14/10/2015 às 05h00
Por Ivone Santana | De São Paulo
Operadoras de telecomunicações começam a olhar com atenção o investimento em produção própria de energia eólica e solar. Um companhia de grande porte do setor chega a gastar cerca de R$ 1 bilhão por ano em energia. A Algar Telecom, de Uberlândia (MG), vem fomentando a formação de um consórcio de empresas, liderado pela Alsol Energias Renováveis, da qual é sócia, para investir na implantação de “fazendas” de geração de energia solar. Paralelamente, a Oi desenvolve seu próprio projeto para implantar três “fazendas”, a primeira em 2016, conforme antecipou o Valor PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor, no dia 8. No bloco da Alsol estão investidores, fundos de pensão, operadoras, fornecedores e fabricantes. As teles entram como consumidoras e investidoras. Fundada em 2011, a Alsol começou a receber recursos do Grupo Algar em 2014. E neste ano, devido ao fortalecimento do dólar, o que encarece a compra de equipamentos, o projeto das “fazendas” está caminhando mais devagar. A crise energética foi o grande motor que levou o setor de telecomunicações a buscar alternativas mais baratas. O aumento das tarifas e o elevado consumo em redes de telefonia, principalmente celular, e em centros de dados aceleraram os projetos. O desafio da Alsol é atender o consumo residencial e de grandes empresas por meio de projetos com prazo para 2016 e 2017, segundo Luis Antônio Andrade Lima, diretor de operações e tecnologia da Algar. A Oi está próxima de fechar parceria com um produtor de energia para implantar “fazendas” de energia solar. Com a autoprodução em três “fazendas”, a empresa poderá ter uma economia real de R$ 37 milhões por ano, disse ao Valor Marco Schroeder, diretor administrativo e financeiro da Oi. Após testar a primeira unidade, prevista para 2016, Schroeder pretende ampliar o projeto. A empresa não deverá deter mais que 50% da energia gerada. O restante ficará a cargo do parceiro, que poderá admitir outros investidores e vender a produção excedente. O investimento médio em uma “fazenda” com capacidade para gerar 6 megawatts de energia/mês é estimado em R$ 12 milhões. Como o consumo anual da Oi é de 1,7 teragigawatts, a empresa produziria 1% de suas necessidades. É pouco, mas apenas o começo, disse Schroeder. No ano passado, a Oi gastou R$ 500 milhões com energia. Em 2015, a despesa subiu para R$ 800 milhões, montante equivalente ao consumo de todas as residências em quatro cidades do porte de Niterói (RJ), calcula Schroeder. O aumento em torno de 65% nas tarifas em 2015 desequilibrou a economia de 6% no consumo obtida pela companhia. Os gastos com energia equivalem a cerca de 4% dos custos totais da empresa, índice que Schroeder considera relevante. A maior parte do investimento nas “fazendas” deverá ser assumida pelo parceiro da Oi. Os locais para implantação serão próximos a instalações da operadora que registram consumo elevado, onde for obtido o melhor benefício fiscal com redução de ICMS e houver sol por mais tempo durante o ano. A Algar começou a trabalhar em projetos de energia fotovoltaica solar em 2013. Essa tecnologia usa painéis fotovoltaicos grandes placas que contêm células de silício capazes de converter a luz solar em energia elétrica. Já testou a tecnologia em Uberlândia e em Araguari, ambas em Minas, e agora começa a expandir o sistema. Os gastos com energia representam 3,5% dos custos totais da Algar Telecom. Em 2014, esses custos aumentaram 20% comparado a 2013, e em 2015, 60%. A Algar tem um acordo com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para lançar na rede da concessionária a energia não consumida, pagando um pedágio por isso. A implantação de uma “fazenda” de energia requer a disponibilidade de grandes áreas, em torno de 100 alqueires, licença ambiental, painéis solares, sol na maior parte do ano na região e investimentos elevados. Enquanto as “fazendas” estão em formação, as operadoras recorrem a outras alternativas para reduzir os custos de energia, como o mercado livre. Aqueles que atendam aos requisitos da legislação e tenham demanda contratada acima de 3 megawatts (MW) têm perfil de consumidor livre. As demandas de 0,5 a 3 MW são especiais. Quando vai para o mercado livre, o cliente deixa de comprar da distribuidora local, mas continua a pagar o custo da distribuição da energia. No mercado livre, os preços da energia são negociados entre as partes interessadas, mas a distribuidora só é obrigada a receber o consumidor de volta ao mercado cativo se for avisada cinco anos antes. Por isso, a decisão tem que ser bem planejada, disse ao Valor César Pereira, gerenteexecutivo de atendimento ao mercado da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que cuida da compra e venda de energia no atacado. A distribuidora precisa desse prazo porque não gera energia& 894; para atender à sua região, precisa comprála em leilões, e o faz com base na demanda prevista. A economia que as empresas conseguem na conta de luz ao entrar no mercado livre é superior a 10% atualmente ante até 20% em 2009, estima a CCEE. O consumo do setor de telecomunicações cresceu no mercado livre, passando de 97,34 MW em 2013 para 101,33 MW em 2014 e 107,52 de janeiro a junho deste ano, segundo levantamento da CCEE. O aumento possivelmente é explicado pela adição de unidades consumidoras, disse Pereira. São os relógios de luz que a operadora vai adicionando ao aumentar sua rede. Estão nesse mercado a Telefônica e Telefônica Data& 894; Telemar, Brasil Telecom e BrT Multimidia (Oi), TIM, CTBC (Algar), BT Latam e TV Globo. Ao mesmo tempo, as operadoras têm realizado ações para reduzir a conta de energia. De modo geral, estão trocando luminárias por lâmpadas LED e sistemas geradores de energia nas torres por outros mais eficientes& 894; implantando sensores de presença e software para ligar e desligar equipamentos sem uso momentâneo, otimizando centros de dados para redução do consumo por m2 , e adotando centrais de operação automatizadas. Na Vivo/GVT, os custos de energia equivalem a quase 3% da receita, chegando a R$ 570 milhões em 2014 e previsão de R$ 750 milhões neste ano. Os reajustes formais da energia e a implementação das bandeiras tarifárias pesaram na conta das duas empresas, disse Bruno Gentil, vicepresidente de Finanças da Vivo para a área de energia. Segundo o vicepresidente, de modo geral o consumo aumenta quando a empresa lança centrais de telefonia, site de antenas, enfim, quando obtém maior participação de mercado e expansão geográfica. “Não é um aumento de consumo aleatório”, afirmou. Em termos de matriz energética da companhia em consumo limpo, a Vivo tem um compromisso com a controladora espanhola de reduzir em 20%, até 2020, a emissão de CO2 gás de efeito estufa , disse Gentil. Sobre a “fazenda” solar, o executivo reconheceu que é uma alternativa e que todos estão estudando, mas sem revelar detalhes. O Valor apurou que os custos de energia cresceram 100% na Nextel neste ano. Em abril, a empresa estudou a compra no atacado, mas devido à crise hídrica, o plano ficou inviável financeiramente. Há alguns meses, a empresa começou a testar exaustores eólicos em oito sites (instalações em que ficam os equipamentos de rede, como torres e estações radiobase). A refrigeração elétrica foi desligada e os exaustores climatizaram o ambiente, mesmo quando submetido à temperatura de 38 graus. O plano da Nextel é ampliar a energia eólica para 2.183 sites no começo de 2016, se os testes continuarem a dar bons resultados. Os exaustores não podem ser instalados em sites de maior capacidade porque a concentração de equipamentos exige refrigeração convencional. Para esses ambientes, num total de 4 mil, a Nextel recorreu a equipamentos de automação que ligam e desligam o sistema de refrigeração elétrica. Além disso, aumentou o limite de temperatura de 25 para 28 graus. Com isso, obteve economia de 8% por localidade, sem pôr os equipamentos em risco. Procuradas pelo Valor, a TIM preferiu não se pronunciar e a América Móvil, dona da Claro, Net e Embratel, não respondeu ao pedido de entrevista.
Valor Econômico – SP