Depois que passou a medir o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de suas consultoras, em 2014, a Natura constatou que contribuía para a independência financeira e para a autoestima dessas trabalhadoras, mas que poderia fazer mais para ajudá-las a ter mais qualidade de vida.
As consultoras, revelaram os dados, eram carentes de apoio no âmbito da educação e da saúde. Foi aí que a fabricante de cosméticos decidiu criar um programa de benefícios exclusivo para elas dentro desses dois campos.
A empresa já fez parcerias com instituições de ensino para conceder bolsas de estudo e descontos em mensalidades para sua força de vendas. Também está testando um modelo de subsídios para a compra de remédios e realização de exames médicos, que deve ser disponibilizado no segundo trimestre.
Um dos acordos mais recentes do plano foi fechado com a Wizard by Pearson. Desde outubro, as revendedoras da Natura (e mais uma pessoa que cada uma delas indicar) podem estudar inglês na rede de idiomas por um valor até 50% menor do que o praticado normalmente – o tamanho do abatimento varia de acordo com a região.
Até agora, 600 das 1.256 das unidades da escola de idiomas em todo o Brasil aderiram ao programa. De agosto a dezembro, 276 matrículas já haviam sido feitas. O número de interessados chegou a 1.500.
A plataforma de cursos online gratuitos Khan Academy foi outra companhia que passou a integrar o projeto em outubro. Mais de 1.500 consultoras já estão aprendendo a administrar suas finanças por meio do site.
A primeira parceira da Natura na ideia foi a universidade Estácio. Desde julho, a instituição oferece descontos de 45% para as revendedoras em graduação e pós-graduação, seja presencial ou à distância. As faculdades de medicina e gastronomia, porém, não estão inclusas no tratado. As matrículas já somam 295.
Também abraçaram a iniciativa a escola de cursos profissionalizantes Prepara, que concede descontos de até 70% em aulas sobre uso da internet, atendimento ao cliente, vendas, administração do tempo e técnicas de negociação, por exemplo; e a Geekie Games, de ensino preparatório para o Enem.
Até dezembro, 5.332 pessoas (entre consultoras e seus familiares) haviam se inscrito em algum dos benefícios.
Raquel Standke, é uma delas. A revendedora estuda Processos Gerenciais na Estácio e pensa em fazer pós-graduação em marketing quando terminar o curso superior.
“Foi um sonho realizado. Não consegui fazer faculdade quando mais nova e, agora, depois de 20 anos, retomei os estudos”, conta.
Quem banca?
A Natura viabilizou as parcerias com recursos da sua linha Crer Para Ver, de produtos escolares como cadernos e lápis.
“O lucro da venda desses itens não fica para a consultora, ele vai para o Instituto Natura (entidade ligada à empresa que apoia projetos voltados à educação pública). Encontramos uma boa maneira de retornar essa doação para ela”, diz Cida Franco, diretora de relacionamento da Natura.
O instituto também oferece algumas bolsas de estudo integrais para as revendedoras em cursos oferecidos dentro do programa.
Parte do subsídio nas mensalidades, porém, é bancado pelas empresas parceiras. “A gente diz (à instituição de ensino): eu deixo você falar com a minha rede de consultoras, mas quero uma condição exclusiva”, explica Cida.
Pelo menos para a Wizard, o investimento está valendo a pena.
“Nossa margem reduz um pouco, sim, mas fica preservado aquilo que a gente busca, que é proporcionar um maior acesso da população ao inglês, conseguir mais fluxo (de alunos) para as escolas e ganhar escala”, diz Luciano Kliemaschewsk, presidente da Pearson, dona da rede de ensino de idiomas.
Por enquanto, não há limite para o número de inscrições nos benefícios. Os contratos são feitos diretamente com as parceiras, sem vínculo com a Natura. “Não temos teto. O teto são as nossas 1,4 milhão de consultoras. Quanto mais (participarem) melhor!”, diz Cida Franco.