Não é raro ver no segmento de alimentação alguns modismos que surgem, invadem o mercado e depois morrem tão rápido quanto nascem. Foi assim com os cupcakes, as casas de frozen yogurt e as famigeradas paletas mexicanas. Neste último, talvez o negócio que mais tenha feito barulho no mercado, o fenômeno não poupou ninguém – nem mesmo a Los Paleteros, empresa responsável por trazer o produto ao mercado brasileiro.
Fundada em 2012 pelos sócios Gean Chu, de Curitiba, e Gilberto Verona, de Dionísio Cerqueira (SC), a empresa viveu seu auge entre 2014 e 2015. À época, eram mais de 2 milhões de paletas produzidas por mês, 102 franquias espalhadas pelo país e um faturamento que superava os R$ 6 milhões. Em 2017, menos de dois anos depois, passou por seu pior momento: diminuiu o número de unidades para 22 e boa parte da capacidade produtiva de sua fábrica parou.
Em entrevista exclusiva ao site de PEGN, Gean Chu fala sobre os últimos anos do negócio – e lista o que considera crucial para o momento ruim enfrentado pela empresa. Também explica sobre a reformulação do negócio, que deixou de lado o modelo de expansão por franquias e agora aposta nos pontos de venda: são mais de 1 mil freezers da Los Paleteros em comércios tradicionais – o que possibilitou ao negócio uma humilde retomada, alcançando os 23% de crescimento em 2018. E o próximo passo: a internacionalização.
Crise
Segundo o empreendedor, o pior momento da empresa começou em 2015, quando a paleta mexicana se tornou febre e surgiram negócios similares ao da Los Paleteros. “O movimento de cópia do conceito da marca foi o mais difícil e cruel. Isso fez com que a nossa empresa sofresse muito.” De acordo com Chu, foram mais de duas mil paleterias criadas neste período.
“Só que o nosso conceito começou a ser deturpado por essas cópias. O conceito de paleta de qualidade, com frutas de verdade e ingredientes importados se perdeu. Sobrou gente cobrando caro por um produto ruim. Isso deu uma bagunçada no mercado. Criou uma confusão generalizada”, diz.
Além da competividade, fatores como a crise econômica e o aumento no aluguel das lojas em shoppings foram cruciais para a crise da Los Paleteros. “Vimos shoppings centers aumentando o aluguel dos quiosques só para que eles fossem para as lojas. Os valores estavam incompatíveis com a realidade do faturamento desses negócios.”
Para Chu, o momento difícil da empresa teve mais a ver com questões externas do que internas. “Em termos de gestão, nós fizemos de tudo. Investimos muito no controle de qualidade para nos destacarmos no mercado”, diz. No entanto, percebeu que a adaptação tinha que acontecer no modelo de venda e não no produto.
“Com a crise econômica, o que aconteceu é que a paleta não deixou de ser desejada, ela só não valia mais a viagem até o shopping, o preço do estacionamento”, diz. Para isso, remodelaram o negócio.
O bom e velho freezer
Em vez de seguir investindo na expansão pelo modelo de lojas nas franquias, a Los Paleteros migrou de vez para os quiosques. E foi além: criou novos pontos de vendas, instalando freezers da empresa em comércios tradicionais, como mercados e restaurantes. Ao todo, são 26 unidades franqueadas e mais de mil pontos de vendas espalhados em todo o país.
Outra mudança da empresa foi a modernização do parque fabril, o que permitiu, segundo o empreendedor, não alterar o preço das paletas. As reformas também permitiram que a rede utilizasse sua única fábrica – com potencial de produzir 4 milhões de paletas por mês – para a terceirização na produção de sorvetes de outras empresas.
Internacionalização
Com o mercado brasileiro esfriando, uma saída encontrada pelos empreendedores foi estruturar um modelo de exportação. Sem poder contar com os mercados norte-americano e europeu, que exige certificações para produtos derivados do leite que o Brasil não tem, a empresa encontrou em Israel uma boa alternativa.
Segundo Chu, a operação deve começar ainda no primeiro semestre. Para validar o negócio, realizaram três testes no país. Nesse processo, a empresa percebeu que teria que adaptar algumas receitas do cardápio. “Mudamos alguns fornecedores para atender ao gosto dos israelenses.”
Em Israel, a empresa vai operar no modelo de freezer em ponto de venda. As vendas devem começar ainda no primeiro semestre e a expectativa é que ao menos 300 mil paletas sejam vendidas até o fim do ano.
Sobre o medo de acontecer em Israel o que aconteceu no Brasil, Chu diz que “depois de todo esse aperto sempre dá medo.” “Mas em Israel vemos uma cultura diferente, sem essa coisa de fazer uma cópia ruim, que prejudica todo o mercado.”
Fonte: PEGN