Por Raquel Brandão | Passando a régua numa das linhas de negócio que mais pesavam sobre o lucro da companhia, a Natura &Co anunciou hoje a venda da The Body Shop para o fundo europeu de private equity Aurelius por £ 207 milhões, menos de um quarto dos £ 880 milhões pagos pela companhia em 2017. O valor pode ser acrescido de mais £ 90 milhões, a depender de algumas cláusulas de performance.
Apesar de ser uma fração paga na aquisição, o valor ficou levemente acima das contas do mercado, que estimavam que o negócio deveria sair por algo entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão.
Às 13h15, a ação da Natura subia 3,45%, para R$ 14,40 – refletindo a expectativa de que agora com uma posição confortável de caixa e sem a distração do negócio deficitário, a Natura possa finalmente colocar suas energias na integração da marca que deu origem ao grupo com as operações da Avon na América Latina.
“Ficou a lição de que não conhecemos varejo o suficiente mundo afora para fazer as mudanças necessárias. O Aurelius tem essa experiência, mais expertise. E eles vão até levar adiante algumas das coisas que pensamos para a The Body Shop”, disse hoje o CEO Fabio Barbosa a jornalistas.
Nascida nas vendas diretas, a Natura fez seu maior investimento no varejo físico com a marca britânica – que era irmã de “alma”, com os mesmos valores de sustentabilidade da empresa brasileira, mas trazia um imenso desafio de execução. Além da marca precisar de um refresh, a pandemia acabou derrubando de vez o fluxo nas lojas, que nunca mais voltou ao mesmo nível dos anos anteriores.
O valor a ser pago excluindo o earn-out avalia a TBS em 3X EV/Ebitda considerando a projeção de resultado de 2023. Se considerado o earn-out, esse múltiplo chega a 4X – um valor substancial, na avaliação de Barbosa.
O negócio vinha desafiando a gestão da Natura &Co. No terceiro trimestre, divulgado na noite de segunda-feira, a receita de TBS caiu 13,2%. Os processos de melhoria na operação avançaram, mas ainda foram insuficientes para elevar o Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que recuou 29,5%, para R$ 85,2 milhões.
O reforço de caixa com a venda, que deve chegar até o fim do ano, vem num momento em que a empresa já colocou a cabeça para fora d’água após receber os US$ 2,5 bilhões da venda da Aesop para a L’Oréal.
Com esses recursos, a companhia antecipou o pagamento de mais da metade de suas dívidas, hoje em R$ 6,19 bilhões, com a relação entre dívida total e Ebitda passando de 4,35x para 3,21x. A empresa já terminou o trimestre com um caixa líquido de R$ 696,6 milhões.
Próximos passos
Com caixa reforçado, o foco está nas operações que ficam, e em que a empresa entende ter “vantagens competitivas”, explica Barbosa. “Teremos uma disciplina de capital muito grande, mas vamos fazer os investimentos necessários”, diz ele.
Na América Latina, seu principal mercado, a companhia segue com a integração da força de venda de Avon e Natura na Colômbia, Peru e Brasil – cujas tendências dos resultados iniciais da segunda onda foram “encorajadoras”, nas palavras da equipe do Itaú BBA.
No Brasil, o número médio de consultoras foi de 2 milhões, uma redução de 4,1%, mas a empresa argumenta que a maior parte desta redução veio das consultoras menos produtivas. A receita da marca Natura cresceu 10,5% e da Avon, caiu 24%, mas a Natura &Co afirma que já há melhorias nos últimos meses. No total, a receita da Natura &Co Latam cresceu 2,5% em moeda constante.
Segundo o CEO, a Avon Internacional deve ser um dos focos de investimento, em especial na marca. A operação ainda reportou queda de 2,3% na receita líquida, mas melhorou a margem bruta em 4,9 pontos percentuais, para 64,5%. O Ebitda ajustado dobrou, para R$ 117,1 milhões, com margem a 8%.
“Na Avon Internacional estamos buscando maximizar o footprint, a presença em vários mercados. Em mercados menos lucrativos passa a ser mais com distribuição e nos mercados com mais potencial, estamos reforçando a marca”, diz Barbosa, destacando operações como da Turquia e África do Sul.
“Conseguimos uma boa performance porque as margens cresceram bastante, mas vendas sofreram um pouco porque limpamos o portfólio.” Após um tombo de mais de 50% no ano passado, em 2023, a ação da Natura &Co acumula alta de 38%, com a empresa avaliada em R$ 20,2 bilhões.
Fonte: Exame