Quando a varejista americana Target Corp. decidiu modernizar um de seus maiores centros de distribuição, na Califórnia, ela teve que escolher. A empresa podia construir um novo centro, instalar tecnologias convencionais para apanhar produtos nas prateleiras ou tentar a sorte com uma nova família de robôs desenvolvida por um bilionário recluso.
A Target optou pelos robôs do bilionário.
Os novos robôs da gigante varejista são fabricados pela Symbotic LLC, parte do império atacadista comandado pelo bilionário Rick Cohen. Por meio de sua própria rede de distribuição nos Estados Unidos e acordos com os maiores varejistas do país, Cohen pretende mostrar que os robôs podem revolucionar o negócio de armazenar, manusear e movimentar os milhões de caixas de mercadorias que são transportados por caminhão para as lojas a cada ano.
O argumento de Cohen para convencer as redes de supermercado e outros varejistas, inclusive a Target, a Coca-Cola Co. e o Wal-Mart Store Inc., é simples: o sistema de automação da Symbotic inclui robôs autônomos que podem se deslocar livremente entre as filas de prateleiras de um centro de distribuição. Eles podem ir de um corredor a outro para guardar ou retirar caixas. E coordenam o trabalho com robôs convencionais encarregados de tarefas mais simples.
O sistema é diferente dos existentes em vários outros armazéns automatizados, em que os robôs tendem a ser presos ao chão ou se movem em percursos limitados, inclusive sobre trilhos, e têm menos flexibilidade em relação ao que podem fazer.
“O que estamos fazendo com robôs autônomos não é muito diferente do que o Google está fazendo com carros autônomos”, disse Cohen em entrevista ao The Wall Street Journal na sede da Symbotic, em Wilmington, no Estado de Massachusetts. “Acredito que dentro de cinco anos isso vai mudar a distribuição.”
Com a automação, os varejistas esperam controlar os três custos principais dos centros de distribuição convencionais, baseados no trabalho humano: mão de obra, tempo e despesas imobiliárias. Reduzir esses custos é vital num setor de margens baixas como o varejo.
“Em todo projeto que analisamos, olhamos para a automação como uma possível parte dele”, diz Frank Bruni, diretor de cadeias de suprimento da varejista americana Kroger Co. A companhia comprou sistemas de automação de armazéns da alemã Witron Logistik + Informatik GmbH, concorrente da Symbotic.
Cerca de 6% dos centros de distribuição da Kroger são totalmente automatizados, diz Bruni, acrescentando que a atual escassez de trabalhadores com experiência em armazéns, os salários em alta no país e outros fatores estão encorajando a empresa a buscar mais sistemas robóticos.
Em 2013, a Target decidiu expandir seu centro de distribuição em Woodland, na Califórnia, para fazer frente ao aumento das vendas na região. A empresa primeiro cogitou construir um novo centro, antes de optar pelos sistemas da Symbotic, em 2014.
Até hoje, porém, os varejistas de produtos de consumo vêm tendo dificuldade para automatizar até mesmo os procedimentos mais simples, como apanhar produtos nas prateleiras e montar contêineres de formato irregular sobre um palete. Tarefas como essas foram executadas por cerca de 867.300 pessoas nos armazéns dos EUA em agosto, segundo os dados mais recentes do Departamento de Trabalho do país.
Alimentos, em particular, têm se mostrado resistentes aos robôs. No setor de alimentos e bebidas, só 8% dos centros de distribuição pertencentes às 75 maiores redes de supermercados da América do Norte são parcialmente ou totalmente automatizados, segundo a MWPVL International Inc., uma consultoria de cadeias de suprimentos. Atacadistas e distribuidores operam com margens baixas — geralmente 1% a 2% — e, por isso, hesitam em fazer investimentos em automação, que podem chegar a US$ 100 milhões por armazém.
Mas essa postura está mudando à medida que custos crescentes com mão de obra e imóveis ameaçam os lucros dos varejistas. A concorrência de firmas de tecnologia como a Amazon.com Inc., que estão revolucionando as antigas práticas do setor, impõem ainda mais pressão.
A estratégia da Symbotic é ambiciosa porque o uso de robôs industriais autônomos ainda é embrionário. Desenvolver robôs que possam se deslocar livremente tem sido um desafio para os engenheiros de fabricantes como a Boeing Co., que está investindo pesado em robótica. Um robô capaz de se orientar numa fábrica pode, supostamente, realizar tarefas de montagem com mais eficiência que os modelos que trabalham fixos em um mesmo local.
Cohen está realizando seu experimento de automação na C&S Wholesale Grocers Inc., a maior distribuidora por atacado para supermercados dos EUA em receita. A empresa foi fundada em 1918 pelo avô de Cohen e, em 1989, ele se tornou o único dono e diretor-presidente.
No armazém da C&S em Newburgh, no Estado de Nova York, mais de 100 robôs transitam livremente pelos corredores. Com 71 centímetros de largura, as máquinas podem trafegar em corredores muito mais estreitos que os de armazéns convencionais, permitindo a estocagem de um número maior de produtos.
Os robôs, que parecem pequenos karts sem motorista e se comunicam por meio de sensores e redes sem fio, alcançam velocidades de 40 km/h no escuro e utilizam braços mecânicos portáteis para colocar ou retirar caixas das prateleiras a um ritmo de uma caixa por minuto, quase cinco vezes mais rápido do que os humanos costumam fazer a pé.
A estratégia de Cohen para os robôs tem dois aspectos: de um lado, ele quer instalá-los nos armazéns da C&S para atender às redes de supermercados do país, do outro, espera vendê-los para empresas que têm seus próprios centros de distribuição. No próximo ano, a Symbotic planeja automatizar totalmente mais de dez armazéns de alimentos nos EUA que atendem redes de supermercados. E ele já fechou acordo para fornecer robôs para o centro de distribuição da Target e da Coca-Cola, em New Jersey.
O Wal-Mart afirmou que está testando o sistema da Symbotic com planos de utilizá-lo em dois de seus grandes centros de distribuição. O varejista quer explorar a suposta capacidade dos robôs de permitir que mais produtos sejam armazenados nos centros.
A Symbotic afirma que seu sistema permite que varejistas de alimentos reduzam em 80% os custos com mão de obra e em até 40% o tamanho dos armazéns.
Um obstáculo para o crescimento da Symbotic é o custo dos sistemas, que podem alcançar entre US$ 40 milhões e US$ 80 milhões por equipamento, segundo a consultoria MWPVL. Algo que pode servir de incentivo é o crescente custo da mão de obra, que vai representar um “golpe duro” no setor de supermercados, de acordo com Marc Wulfraat, fundador da MWPVL. “A maioria dos jovens hoje prefere trabalhar numa mesa em vez de ficar carregando caixas.”