Para a consultoria Robert Half, o setor prioriza pessoas agressivas para os negócios e deixa de lado aquelas com capacidade de análise. E isso dificulta encontrar novos caminhos num cenário adverso
No Brasil , 92% dos diretores de recursos de humanos afirmam que é difícil encontrar profissionais qualificados. E isso mesmo diante da crise econômica, que aumentou a oferta de mão de obra. A constatação é de pesquisa da consultoria Robert Half, que contou com a participação de 1.675 executivos de RH de 12 países. A Áustria empatou em número de respostas com os diretores brasileiros. Na sequência vieram Reino Unido, onde 91% apontaram essa mesma dificuldade, Holanda e Alemanha (com 89%) e Chile, com 88%.
Conforme o estudo, 41% dos diretores de RH brasileiros acreditam que a maior dificuldade ocorre devido à falta de especialistas no mercado e 34% afirmam que a procura é maior do que a oferta. No caso do varejo, as empresas costumam procurar por profissionais técnicos alocados na matriz, como os compradores, com perfil mais agressivo. “Mas acabam se esquecendo de que é interessante que esses colaboradores sejam mais analíticos, pois o mercado é muito competitivo”, afirma Jorge Martins, gerente de divisão da consultoria.
Segundo ele, ao avaliar e cruzar informações, enxergando o que a maioria deixa escapar, o profissional acaba gerando novas formas de negócios e contribuindo para melhorar a rentabilidade da empresa. Outra vantagem é que, devido à visão mais estratégica, esse funcionário geralmente não cai em armadilhas comuns. Por exemplo: o comprador com perfil analítico não realiza a compra de uma carga fechada se a mercadoria não tem bom giro, mesmo que o desconto seja sedutor. “Temos casos de profissionais que foram selecionados por nosso intermédio que têm conseguido alavancar as vendas das empresas que os contrataram em 20% a 25% em segmentos teoricamente desfavoráveis neste momento”, comenta Martins. “É preciso pensar fora da caixa. O mercado pode até não crescer, mas a companhia precisa continuar avançando. Buscar pessoas mais analíticas não significa abrir mão da agressividade nos negócios. É preciso considerar o todo”, acrescenta.
A dificuldade de encontrar profissionais mais qualificados também se explica, em muitos casos, pela contratação equivocada. O estudo da Robert Half aponta que 90% dos diretores de RH do País afirmam que já contrataram colaboradores que não atenderam às expectativas. E isso tem impactos sobre as empresas. Para 51% dos entrevistados, a principal consequência é a perda de produtividade; 28% apontam perda de moral e 17%, perda financeira. Segundo Martins, muitas empresas ainda buscam profissionais de forma equivocada. “É muito comum contratar alguém porque é amigo de algum gerente, por exemplo. Ou optar por profissionais com conhecimentos técnicos muito superficiais”, afirma. O gerente de divisão da consultoria lembra que a despesa para contratar, treinar e depois dispensar é muito alta. Para ele, encontrar uma pessoa diferenciada faz com que a companhia economize dinheiro e o gasto se transforme em investimento.