A crise causada pela pandemia do novo coronavírus pode afetar as vendas das varejistas de moda, impactar os fornecedores e até afetar o tipo de peça exposta nas araras. No curto prazo, os preços no varejo de moda devem cair, acredita Sergio Borriello, presidente da varejista Pernambucanas.
Ele falou em live na série exame.talks, em entrevista aos jornalistas da EXAME João Pedro Caleiro e Gabriela Ruic.
Com a crise, o consumidor perde renda e poder de compra e a demanda por compras fica menor. Além disso, muitos varejistas e pequenas indústrias de confecção podem não sobreviver e as que ficarem podem reduzir o preço das peças. “Os preços vão se reequilibrar para baixo nesse ano. As lojas que estão abertas estão levando mais oportunidades de compra para o consumidor”, afirma o executivo.
As peças vendidas também devem mudar. Com a mudança no câmbio e a desvalorização do real, algumas peças feitas com tecidos importados podem ficar caras demais e com preços impraticáveis e, assim, serem substituídas por outras de produção nacional. De acordo com Borriello, cerca de 20% do mix de peças na Pernambucanas é importado, já que são peças feitas com tecidos que não são fabricados por aqui.
“Vamos depender mais da indústria brasileira, mas isso é uma obrigação nossa”, diz o executivo, citando que a maioria das confecções brasileiras são pequenas e estão enfrentando dificuldades na pandemia. “Não só o varejo, mas o governo, BNDES e bancos precisam dar uma mão para a indústria brasileira, para que ela consiga passar por essa crise e sair renovada.”
Sérgio Borriello entrou na empresa como diretor financeiro e é presidente desde dezembro de 2016. Antes de chegar à Pernambucanas, passou pela Associação Brasileira do Varejo Têxtil e foi diretor do banco Santander. A Pernambucanas passou a se focar em moda nos últimos anos e introduziu a categoria de beleza, inicialmente com operação própria. Logo, decidiu tocar o setor de cosméticos por meio de parcerias, com a Avon e a Jequiti.
“Varejo dá mais crédito na ponta que bancos”
Com 112 anos de história, a Pernambucanas já passou por diversas crises, mas nenhuma como essa, acredita o presidente. A grande diferença é que essa crise, ao contrário de outras, é global e não atinge apenas o Brasil. Também é um problema que atinge todas as empresas. “A gente já imaginou precisar fechar uma ou duas lojas. Mas nunca imaginei acordar um dia pela manhã, me reunir com o comitê executivo e dizer que decidi fechar todas as lojas, pelo tempo que for”, conta Borriello.
Ele fala que se viu diante de uma bifurcação, entre preservar a relação com o cliente e preservar a saúde financeira da empresa. “A Pernambucanas escolheu dar opções para que o cliente possa passar por esse momento junto com a gente”, diz.
A empresa alterou os pagamentos de seu cartão e crediário para dar um prazo maior, por exemplo, e mantém seus projetos de crediário, abertura de conta digital e oferta de cartão. “Estamos chamando esse cliente para se bancarizar, vamos ajudar nas compras e a pagar as contas”, diz o presidente. “O varejo dá mais crédito na ponta que bancos, porque fazemos compras parceladas.”
Na medida em que o país volta a se abrir, a Pernambucanas está adotando processos para que as lojas sejam mais seguras. Com unidades em 165 cidades diferentes, esse não é um processo fácil, conta.
Entre as medidas adotadas para aumentar a segurança das lojas está nos provadores. Em alguns lugares os ambientes estão fechados e, nas lojas em que estão abertos, cada roupa recebe um jato quente de steamer para a higienização. No caso das roupas devolvidas para troca, é borrifado um álcool líquido. As peças ficam ainda separadas por um tempo antes de voltarem para as araras na loja. Esse tipo de cuidado deve se manter no longo prazo e pode, eventualmente, levar a um aumento de preços reequilibrando a queda de preços que deve ocorrer esse ano.
A pandemia tem impactado o varejo de moda no Brasil e no mundo. Por aqui, o valor das varejistas de moda, como C&A, Arezzo, Renner e Guararapes caiu desde o começo do ano. O Ebitda das empresas, o lucro antes de taxas e impostos, pode ter encolhido em média 30% para as varejistas, segundo estimativa feita pelo Bradesco e divulgada em relatório no dia 5 de maio.
Já nos Estados Unidos, a rede de supermercados norte-americana Walmart acabou de anunciar que passará a vender roupas usadas. As vendas serão apenas online, de modo que as roupas não ficarão expostas em corredores das lojas físicas do Walmart como peças novas que a rede já vende.
Fonte: Exame