A Travessa, dona das livrarias mais charmosas e bem-sucedidas do Rio, inaugura amanhã sua primeira loja de rua de São Paulo, como antecipado pela coluna Babel. Ela fica no número 513 da Rua dos Pinheiros, em uma pequena casa de 200 m² que foi totalmente reformada para abrigar a nova livraria do bairro. Esta é a segunda loja de Rui Campos na cidade –a outra, ainda menor, fica no Instituto Moreira Salles, na avenida Paulista.
“Sempre tivemos o desejo de fazer uma Travessa em São Paulo, e também muitos pedidos, e ficávamos pensando onde ela poderia estar. Se a Travessa tem uma estratégia é a de interpretar o lugar onde ela vai atuar, tentar falar a língua do pessoal que está por ali”, conta Campos que começou a frequentar o bairro depois que a Travessa assumiu a livraria oficial da Festa Literária Internacional de Paraty –é ali que fica a sede da Casa Azul, organizadora da Flip.
Rui gostou da vizinhança e tratou de procurar um imóvel grande para instalar sua livraria, e então percebeu que nada por ali era espaçoso. “Começamos a pensar nisso entre maio e junho do ano passado, muito antes de essa crise da Saraiva e Cultura e do modelo de megaloja mostrar problema. Foi quando decidimos que não tínhamos que fazer ali uma loja grande e que teríamos que agir de acordo com a linguagem de Pinheiros, de lojas com uma curadoria muito especial”, diz.
A ideia de Rui é investir em atendimento de qualidade e acervo especial, moderno, com uma seleção muito mais rigorosa do que a feita nas demais lojas. Só para se ter uma ideia, a de Pinheiros deve abrigar, em seus 200 m², algo como 18 mil livros. A Livraria da Travessa de Ipanema, uma das mais tradicionais da rede, tem 80 mil volumes e um espaço cinco vezes maior que a filial paulistana. O projeto arquitetônico daqui, como das demais lojas da rede, é de Bel Lobo.
A seleção inclui todos os gêneros, com destaque para temas atuais, como política e feminismo, e também para obras de autores portugueses –numa espécie de contrapartida informal pela operação em Lisboa, onde ela desembarcou em maio para ocupar 300 m² da Casa Pau Brasil, num casarão tombado do bairro cult de Príncipe Real.
A livraria é dividida em dois andares e Rui garante que vai ter espaço para sentar, ler um livro, tomar um café ou um vinho. “Vamos ter um mini mini minicafé, algumas poucas coisas para comer, uma geladeira com um vinhozinho e outras opções. O cliente escolhe o que quer, faz o seu próprio café, se serve e paga na saída. Vai ser um espaço gostoso e isso é fundamental porque a função da livraria é ser a criadora de demanda pelo livro”, explica. Segundo o livreiro, antigamente, as pessoas chegavam ao balcão e pediam o que queriam. Hoje, não. Elas vão, passeiam e descobrem um livro.
Neste momento de crise do mercado editorial, o modelo proposto agora por Rui pode funcionar melhor, tornando o negócio mais viável. Comenta-se que esse modelo poderia ser replicado pela Travessa em outros bairros de São Paulo, mas ele não confirma nem descarta.
“Não temos projeto para uma segunda loja, mas isso não está fora de questão. É claro que se percebermos que esse modelo funcionou superbem e enxergarmos um outro lugar, nós continuaremos”, diz o livreiro. A questão, ele explica, é que a Travessa sempre atua de acordo com o momento. “Lisboa nunca esteve no plano. Fomos convidados, conhecemos o projeto, começamos a pensar nele, nos apaixonamos e fizemos. São Paulo foi assim também.”
Em 30 anos, a Travessa abriu 10 lojas – para 2020 está prevista uma em Niterói. “Mas São Paulo não faz parte de um plano de expansão, não temos um plano de negócio; só paixão.”
Inauguração
A Livraria da Travessa começa a vender seus livros amanhã e eventos já estão programados para a próxima semana.
A inauguração oficial, porém, será no domingo, 18, com uma festa que começa ao meio-dia e vai até as 22 horas. Rui Campos explica que a inauguração das lojas da Travessa são sempre assim: com atividades, música e leitura de poesia ao longo do dia.
O escritor cubano Leonardo Padura será o primeiro a autografar na nova livraria. Ele estará lá no sábado, 10, das 18h às 20h, assinando A Transparência do Tempo e seus outros títulos publicados pela Boitempo.
Na quarta (14) Miguel Del Castillo lança Cancún, pela Companhia das Letras.
Fonte: UOL