Por Gabriela Guido | As 45 lojas da rede de materiais de construção Leroy Merlin usam um sistemachamado RELEX, plataforma de gestão para varejo, para fazer as recompras automatizadas de seus produtos. Ao identificar a necessidade de determinada quantidade de produtos, que faz o estoque atingir um parâmetro fixo pré-determinado, o sistema automaticamente identifica a necessidade de recompra do item e realiza a operação.
O problema é que, como os fornecedores requerem uma quantidade mínima para que a compra seja feita, havia casos em que produtos sobravam nas prateleiras ou não precisavam ser comprados naquele momento, explica Rodrigo Murta, diretor de Tecnologia da Leroy Merlin, a Época NEGÓCIOS.
Por exemplo, se com 30% de peças de piso restantes o sistema mostrava que seria necessário comprar mais, mas o fornecedor vendia no mínimo 200 peças, o sistema comprava automaticamente essa nova caixa. Isso gerava um desequilíbrio entre a ruptura, que é a falta de produtos para a venda, e o sobrestoque, quando há mais do que o necessário para o atendimento da demanda da varejista.
Para tornar mais eficiente esse processo de compras e evitar mercadoria parada nos estoques, a equipe de desenvolvimento da Leroy Merlin criou, por quase um ano, uma programação de Python otimizada com inteligência artificial. O sistema, que passou a ser implementado em todas as lojas da rede no final de outubro de 2023, faz cálculos semanais e consegue processar mais de 16 milhões de informações por semana.
O ‘trigger level’ (ou ‘parâmetro de gatilho’, em tradução livre) faz cálculos de probabilidades rapidamente para saber em que nível de estoque de cada produto é melhor ele ser recomprado, ainda de maneira automatizada pelo sistema RELEX.
As variáveis que o algoritmo considera nos seus processamentos são estoque de determinado produto no momento, a frequência de venda daquele produto pela rede, a necessidade a curto prazo do produto, entre outros parâmetros. No início, quando foi implementado, o sistema demorava de 1 a 2 dias para concluir os cálculos de todos os produtos da rede varejista, mas, hoje, são gastas somente de 4 a 7 horas nesse processamento.
“O algoritmo pega as projeções de necessidade de compra em um ano feitas pela RELEX e vai testando todas as possibilidades possíveis para empurrar o sobrestoque e verificar se a compra pode ser feita em outro momento”, explica Rafael Cordeiro, líder de ciência de dados e IA da Leroy Merlin, que coordenou o projeto na companhia.
Nos aproximadamente três meses em que foram feitas as medições da implementação do ‘trigger level’, a Leroy Merlin conseguiu diminuir em cerca de 9% as compras da rede. Isso gerou uma economia de R$ 121 milhões para a varejista, enquanto o sistema custa, para rodar na empresa, aproximadamente R$ 300 por mês.
O algoritmo continua sendo usado nas operações da Leroy Merlin mesmo após o período de testes, que foi até o final de janeiro deste ano. Nos próximos meses, a companhia planeja refinar o funcionamento deste sistema, ampliando as variáveis que influenciam os cálculos.
* Sob supervisão de Maria Carolina Abe
Fonte: Época Negócios