Pesquisa da Capgemini com 150 empresas brasileiras dos segmentos de varejo, bens de consumo e finanças aponta que o conceito de transformação digital está ganhando impulso no país. O movimento é provocado pelo maior poder do consumidor conectado e pela concorrência de novos modelos de negócios de competidores nativos digitais, como o chamado “Gafa” – Google, Apple, Facebook e Amazon -, além de Uber, Airbnb, Netflix, bancos digitais e plataformas e aplicativos para os mais variados fins.
A pesquisa destaca que, embora ainda exista espaço para mudanças nas empresas ouvidas, 47% investem em transformação digital. O tema sensibiliza os executivos mais importantes, o “C level”, mas o envolvimento dos funcionários ainda é deficiente. As tecnologias digitais são utilizadas para entender melhor o mercado e os clientes: 63% usam a internet para esse fim; 57% usam mídias sociais; e 53% adotam serviços móveis, indicando que a abordagem multicanal tem sido importante para suas estratégias de negócio.
Hoje, para as empresas, perder a corrida da transformação digital significa perder sua capacidade de competir, ou, pior, pôr em risco a própria sobrevivência.
O crescimento contínuo das capacidades de processamento e de armazenamento a custos cada vez menores fez surgir novas tecnologias, como internet das coisas (IoT), inteligência artificial (IA) e computação cognitiva. Mauro D’Angelo, diretor de soluções de indústria e desenvolvimento de negócios na IBM Brasil, diz que uma das causas é a explosão dos dados – que dobram a cada dois anos – como resultado da combinação da mobilidade com as mídias sociais e da sensorização do mundo físico. “Cerca de 80% são dados não estruturados – texto, áudio, vídeo – e quem souber tirar inteligência disso para tomar decisões vai atender melhor o cliente”, diz.
Laércio Cosentino, CEO da Totvs, diz que a transformação digital está sendo motivada pelo desejo de as pessoas compartilharem informações para colaborar, consumir e se expressar.
“Não basta digitalizar os produtos. No caso da Totvs, temos uma jornada de quatro anos, de 2015 a 2019, com três frentes de trabalho: cultura e ambiente, processos de atendimento, oferta e portfólio. É como fazer com que a companhia volte a ser uma startup, se reinventando a todo momento, pois temos de dar exemplo para nossos clientes.”
Para Cesar Gon, CEO da CI&T, a principal causa não é apenas o impacto das empresas disruptivas, e sim o aumento do poder do consumidor hiperconectado. Marcia Ogawa, sócia e líder de transformação digital da Deloitte, diz que estamos no meio da mudança para um novo ciclo econômico provocado por novas tecnologias, a exemplo de inteligência artificial, IoT, robótica, nuvem, big data e analytics. “A mudança no comportamento do consumidor é uma consequência dessas tecnologias.”
Gon alerta que muitas empresas estão se aproximado de startups ou abrindo escritórios no Vale do Silício, mas que a transformação de uma empresa vai além disso. A CI&T criou o Prisma, um novo ambiente de trabalho com ilhas de inovação para promover a transformação digital de clientes como Natura, Itaú, Dasa e SulAmérica. “A verdadeira transformação implica mexer no modelo de liderança, nos processos e na forma como a empresa resolve problemas e toma decisões”, afirma Gon.
A Accenture vem adquirindo diversas empresas de soluções e criando espaços de inovação como o Recife Innovation Center; o Analytics Innovation Center, no Rio de Janeiro; o Centro de Excelência em Agribusiness, uma garagem de inovação (Accenture Garage), além da agência Accenture Interactive, que abriga projetos de design thinking com a Fjord, todos em São Paulo.
“O mercado hoje é mais atento do que há três anos, mas ainda há um desconhecimento do que seja uma empresa digital. É preciso criar uma experiência integrada fim a fim”, diz Flaviano Faleiro, líder da Accenture Digital para a América Latina.
Marco Stefanini, CEO Global da Stefanini, diz que o serviço de TI tradicional nunca foi inovador, apenas implantava uma ou outra inovação de algum fornecedor de hardware ou de software. Agora mudou o contexto. A Stefanini, por exemplo, passou a ser uma integradora de soluções e muito mais digital. Ele destaca a agência digital, a assistente virtual Sofie, e o core bancário com APIs para integração com o digital.
Os setores mais avançados são os que têm contato com o consumidor como bancos, varejo, saúde, telecomunicações e bens de consumo. As operadoras de telecomunicações têm como ameaça a mudança de comportamento do consumidor e redução das receitas de voz. Nos bancos, em 2016, das 65 bilhões de transações bancárias, 57% foram realizadas no internet banking ou no mobile banking – que já responde por 34% do total.
“A transformação digital dos bancos ocorre diariamente, mas não é só uma questão de TI e sim de cultura, estrutura e, principalmente, de pessoas”, afirma Gustavo Fosse, diretor setorial de tecnologia da Febraban e diretor de tecnologia do Banco do Brasil.
Empresas de utilities também estão atentas às mudanças. Carlos Zorzoli, country manager da italiana Enel – que controla as concessionárias de energia Ampla e Coelce -, informa que o grupo anunciou investimentos de € 4,7 bilhões em digitalização, sendo 83% na infraestrutura das redes de energia, usinas e instalações; 15% no relacionamento com clientes, e 2% nas pessoas. No Brasil, já são cerca de 800 mil medidores inteligentes instalados.
Fonte: Valor Econômico