Muita gente nos pergunta o que fizemos de diferente ao longo desses 10 intensos anos de Reserva… Nós EXECUTAMOS, sem exceção, todos os nossos sonhos/ideias sem medo do que os outros iriam pensar caso errássemos. O prazer para nós sempre esteve muito mais neste processo de acerto e erro do que na vaidade/necessidade de aceitação pública e mercadológica.
A moda nacional não está em crise por causa da Dilma ou do Temer, ela está em crise porque se embebedou de vaidade e a ressaca a impede de levantar, sacudir a poeira e colocar novas ideias de pé.
No último dia 17.03, após 4 anos de hiato, retornamos ao SPFW e acredito que tenhamos deixado boas e novas idéias para refletir sobre como a moda poderia, com muito pouco dinheiro investido, resgatar o desejo das pessoas em acompanhar as semanas de moda.
Este artigo pretende não apenas detalhar nossa estratégia de retorno ao evento, mas, principalmente, usá-la como exemplo de que as soluções mais inovadoras não são necessariamente as mais complexas e sim aquelas que resolvem problemas que normalmente já compreendemos, mas ainda não possuem solução. E isto serve não apenas para o mercado da moda, mas para todos os outros.
Vamos lá…
Por 7 anos desfilamos tanto no Fashion Rio como no São Paulo Fashion Week. Por 7 anos tentamos quebrar uma lógica de mercado com a qual não nos identificávamos: a lógica de lançamentos de coleções em semanas de moda muito mais focadas nas críticas do que nos consumidores, tanto criativamente como comercialmente. Desfiles feitos 6 meses antes da chegada das coleções nas lojas com peças que nunca chegariam as prateleiras, desenhadas apenas para receberem boas críticas.
Há 4 anos resolvemos parar de desfilar porque sentíamos que gastávamos tempo e dinheiro à toa. Os reais consumidores cada vez mais perdiam interesse nas passarelas.
Nesses 4 anos o mundo mudou muito. As crises brasileira e internacional forçaram uma aproximação da moda com a sociedade. E um exercício criativo menos exclusivista e mais democrático virou regra. Além disso, a distância entre a apresentação na passarela e a chegada na arara diminuiu de 180 para 0 dias. Desfile e vendas acontecendo simultaneamente.
Resolvemos voltar ao SPFW porque é esta a lógica com a qual nos identificamos. Sem nenhum julgamento de valor a lógica anterior. Nosso tesão é fazer as coisas para e com aqueles que mais vibram com a nossa marca: nossos consumidores.
Resolvemos fazer do formato de apresentação o próprio tema do desfile e através dele propor ao mercado uma nova maneira de pensar e produzir eventos de moda.
A lógica do desfile poderia ser explicada num simples ping-pong de questionamentos que sempre nos fizemos:
1. Para que uma passarela longa e distante das pessoas?
Acreditamos que nenhuma parede pode separar as pessoas: jornalistas, parceiros e consumidores.
Somos todos iguais, e, por isso, derrubamos a passarela. Decidimos montar uma festa na qual todos estariam misturados.
2. Para que modelos andando a metros de distância dos olhos se as pessoas querem tocar e ver de perto o produto?
Nossos modelos são amigos da marca. Em vez de desfilarem em uma passarela óbvia e clara eles ficaram em pé e acessíveis a todos, assim como os convidados(as)… Eles não só vestiram como explicaram as roupas no tete-a-tete. Ah! Óbvio, também tiraram muitas selfies com nossos convidados(as).
3. Para que uma trilha musical se não podemos dançar?
Antes nós gastávamos uma fortuna para fazer uma trilha incrível para os nossos shows e as pessoas no máximo balançavam suas cabeças e repetiam refrões. Resolvemos mudar isto.
A nova e incrível banda de Jazz carioca MeA Brass Band soltou o som ao vivo para o nosso get together.
4. Porque convidaríamos amigos para o nosso show e não serviríamos bebidas para eles?
Nunca fizemos amigos bebendo leite. Em casa recebemos com bons drinks!
As pessoas pegavam um drink, curtiam um jazz e circulavam dentre modelos observando a coleção.
Muitos de nossos estilistas inclusive explicaram a coleção sentados no bar com colegas jornalistas.
5. Para que gastar fortuna imprimido um convite refinado se podemos utilizar sobra de papel e imprimir nele, em vez de um convite, a caridade?
Através do nosso projeto Reserva 1p5p, usamos o dinheiro para doar refeições em nome dos convidados.
6. Sempre tivemos muito mais convidados do que convites para distribuir.
Por isso, desta vez a nossa festa foi transmitida ao vivo em todos os nossos canais de comunicação como lojas e mídias sociais. Cobertura ao vivo foi comandada pelo amigo genial Caio Fischer.
Além disso, com o objetivo de fazer deste o maior desfile da história em quantidade de espectadores, montamos um pré-cadastro para assistir ao show ao vivo na internet. Pré-cadastro com direito a desconto nas compras da coleção para quem divulgasse o show nas mídias sociais.
7. Para que apresentar uma coleção incrível para seus clientes se ela só chegará nas lojas 6 meses depois?
Nós começamos a vender a coleção no nosso site (www.usereserva.com) no momento em que o desfile começou e em todas as lojas físicas da marca no dia seguinte do desfile.
Além disso, instalamos dentro da própria bienal dois terminais touchscreen onde nossos times vendiam as peças da coleção que ali estava sendo apresentada.