Em entrevista, presidente da Renner conta como transformou a empresa em uma rede de US$ 6 bilhões, trajetória contada em livro lançado hoje
No seu primeiro dia de trabalho na Renner, na época como superintendente, José Galló preferiu subir os andares da sede da companhia, na capital gaúcha, pela escada em vez de usar o elevador. O ano era 1991 e a empresa passava por dificuldades, ele havia sido contrato justamente na tentativa de elevar a confiança do mercado com a rede. Os funcionários que viram a cena usaram aquele gesto como um símbolo do perfil daquele novo chefe, recém-chegado.
Um ano depois, ele abaixou para recolher um papel do chão e jogá-lo no lugar correto – outra ação natural que demonstrou a uma atual executiva de alto escalão que a Renner voltaria à bonança a partir dali.
Galló só soube disso mais de duas décadas e ficou comovido. “Para mim foram gestos normais, para a equipe, não. Nunca mandei e-mail sobre conduta, apenas dei o exemplo, sem nem perceber. Isso é recompensador”, disse ele, em entrevista a EXAME.com.
O relato foi um dos sessenta colhidos pelo atual diretor presidente da Renner para o livro sobre sua trajetória que ele lança hoje em São Paulo, a partir das 18h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. O lançamento aconteceu em Porto Alegre na última terça, dia 26.
Na obra, um dos maiores ícones empresariais do país conta como transformou uma empresa de oito lojas, 800 funcionários, avaliada em 1 bilhão de dólares em um colosso do varejo, que emprega 19.000 pessoas, tem 480 unidades e seis bilhões de dólares em valor.
Nascido na gaúcha Caxias do Sul, Galló, de 66 anos, trabalhou no livro nos últimos anos. O que o motivou, conta, foi a abordagem de outros executivos ao final de palestras e conferencias dadas por ele.
“Muitos sugeriram que eu reunisse as coisas de gestão que eu contava em um livro”, conta o executivo. “Decidi fazer depois de entender quanto isso realmente poderia ajudar os outros”.
Com a ideia de reunir depoimentos, a obra tornou-se uma biografia, onde a trajetória de Galló se entrelaça à da Renner, ao passar pelos desafios de uma administração familiar, estrangeira e de capital pulverizado – a varejista de moda foi a primeira grande Corporation do país.
Visitas semanais
No fim das contas, comenta ele, tudo se resume a pessoas, já que “ elas são o segredo e a razão de tudo, ninguém faz nada sozinho”. Simplicidade e proximidade com o mercado são outras duas essenciais de gestão, segundo o empresário.
Por proximidade, ele entende gostar do varejo e decidir com base no que se vê ali. “Gosto muito do mercado, de conhecer, conversar com o vendedor e gerente das lojas”, conta ele. “Levo a opinião deles para outros da empresa e é a partir desta visão do topo que tomamos decisões de estratégia”.
As inspirações de Galló são as mesmas quando assumiu a Renner, na década de 90: grandes varejistas estrangeiras como Costco, Apple, Ikea, Zara e Aldi. Os passeios pelas lojas aos finais de semana também.
“Não passo um final de semana sem visitar, pelo menos, duas lojas aleatórias da rede para ver de perto como a coisa está sendo feita”, conta. A rotina semanal, porém, ganhou outra nova obrigação – acompanhar os comentários sobre a rede nas redes sociais virou praxe.
“Temos toda uma equipe para fazer esse acompanhamento, mas acho bom ver a temperatura das coisas de perto”, afirma o executivo.
Há anos a sucessão de Galló é alvo de especulações de mercado e, questionado sobre isso, ele garante estar tranquilo.
“Meu contrato acaba no final do ano que vem, sei que a solução será boa e acontecerá no momento que tiver de acontecer”, afirma. “Não sou que faço a Renner, mas uma equipe boa, que trabalha intensamente para fazer tudo dar certo”.
Fonte: Exame