19/02/2015 05:00
Por Christopher Condon e Jeff Kearns
Os formuladores da política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, julgaram que os riscos que a economia americana enfrenta justificam a manutenção das taxas de juros próximas de zero por mais tempo. É o que revelam as minutas da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed, o Fomc, divulgadas ontem em Washington. “Muitos participantes indicaram que suas avaliações sobre o balanço dos riscos associado ao timing do início da normalização da política os deixaram propensos a manter a taxa dos fed funds em seu limite inferior efetivo por um período mais longo”, relata um registro da reunião de 27 e 28 de janeiro. O comitê considerou que os riscos estão “quase equilibrados”, mas apontou para a valorização do dólar, os problemas na Grécia e na Ucrânia e o lento crescimento dos salários como motivos que impediram o primeiro aumento das taxas de juros desde 2006. O Fomc disse que após sua última reunião, “poderá ser paciente” para decidir quando vai elevar o juro referencial, mesmo tendo já descrito o mercado de trabalho como “forte”. Um relatório divulgado na semana seguinte mostrou que as contratações aumentaram mais que o previsto em janeiro, coroando o maior ganho de três meses em 17 anos. Os membros do Fomc discutiram longamente sua estratégia de comunicação.
“Muitos participantes classificaram o abandono da palavra ‘paciente’ no comunicado, não importando sua utilização ou não, com algo que pode provocar uma mudança nas expectativas do mercado para o início da solidificação da política [monetária] em um intervalo de datas estreito demais”, afirmam as minutas. “Alguns demonstraram preocupação com uma reação exagerada dos mercados financeiros.” A maioria dos membros do Fomc espera aumentar as taxas de juros este ano e avalia as notícias encorajadoras sobre o crescimento da economia e do mercado de trabalho contra uma inflação baixa demais, para julgar o momento certo da alta. A ata de janeiro recebeu apoio unânime dos membros votantes, mas as minutas mostram pontos de vista divergentes sobre o momento apropriado para a primeira alta de juros. “Alguns observaram que, mesmo levando esses riscos em consideração, a taxa dos federal funds já vem sendo mantida em seu limite mais baixo por um período de tempo suficiente, e que pode ser apropriado iniciar a solidificação da política no curto prazo”, mostram as minutas. O argumento em favor da alta dos juros mais cedo vem sendo reforçado pela força inesperada do mercado de trabalho. As folhas salariais das atividades não agrícolas aumentaram em mais de 1 milhão de empregos de novembro a janeiro. A economia americana cresceu 2,4% em 2014, o maior incremento em quatro anos.Ao mesmo tempo, uma queda nos preços do petróleo vem mantendo a inflação sob controle.
Os preços ao consumidor, conforme medidos pelo cálculo preferido do Fed, subiram 0,7% em dezembro em comparação ao mesmo período de 2013, e a taxa vem permanecendo abaixo da meta do BC, de 2%, desde março de 2012. A presidente do Fed, Janet Yellen, já disse que o Fomc vai querer estar “razoavelmente confiante”, antes de subir os juros, de que a inflação vai se encaminhar para os 2% ao longo do tempo. “Vários participantes viram a contínua fraqueza do núcleo da inflação como uma preocupação”, afirmam as minutas, que também notaram que “o crescimento morno dos salários nominais, se continuado, poderá se tornar um fator restritivo significativo para os gastos das famílias”. Os membros do Fomc reconheceram que as expectativas das medidas de inflação baseadas no declinaram nos últimos meses. “Vários participantes enfatizaram que terão de confirmar um aumento na compensação das medidas de inflação baseadas no mercado, ou evidências de que a continuidade das leituras baixas dessas medidas não constitui motivo de preocupação”, continuam as minutas. Uma medida das expectativas de inflação em cinco anos, a começar de agora, baseada nos títulos do Tesouro americano, caiu para até 1,75% no mês passado, segundo dados compilados pelo Fed. Os planejadores econômicos também discutiram os riscos para a economia mundial. Em sua última declaração, eles acrescentaram “os acontecimentos internacionais” à lista dos problemas que levam em conta ao determinar o momento da alta dos juros, além do nível de emprego, a inflação e os mercados financeiros.
As autoridades do Fed concluíram que uma série de acontecimentos “provavelmente diminuiu os riscos ao crescimento dos EUA”, incluindo a maior acomodação dos bancos centrais estrangeiros. Elas disseram que o petróleo mais barato está “potencialmente exercendo um efeito positivo mais forte o que esperado” sobre o crescimento das economias mundial e dos EUA. As autoridades do Fed também identificaram potenciais riscos. Elas acreditam que o dólar em alta “será uma fonte persistente de limitação” das exportações, e uns poucos participantes disseram que a moeda americana poderá se valorizar mais. A desaceleração da economia da China foi vista como “um fator limitador da expansão econômica em vários países”, segundo mostram as minutas.
Os membros do Fomc também citaram a continuidade dos riscos decorrentes da “pressão deflacionária global”, as tensões no Oriente Médio e na Ucrânia e “as incertezas financeiras na Grécia”. A economia dos EUA vem ganhando força enquanto outras grandes economias enfrentam problemas. O BCE, preocupado com a deflação, anunciou no mês passado um plano para a compra de 1,1 trilhão em bônus.
Valor Econômico – SP