Para Eduardo Terra, mudança da arquitetura tecnológica das empresas é um dos grandes legados deixados pelo Covid-19
A pandemia trouxe dificuldades e grandes desafios para o varejo brasileiro, mas irá gerar o legado positivo da transformação digital para as empresas que souberem aproveitar este momento. Essa é a opinião de Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “Não é exagero falarmos em cinco anos em cinco meses. Esta crise fez com que as empresas acelerassem seus esforços de transformação digital e, para quem estava ainda pensando se deveria ou não se digitalizar, serviu como um grande alerta”, comenta o executivo, em live realizada na noite desta quarta (10/06) no Instagram.
Em muitos casos, a transformação digital vinha sendo postergada porque é um tema delicado. “Ao mesmo tempo em que é preciso fazer uma mudança cultural nas empresas e rever toda a arquitetura de TI, é preciso continuar a gerar caixa”, afirma. A mudança de cultura é um primeiro passo essencial: significa manter o lado positivo da personalidade da empresa, mas jogar fora tudo o que não faz mais sentido em um ambiente digitalizado, em que as jornadas de compra dos clientes passam também pelos smartphones. “Sem a mudança de cultura, não há estratégia digital que funcione”, decreta.
O segundo passo é rever, e muitas vezes jogar fora, a atual arquitetura de TI da empresa. Reconhecer que é preciso abrir mão de sistemas que receberam grandes investimentos exige mudar a forma de pensar o negócio. “Empresas tradicionais de varejo costumam ter arquiteturas muito pesadas, com sistemas legados e muito customizados. Isso faz com que qualquer adaptação leve muito tempo para encaixar e custe muito dinheiro. Só que isso não funciona mais em um mundo de mudanças rápidas”, explica Terra.
Isso ficou muito claro nesta crise, em que foi preciso adotar canais digitais de relacionamento e vendas em tempo recorde. “Quem estava mais avançado nessa agenda de transformação conseguiu criar soluções rapidamente e, em questão de dias, já tinha colocado os vendedores das lojas para vender pelo WhatsApp”, exemplifica.
Uma nova arquitetura de TI, mais leve e maleável, exige mudar paradigmas de segurança, como o uso de sistemas na nuvem e a adoção de microsserviços, para que novas soluções possam funcionar mais rapidamente com os sistemas já usados. “É, mal comparando, como um aplicativo que você instala no seu celular: você precisa dele, instala e sai usando, porque toda a arquitetura está pronta para conversar com esse novo app. Se fosse preciso esperar três meses e gastar milhares de reais para fazer a instalação, você não usaria”, compara.
Em uma empresa tradicional, a aplicação de mercado não conversa com a arquitetura legada e o varejista fica travado, ou então precisa investir muito e qualquer mudança exige muito tempo. “Essa não é uma parte sexy da transformação digital”, admite Terra. “Mas é muito necessária. Todas as empresas que avançaram na transformação precisaram fazer uma mudança brutal de tecnologia, que deixa de ser algo acessório em um negócio low tech para ser uma protagonista da evolução dos negócios”, completa.
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Fonte: Redação SBVC