A Saraiva reduziu pela metade a sua diretoria, e vai propor diminuir de seis para até cinco o número de cadeiras do conselho de administração, num movimento que deve elevar o poder da família fundadora no negócio. Quase todos os diretores que estavam na empresa até o início de março deixaram os cargos, apurou o Valor, sendo a exceção o diretor-presidente Jorge Saraiva Neto.
Entre os sócios minoritários da companhia está Ernesto Zarzur, fundador da EZtec, com 5% das ações ordinárias (ON). No capital social, a H11 Gestão de Recursos, de Vicente Conte Neto tem 7% de participação. Membros da família Saraiva têm quase 60% das ações ON e o restante está no mercado.
Nos últimos dias, saíram da companhia os executivos Marcelo Ubriaco, vice-presidente de varejo, e Luis Claudio Villani, vice-presidente de tecnologia da informação. Há menos de um mês foi anunciada a saída do diretor financeiro Marcus dos Santos Mingoni, substituído por Alan Infante.
Com isso, dos quatro diretores que existiam até março, restaram dois – Saraiva Neto e Infante. Em comunicado ao mercado, a empresa diz que Villani e Mingoni decidiram deixar a varejista.
Alterações no estatuto social propostas pela empresa já sinalizavam que o comando e o conselho seriam mudados. Segundo proposta da administração para ser votada em assembleia geral extraordinária e ordinária no dia 26, os controladores querem que a diretoria, antes com três executivos (Ubriaco, Villani e Saraiva Neto, já não considerando Mingoni) fique com dois executivos. A varejista é líder no mercado de livrarias, com vendas brutas de R$ 1,9 bilhão em 2017 e somava 103 lojas ao fim do ano passado.
O Valor apurou que Saraiva Neto vai acumular as funções restantes. Ele é filho do presidente do conselho, Jorge Saraiva, com Olga Saraiva, também membro do colegiado. A rede é nível dois de governança corporativa na B3.
Procurada, a Saraiva informa que, “para suportar seu plano de transformação com foco no cliente e em um varejo mais sustentável, os executivos Marcelo Ubríaco e Luís Cláudio Correa Villani, em comum acordo, encerraram suas atividades na companhia”.
A rede diz que Saraiva Neto permanece diretor presidente e de relações com investidores, atuando ainda em operações, comercial, marketing, on-line, recursos humanos, administrativo e financeiro. Saraiva Neto tem 34 anos.
Para o conselho, na proposta do controlador, devem ser definidos até cinco membros – são seis no colegiado hoje – em caso de eleição por voto majoritário ou voto múltiplo. E o número poderá chegar a até sete, em caso de solicitação de votação em separado.
O sistema de votação em separado é uma prerrogativa dos acionistas de ONs ou PNs. No caso de ON, pode pedir votação quem tem, pelo menos, 15% do total das ações. Nas PNs, pode pedir quem soma, no mínimo, 10% do capital social.
A chapa proposta pelo controlador tem quatro nomes – inclui o casal Jorge Saraiva e Olga, além do filho, Saraiva Neto, e de Julio Sergio Cardozo, conselheiro independente, indicado pelo controlador.
Atualmente, há outros dois nomes no colegiado, de Maria Cecilia Saraiva Gonçalves, com quase 2% das ações ONs, e do membro independente João Hopp. Maria Cecília votava por vezes alinhada com a família, mas em determinadas situações chegou a se posicionar de forma contrária, apurou o Valor.
A mudança ocorre num momento em que a consultoria Galeazzi & Associados, contratada em fevereiro, assessora o grupo num processo com novas reduções de custos. A empresa passou por reestruturações nos últimos dois anos, pelo menos, com revisões em estratégia e foco na operação on-line. Nesse processo, surgiram informações no setor de que a rede estaria em reformulação na busca da venda do negócio ou de uma fusão. A rede afirma que tem por política não comentar especulações.
A empresa teve queda de 0,7% na receita líquida em 2017, para R$ 1,7 bilhão. O prejuízo cresceu 4,4%, para R$ 52 milhões. Este mês, o Valor informou que a rede renegociou pagamentos com 31 editoras.
Fonte: Valor Econômico