Apesar de defender os programas sociais dos governos Lula e Dilma, o fundador das farmácias Pague Menos, Francisco Deusmar de Queirós, se diz contente com a decisão da Câmara dos Deputados de autorizar a abertura do processo de impeachment contra a presidente.
“Isso mostra que há um caminho, que está começando a se encontrar uma solução para o país”, disse a EXAME.com.
Na entrevista, ele se mostrou confiante na saída de Dilma e disse que, qualquer que seja o cenário político, ele não interfere nos planos da sua empresa.
Com mais de 800 lojas em 300 cidades de todo o Brasil, a Pague Menos emprega mais de 20.000 pessoas. No ano passado, a rede faturou 4,97 bilhões de reais e lucrou 1,4 bilhão de reais, resultado acima do registrado em 2014.
Abaixo, veja os melhores trechos da conversa com Queirós:
EXAME.com – O que o senhor achou da autorização da Câmara dos Deputados para que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff prossiga?
Deusmar de Queirós – Essa decisão já era esperada (pelo mercado). O que todos querem é que (a crise política) tenha um desfecho para que o empresariado volte a confiar no Brasil.
Do jeito que está, está muito complicado. O desemprego está aumentando, não há perspectiva de crescimento… O desânimo é generalizado.
EXAME.com – Acredita que o vice-presidente Michel Temer conseguiria trazer de volta a confiança dos empresários, caso haja o impedimento de Dilma?
Deusmar de Queirós – Para termos tranquilidade, acho que o ideal seria uma nova eleição. O Temer foi eleito junto com a Dilma e, se houve falcatrua no governo, ele também perdeu a confiança.
Mas qualquer mudança já ajuda, porque cria uma expectativa. Os legisladores precisam tomar a sua decisão o mais rápido possível.
EXAME.com – Em outra entrevista a EXAME.com, o senhor defendeu os programas sociais dos governos petistas e disse que concordaria em pagar mais impostos para que eles fossem mantidos…
Deusmar de Queirós – Continuo pensando que qualquer um que entrar tem que continuar com as políticas para as classes menos favorecidas, para a educação.
Ainda deve construir mais portos e aeroportos.
Também acho que o governo poderia vender um terço das reservas internacionais (de cerca de 370 bilhões de dólares) para recuperar a economia. Tem tanta coisa pra se fazer e o dinheiro parado lá.
EXAME.com – Mas as reservas são a garantia de que o governo pode honrar com seus compromissos, uma segurança para os investidores estrangeiros…
Deusmar de Queirós – Para investir, 100 bilhões de dólares fazem uma diferença muito grande. E se 300 bilhões garantem alguma coisa, 200 bilhões também garantem. Não adianta ter garantia e passar fome.
EXAME.com – Como a Pague Menos tem passado pela crise?
Deusmar de Queirós – Nós aqui não damos muita bola para política. Vamos crescer 18% no ano.
Se a receita cai 3%, basta reduzir o custo em 5% ou 6% para ter o mesmo resultado, basta ter mais produtividade.
Lojas que tinham 20 atendentes, agora têm 18. Mas esses dois que saíram foram transferidos para novas unidades, não é preciso desempregar.
Estou negociando pontos de venda, contratando gente, indo atrás.
EXAME.com – Quantas lojas a Pague Menos abriu este ano e quantas estão previstas? O cenário político muda os planos da empresa?
Deusmar de Queirós – Não muda em absolutamente nada. Esse problema é passageiro, a Pague Menos vai durar cem anos.
Já inauguramos 36 lojas em 2016 e outras 72 ainda estão em construção.
EXAME.com – Quanto a crise impactou o varejo de medicamentos e cosméticos?
Deusmar de Queirós – Se antes tínhamos 5% de desemprego (no Brasil), agora temos 10%. Ainda tem 90% da população trabalhando, as pessoas vão continuar consumindo.
O Brasil tem 204 milhões de consumidores. Eles continuam tomando banho, lavando o cabelo e adoecendo de vez em quando pra comprar medicamentos (risos).
Estão exagerando sobre a crise.
EXAME.com – O senhor já aconselhou empresários a não ter medo de pedir empréstimos. A Pague Menos fez financiamentos para manter seu ritmo de expansão neste ano?
Deusmar de Queirós – Não precisamos! Apareceu um americano maluco que colocou 600 milhões no meu caixa. Eu não atendo mais gerente de banco.
(Brincou, fazendo referência ao fundo norte-americano General Atlantic, que comprou 17% da rede em dezembro do ano passado).
Eu já sabia que para enfrentar 2016 e 2017, para me capitalizar, eu teria que vender uma parte da empresa. Antes eu tinha 100% dela, agora eu tenho 83%. Mas esses 83% vão valer o dobro daqui a dois anos.
O General Atlantic é um grande parceiro, vai me ajudar com a gestão, com governança corporativa…
Tem empresário que se apega a besteira, sabe o que precisa fazer, mas não faz. Conheço gente quebrada com carro importado e casa em Miami.