Por Adriana Mattos | A rede de lanchonetes Subway Brasil encaminhou, na segunda-feira (11), um pedido de recuperação judicial à 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, após acumular passivos de R$ 482,7 milhões. Na prática, é a terceira marca operada pelo grupo SouthRock, do empresário Kenneth Pope, com problemas financeiros no país.
Em novembro, com dívidas de R$ 1,8 bilhão, a gestora SouthRock Capital solicitou recuperação judicial, e o processo envolveu a Starbucks no Brasil, licenciada pela empresa no país. Meses depois, em fevereiro deste ano, foi pedida a falência da empresa de restaurantes Eataly, também do grupo, por parte de sua credora Winebrands.
Na prática, Subway e Starbucks estavam na mesma ação de recuperação da rede de cafeterias em novembro, mas a SouthRock solicitou a retirada da Subway do processo porque havia negociações em curso com credores da cadeia de lanchonetes, como bancos e a dona da marca nos Estados Unidos.
Na petição enviada à Justiça nesta semana, a Subway afirma que dificuldades de renegociação com um grupo de credores, que teria pressionado a rede para o pagamento das dívidas, levou à necessidade de pedir proteção judicial.
Até o fim da tarde de ontem, segundo consta no processo no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o pedido ainda não havia sido aceito pelo juiz da vara, Adler Batista Oliveira Nobre.
Em seu pedido, a rede diz que “um pequeno grupo de credores entendeu por bem interromper as produtivas e amigáveis negociações e conversas que até então vinham sendo mantidas”.
“Inesperadamente, [esse grupo] passou a perseguir, de maneira forçada e unilateral, a imediata satisfação de seus créditos”, diz no documento.
Houve, inicialmente, uma cooperação dos credores na renegociação dos passivos, algo que viabilizou a celebração de um “acordo de tolerância” , permitindo que a marca continuasse a exercer a função de master franqueadora por um período de transição.
No entanto, uma “repentina” mudança de postura nas conversas fez com que a Subway nos EUA notificasse a empresa no Brasil sobre a rescisão desse acordo, cessando o direito de licença da marca, restando à empresa recorrer à Justiça.
A companhia não abre o nome dos credores que a pressionaram, mas disse que eles são “responsáveis pela distribuição de uma série de medidas que visam a constrição/expropriação do patrimônio das requerentes para a satisfação individual de seus créditos”.
Ao citar as razões da crise, a Subway menciona os mesmos motivos que levaram, no fim de 2023, ao pedido de recuperação da SouthRock e Starbucks. Entre as razões estão a baixa lucratividade decorrente do fechamento temporário de seus restaurantes quatro anos atrás, em função da covid-19, e a impossibilidade de obtenção de novas linhas de crédito.
A Subway ainda cita um “excesso de endividamento” — a cadeia se alavancou acima de sua capacidade de geração de caixa.
A administração da rede não cita as razões pelas quais, mesmo após o fim da pandemia, não conseguiu recuperar o negócio. Diversos grupos de restaurantes retomaram as vendas após 2022 e já voltaram a lucrar no país.
A Subway pede que a ação seja dependente daquela ligada à Starbucks, tramitando na mesma vara judicial. No processo, é pedido que o administrador judicial se manifeste sobre a questão.
Sobre os outros negócios de Kenneth Pope no país, continua em andamento o pedido de falência do Eataly na 3 Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo por parte da Winebrands, numa dívida de R$ 82 mil.
No dia 6, foi remetido ao Diário da Justiça Eletrônico o pedido de citação da empresa no caso, para contestação em 10 dias. O juiz lembra que, pelo “silêncio” da empresa sobre o pagamento ao credor, há risco de quebra caso não se manifeste. A Winebrands cita na ação 634 protestos contra o Eataly.
Em relação à Starbucks, já foi protocolado o plano de recuperação judicial, e a fase atual é de negociação com credores. Um advogado ouvido, especializado em falências, lembra que, quando uma marca de um grupo pede recuperação, cresce o nível de desconfiança dos credores em relação aos outros negócios.
Em nota, a SouthRock confirma o início do processo de recuperação judicial da rede de lanchonetes, algo que reflete, em parte, o cancelamento de sua licença de operação, diz ela. “Cabe esclarecer, ainda, que sua atividade enquanto gestora das franquias não se confunde com aquela exercida pelos franqueados da marca e operadores das lojas, não abrangidos pelo processo”, informa. (Colaborou Maria Fernanda Salinet)
Fonte: Valor Econômico