26/01/2015 – 05:00
Por Adriana Mattos e Ana Paula Ragazzi
A International Meal Company (IMC), dona das redes Viena e Frango Assado, enfrenta fase difícil no país. A receita cresceu 27% no ano passado, até setembro, mas investidores querem resultados melhores – o nível de rentabilidade está aquém do esperado pela própria empresa, pressionada por despesas maiores. Ganhos de sinergia entre seus diferentes formatos de restaurantes ainda não estão sendo capturados numa escala que dilua mais os custos, e a companhia enfrenta dificuldades para integrar seus negócios.
Lojas do Viena devem ser fechadas em 2015 para serem convertidas em modelos mais rentáveis, como Red Lobster e Olive Garden, segundo informações que circulam no mercado. Há, pelo menos, três conversões previstas. Executivos já foram transferidos entre áreas da empresa para dar novo ritmo para alguns negócios com resultados mais fracos, como em shopping centers, apurou o Valor.
Há um esforço interno, com medidas sendo tomadas na tentativa de mostrar melhores números nos próximos trimestres, mas ainda não está claro para o mercado que resultados devem aparecer a curto prazo. Controlada pelos fundos Advent, com 39,7% das ações ordinárias da IMC, a companhia opera 410 lojas no país, de redes como Viena, Frango Assado, Red Lobster e Margaritaville (rede americana com quem assinou parceria estratégica em 2013).
Investidores se mostram cansados dos discursos dos administradores e, para eles, apurou o Valor, o mercado só vai retomar a confiança do negócio quando de fato entregar resultados. “Agora tem de ser menos operações de fusões e aquisições e mais resultado”, resumiu um operador.
Esse recado ficou claro depois da divulgação dos resultados do terceiro trimestre da empresa, em 13 de novembro passado. Até aquele momento, as ações da IMC acumulavam queda de 4,6% no ano. Depois dos números, não pararam mais de cair e fecharam 2014 com desvalorização de 34%. As ações estão sendo negociadas na casa de R$ 9, o menor valor desde a oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês), em 2011. Em 2015, o papel já perdeu 24% do seu valor.
Na divulgação de resultados do terceiro trimestre, analistas do Itaú BBA se diziam preocupados com as dificuldades da IMC de controlar o crescimento de suas despesas, os custos com empregados e com alugueis, que tiveram aumento significativo (83% até setembro), acima da evolução da receita (24%). Despesas operacionais e administrativas subiram 31% até setembro. A avaliação do banco é de que os resultados foram afetados pelo acordo com a Margaritaville. O contrato, de 2013, envolveu a aquisição de oito restaurantes Margaritavile, nos EUA, e da participação de 50% sobre os direitos de uma unidade em Orlando.
Para fechar este acordo, a IMC precisou se alavancar, aumentando sua posição de dívida, de 1,8 vezes a relação dívida líquida e Ebitda antes do acordo, em 2013, para 2,8 vezes em setembro. “Financiamos Margaritaville via dívida, e a alavancagem do curto prazo já era esperada por todos”, escreveu, em nota ao Valor, Neil Amereno, diretor de relações com investidores.
Em uma conversa com um analista no fim de 2014, sobre o cenário atual da rede, para que definisse suas prioridades em 2015, o presidente da IMC, Javier Gavilán, disse é preciso melhorar a rentabilidade operacional, aprofundar controle de custos em alimentação e aumentar sinergia entre redes e os países onde opera (Porto Rico, República Dominicana, Panamá, na Colômbia, México e EUA). A empresa teria 20 projetos “de redução de gastos e de despesas operacionais”, disse ele ao analista.
Também há preocupação com as reformas feitas nas unidades do aeroporto de Guarulhos no ano passado, que afetaram as vendas do terceiro trimestre.
Atendendo a pedidos do mercado, a IMC não mais apresentará Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado em seus resultados. A linha de “itens especiais” (que considera despesas de prospecção e aquisição), que já foram a zero no segundo e no terceiro trimestres, devem desaparecer nos próximos relatórios, afirmou a empresa a investidores. Isso faz parte do plano de frear novas compras e acelerar ajustes internos.
Perguntado sobre a dificuldade de integrar as redes do grupo, Amereno diz que “integrar negócios gera custos no primeiro momento para a obtenção de resultados futuros”. Completou: “Já demonstramos algumas diluições nos nossos resultados de custos relacionados a matéria prima e ‘payroll [folha de pagamentos]'”. Segundo ele, “2014 foi um ano de novos locais (terminais aeroportuários e novos mercados nos EUA), que têm um processo de maturação e isso acaba impactando as margens no curto prazo. Em 2015, com uma base comparativa mais estável, estamos otimistas com a melhoria da rentabilidade”.
Valor Econômico – SP