Tudo começou com Rozangela Alves Justino, uma psicóloga que teve seu registro profissional cassado em 2009 por oferecer “terapias para curar a homossexualidade”, a tal da “cura gay”. A cassação teve como referência uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que, em outras palavras, determina que os psicólogos não podem exercer qualquer ação que “favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”.
A ideia do Conselho, ao contrário, é que os profissionais sejam agentes de promoção a reflexão sobre o preconceito. Contrariada, Rozangela entrou com ação para, dentre outras coisas, derrubar essas regras do Conselho.
O caso teve o seu desfecho no último dia 15, quando o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, concedeu liminar que “libera” esse tipo de “terapia de reversão sexual”. Embora a ata da liminar não tenha citado de forma literal a homossexualidade como doença, foi claro em relação em defender a alteração da resolução do Conselho.
E se está liberada atendimentos para “(re)orientação sexual”, como diz o texto, de forma indireta, essa liberação indica a homossexualidade como doença.
E estava dada a polêmica.
Desde então, as redes sociais brasileiras não pararam. Memes, mensagens e vídeos de protesto e ironia sobre a decisão vieram de todos os lados. E não foram apenas artistas e pessoas comuns que se posicionaram.
O que as marcas dizem
NOVAREJO conversou com diversas marcas sobre o assunto para entender como elas se posicionam em relação ao tema. Por que? Simples: o tema da diversidade de gênero é (ainda bem!) pauta no mundo corporativo, demanda forte de uma geração de consumidores que exige transparência e é intolerante a preconceitos de diversos níveis.
Marcas descoladas e muito ligadas ao público jovem, a Imaginarium e a Reserva se posicionaram publicamente em suas páginas oficiais na internet. À NOVAREJO, a Imaginarium afirmou que “acredita que a diversidade, o respeito e a liberdade são as chaves para um mundo melhor. O amor não precisa de cura. Lutemos, cada dia mais, por uma sociedade livre de preconceitos.”
A companhia relembrou, ontem (19), em sua página no Facebook, post feito para o dia da Luta contra a Homofobia em 2015.
Já a Reserva disse à redação que a marca “é feita por e para pessoas de todas as crenças, raças e sexos. O amor e o respeito é uma obrigação de todos e a Reserva se preocupa em fazer a sua parte porque é o certo a ser feito. Assumimos a nossa essência, sem medo dos julgamentos.”
Sagaz, a marca de moda carioca, além de se posicionar nas redes, foi rápida ao lançar camisetas com afirmações a favor da diversidade, como “O Amor não é Doença. É cura”:
A marca de cosméticos Avon já colocou o tema em campanhas de marketing. A mais recente, inclusive, é estrelada pelo fenômeno transsexual Pabllo Vitar. A companhia disse que celebra e valoriza a diversidade, “orientando nossas ações para a construção de um mundo inclusivo e com oportunidades para todos, independentemente de gênero, sexo, raça, religião ou qualquer outro fator”. A empresa também se posicionou publicamente.
O Boticário, que teve um de seus comerciais com tema sobre diversidade julgados no Conar, também se fez presente e se manifestou:
Debate amplo
Até mesmo segmentos tradicionais, como o supermercadista, se manifestaram. Ainda mais nestes segmentos, a diversidade é tema debatido, principalmente entre o público interno. Além de apoiar diversas iniciativas externas sobre o tema, o Carrefour conta com a Plataforma Valorização da Diversidade, desde 2013, com o intuito de promover a inclusão e valorizar a diversidade junto a seus colaboradores, clientes e parceiros.
A partir dessa iniciativa, são realizadas palestras e fóruns e há ainda materiais para uso interno, como o Código de Ética do Carrefour e a cartilha sobre o tema. “Trata-se de um material de uso interno que tem o objetivo de orientar as lideranças da companhia a encontrar a melhor maneira de lidar com a diversidade no dia a dia. A cartilha reúne o que é a diversidade e as boas práticas e valores da companhia, trazendo ainda orientações sobre como solucionar possíveis situações de conflito em cada um dos recortes de diversidade”, disse a empresa à NOVAREJO.
Além disso, afirmou, a companhia conta com um Comitê de Valorização da Diversidade que se reúne regularmente na empresa a fim de monitorar a demografia interna, acompanhar e aprimorar os resultados dessas ações e garantir que o tema diversidade seja transversal em toda a companhia.
No mesmo sentido, o Grupo GPA, também é conhecido por tratar do tema. Nesta semana, a companhia aderiu ao Fórum de Empresas e Direito LGBT. O presidente do GPA, Ronaldo Iabrudi, assinou a carta de adesão “10 Compromissos da Empresa com os Direitos LGBT”, com o objetivo de garantir a igualdade de tratamento entre todos os colaboradores, seja qual for a sua orientação sexual, identidade sexual ou gênero, além de capacitá-los sobre os diversos aspectos relacionados a este público.
“O que estamos propondo no GPA é criar oportunidades. Nosso desafio é muito maior que a assinatura do pacto, é criar um ambiente onde nossos colaboradores possam se expressar. Temos um quadro de mais de 130 mil colaboradores, e mais de 10 mil fornecedores. Por isso, temos um enorme potencial para influenciar positivamente”, disse, em nota, Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA.
“Entre os colaboradores do Grupo estão pessoas de diferentes idades, gêneros, raças, orientação sexual e tipos de deficiência. Para nós, esta diversidade é um dos ativos mais importantes da Companhia. Um ambiente diverso potencializa competências e possibilita visões diferentes, que contribuem para o desenvolvimento dos nossos colaboradores e para o crescimento e expansão dos nossos negócios”, enfatizou, em nota, Laura Pires, Diretora de Sustentabilidade do GPA.
Tema ainda pouco universal
NOVAREJO contatou mais de 20 companhias, de diferentes segmentos do varejo, para entender o que elas pensam sobre diversidade e o que estão fazendo em torno do tema, diante da polêmica da “cura gay”. Como é possível verificar, contudo, poucas responderam ou se manifestaram publicamente sobre isso – o que mostra que, embora a diversidade de gênero deva ser algo natural – afinal, é uma realidade incontestável – ele ainda é pouco universal. Esperamos que isso mude.
Fonte: Novarejo