Por Suzana Liskauskas | Mais atentos às demandas dos consumidores, os shopping centers brasileiros estão deixando de ser somente centros de compras para se transformarem em um mix de varejo, entretenimento e serviços, seguindo tendência que vem ocorrendo globalmente. Empreendimentos com a configuração de duas décadas atrás não existem mais, afirma Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). “Há 20 anos, o centro do varejo era a marca. Hoje é o consumidor que está no centro, e as marcas buscam soluções, customizações, encantamento e atendimento para encantá-lo”. Isso porque é mais fácil manter um cliente do que conquistar um novo”, aponta.
Segundo Humai, a evolução da experiência do consumidor está diretamente relacionada ao investimento que o shopping faz em tecnologia. A tendência é a convergência do varejo físico com o digital. “Há questões que ainda estão se aprimorando, como pagamentos e fluxo de compras. Hoje, o fator mais valorizado pelo consumidor é a experiência da compra”, afirma.
Os shoppings estão evoluindo para oferecerem experiências que mesclam inovação e tecnologia, com foco no sensorial, afirma Julian Tonioli, CEO da consultoria Auddas. A inovação, ressalta, é a chave dessa evolução. “À medida que os shoppings se adaptam à digitalização, o espaço das lojas torna-se um local onde todos os sentidos são envolvidos. Além disso, os shoppings estão oferecendo suporte às vendas on-line. Muitas empresas optam por manter a presença física para baratear os custos de entrega”, diz Tonioli.
Daniel Pisano, cofundador da plataforma de engajamento para comércio eletrônico Vurdere, observa que os lojistas estão usando a força de vendas especializada das lojas físicas para interagir com o público on-line. Ele destaca o crescimento do omnichannel, quando o varejo integra lojas virtuais e físicas para oferecer ao cliente a mesma experiência em qualquer canal de atendimento. “O omnichannel tem impulsionado o crescimento de estabelecimentos físicos, ao invés de ameaçá-los. Esses locais frequentemente oferecem experiências de compra que são complementares e únicas”, diz.
Embora a motivação da maioria dos consumidores que frequentam shopping centers (43%) ainda seja fazer compras, cresce a parcela daqueles que buscam prioritariamente lazer (31%) e alimentação (21%). É o que mostra a pesquisa “O comportamento dos Frequentadores de Shopping Centers”, realizada pela Abrasce entre fevereiro e março de 2023. A pesquisa – que ouviu cerca de 4,3 mil consumidores com mais de 17 anos em todos os Estados, além do Distrito Federal – revelou que os clientes do Sudeste são os que mais frequentam restaurantes com serviços, enquanto os do Nordeste são os que mais procuram lazer.
A valorização dos espaços ligados a alimentação também aparece no levantamento “O Varejo dos Shoppings: Marcas em Expansão”, realizado pela Abrasce. De acordo com a pesquisa, das 831 marcas que inauguraram lojas em shoppings nos três primeiros meses do ano, 36% pertencem ao segmento de alimentos e bebidas. Ainda segundo o estudo, houve um crescimento de 6,8% nas vendas no período, em relação ao primeiro trimestre de 2022. Tonioli atribui esse crescimento ao fato de os consumidores estarem ávidos por mais experiências fora de casa.
A tendência de conversão dos centros de compras em um mix de compras, entretenimento e serviços também tem favorecido a expansão dos strip malls, centros de compras ao ar livre em que a arquitetura favorece a instalação de lojas e serviços, como cabeleireiros, chaveiros, conserto de roupas, entre outros. Segundo Victor Hadid, sócio da prática de imobiliário do FAS Advogados, os strip malls surgem como uma alternativa de organização entre lojistas de ambientes de menor porte.
Carolina Borges, analista de fundos imobiliários da EQI Research, enxerga muitas oportunidades de crescimento para esses empreendimentos por oferecerem comodidade e facilidade de acesso ao consumidor. “Os strip malls cresceram muito durante a pandemia de covid-19, pela busca de locais abertos e sem aglomeração”, diz Borges. Essa expansão, afirma, tem atraído grandes varejistas regionais, como supermercados. “O strip mall concorre com as lojas de bairro, mas não vai concorrer com shoppings nem outlets”, diz.
Na análise de Marcelo Reis, sócio da MR16, consultoria em varejo/vendas, há espaço para a expansão de negócios envolvendo shoppings centers, strip malls e outlets, que ainda são poucos no Brasil – há menos de 20 unidades no país, concentrados em cidades satélites. “Os outlets estão começando a expandir. Nesse caso, não vejo o crescimento tão acelerado, por sofrer uma investida muito grande do digital, a grande concorrência deles”, diz.
Fonte: Valor Econômico