redação SBVC