A Amazon, gigante americana do comércio eletrônico, que, desde janeiro do ano passado, vem investindo pesado na venda online de uma infinidade de produtos do seu próprio estoque – mais de 120 mil, que vão de fraldas a itens para pets, além de livros –, aponta a dificuldade de contratação rápida de trabalhadores como um grande obstáculo ao avanço da operação no País.
“Temos mais de 200 posições em aberto”, disse ao Estado o presidente da Amazon no Brasil, Alex Szapiro. A afirmação do executivo ganha relevância no momento em que há no País quase 12 milhões de desempregados. A empresa emprega hoje no Brasil, entre contratados diretos e indiretos, mais de 2 mil pessoas.
A maioria das vagas oferecidas no site da empresa é para funções corriqueiras, como vendas, publicidade, gerenciamento de contas e compras, entre outras. Szapiro explicou que a dificuldade é encontrar mão de obra qualificada que preencha o perfil exigido pela Amazon, como falar inglês, por exemplo e, acima de tudo, ter foco no cliente, a principal obsessão da varejista online. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Como está o desempenho da Amazon no Brasil depois de a empresa ter lançado, em janeiro do ano passado, a venda de produtos do seu próprio estoque e, em setembro, o Prime (serviço de streaming que dá direto a frete grátis)?
Não revelo números de vendas, mas eles estão acima das expectativas, superaram muito as metas. O Brasil foi o País na história da Amazon que mais cresceu nos primeiros seis meses na quantidade de assinantes do serviço Prime.
Que diferencial fez com que o Brasil tivesse um crescimento mais rápido do que outros países?
O valor. Quando o Prime foi lançado nos Estados Unidos, 15 anos atrás, o serviço não tinha também todos esses benefícios. Os benefícios foram se desenvolvendo ao longo do tempo. Primeiro foi a entrega gratuita da compra de produtos. Mais para frente veio o vídeo. Depois, veio música. Cada país tem suas nuances e preços diferentes. Não lançamos o Prime olhando outros países, olhamos para o Brasil. O objetivo foi ter um serviço completo por um preço extremamente acessível e que tivesse um efeito “uau” no cliente. Esse pacote foi adequado a um preço de R$ 9,90.
A empresa pretende aumentar esse preço?
Não temos planos. Não se trata de um valor promocional.
Há planos de agregar novas funcionalidades ao Prime?
Sempre.
O desempenho mais lento da economia brasileira influencia os planos da empresa?
Não mudamos decisões com base em questões macroeconômicas. O Brasil é cíclico. Se você toma uma decisão baseada em questão macroeconômica, certamente você está tomando uma decisão de curto prazo. Quando você traça uma linha entre os altos e baixos, geralmente essa linha é positiva. Trabalhamos com esse cenário. Outro ponto: se eu gastar tempo olhando para a concorrência, eu não faço o meu serviço direito. Isso faz parte da cultura da Amazon. No momento em que eu gasto energia olhando o concorrente, deixo de pensar em coisas diferentes para o meu negócio. Um exemplo foi o Prime. Quinze anos atrás, quando foi lançado, tinha gente dentro da Amazon que dizia que era uma loucura. Hoje o Prime é um grande pilar do nosso crescimento.
Então, qual o grande obstáculo para o avanço da Amazon no País?
Contratar mais rápido. Temos hoje mais de 200 posições em aberto. A dificuldade é encontrar mão de obra qualificada que preencha o nosso perfil.
As vagas não preenchidas são para funções muito específicas?
Não. São para funções de marketing, vendas, comercial, fiscal, por exemplo.
É uma contradição em um País hoje com quase 12 milhões de desempregados uma empresa apontar a falta de mão de obra como um grande problema?
Não acho que seja uma contradição. Nossa barra para contratação é muito alta. Para trabalhar na Amazon é preciso falar inglês, ter o perfil da empresa, entre outros quesitos. O nosso princípio “número um” é a obsessão pelo cliente.
Como é o processo de admissão na Amazon?
Quem contrata na Amazon não é o departamento de RH (Recursos Humanos), mas o gestor da área com a participação, como entrevistadores, de quatro a seis colegas que são de outras áreas. Eles fazem entrevistas individuais com os candidatos, da mesma maneira que o gestor, e, ao final, elaboram um parecer justificando a contratação ou não.
Qual o peso de ter experiência no varejo para ser contratado?
Não contratamos necessariamente pessoas com experiência em varejo, procuramos bons profissionais, com evidências de aderência com os princípios liderança da Amazon. Aprender e ser curioso é um dos 14 princípios.
Quando a Amazon vai vender alimentos frescos no País?
Não falamos de planos futuros. Já vendemos café, bebidas, produtos para pets. Abrimos a área automotiva. O nosso desafio continua sendo o do primeiro dia: trazer mais fornecedores, ter mais produtos em inventário. Quero vender tudo o que todo mundo quer comprar.
Como a Amazon vê os concorrentes do comércio online?
Não devemos julgar os concorrentes. Ficamos felizes ao ver que a experiência do varejo brasileiro está melhorando. Quando começamos no Brasil, tinha muita gente que prometia um prazo “x” e não estava nem aí se não cumprisse.
E a infraestrutura do País, é um problema?
A Amazon opera em cerca de 19 países. Vendemos na Índia, que não tem CEP (Código de Endereçamento Postal). Nos Emirados Árabes, também têm problema de CEP. Vendemos em países em que o produto é pago em dinheiro na hora em que é entregue. Vendemos na Austrália, país tão continental quanto o Brasil e com problemas de infraestrutura.
Então, o Brasil não é o pior?
Não é uma questão de comparar se é o pior ou o melhor. O Brasil tem um desafio tributário. Não acho que o Brasil tenha um desafio logístico. Qual é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para aquele Estado, para determinado produto que tem um tratamento tributário? O Brasil tem a questão da continentalidade. Certamente haverá áreas para as quais entregar as vendas em dois dias ou menos será um desafio. É preciso construir uma malha de centros de distribuição no País para atingir esse objetivo.
Existe uma meta de entregar as compras no prazo de dois dias no País todo?
Não abrimos essa meta, mas certamente ela é agressiva. Quando iniciamos a operação da venda de produtos próprios, um ano atrás, nós tínhamos um centro de distribuição. Hoje, temos quatro. Em um ano, abrimos três centros de distribuição, incluindo o primeiro fora de São Paulo, que é o de Recife.
Para este ano há mais centros de distribuição previstos?
Não podemos revelar. Certamente o nosso objetivo é entregar rápido.
Fonte: Estadão