Estamos vivendo provavelmente o final da maior crise econômica da história recente do Brasil. No entanto precisamos lembrar que nosso País sempre foi caracterizado por ciclos que alternaram bons e maus momentos. Desde 1994, com a estabilização da economia brasileira, esses ciclos para o varejo ficaram ainda mais definidos. De 1994 a 2003 tivemos o ciclo da organização, da estruturação do crédito e do início da consolidação. De 2003 a 2013 o segundo ciclo; sem dúvida o de maior sucesso, o boom do consumo. Nesse período o varejo cresceu em média 2,5 vezes o PIB brasileiro.
Desde 2014 entramos em um novo ciclo caracterizado inicialmente pela desaceleração, depois pela retração e neste momento estamos praticamente em depressão econômica. Com essa queda brusca da demanda, as empresas foram forçadas a se reinventar para sobreviver. Nessa reinvenção aparecem na agenda duas pautas fundamentais; eficiência operacional e produtividade.
Reduzir custos, melhorar a operação e fazer mais com menos se tornaram expressões comuns nas reuniões de diretoria das empresas do varejo brasileiro.
O maior desafio, no entanto, é tornar essa agenda prática e com velocidade na execução!
Eu selecionei quatro dos temas mais relevantes da eficiência operacional e produtividade do varejo em 2017.
Custo Operacional
O elemento que tem gerado uma maior competitividade para diferentes formatos de varejo é um custo operacional mais baixo com relação a seus competidores. O custo operacional de uma loja é formado pela soma de todos os custos diretos da loja (pessoal, aluguel, energia, água, segurança, embalagens etc.).
No segmento de alimentos, o Cash & Carry é um exemplo de um formato que pelo baixo custo operacional vem ganhando participação de mercado. Em outros segmentos podemos destacar o E-Commerce como exemplo de canal de varejo com custo operacional mais baixo que muitas lojas e também vêm se tornando opção de compras dos brasileiros.
Gestão de Pessoas
Um estudo global recente realizado pela Conferente Board e divulgado pela Folha de São Paulo mostrou que são necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o mesmo que um americano. Além da vergonha inicial pelo choque com essa triste estatística, precisamos arregaçar as mangas e mudar essa história.
Um processo de contração mais cuidadoso, muito mais investimentos em treinamento, mais processos e um RH mais estratégico são alguns dos caminhos para ganharmos produtividade na gestão de pessoas do varejo brasileiro.
Rupturas
A busca pela redução das rupturas aparece como um dos principais elementos de construção de valor e aumento de produtividade para o varejo. Vamos começar conceituando a ruptura e classificando o problema em quatro tipos.
A ruptura é a perda de uma venda pela inexistência do produto no momento da compra.
Essa perda de venda pode ocorrer por quatro diferentes motivos:
1.Ruptura de cadastro: ocorre quando um cliente procura por um produto com o qual a loja não trabalha, não tem em seu cadastro, não faz parte de seu sortimento. Neste primeiro caso, o problema está relacionado à gestão do sortimento adequado para o público-alvo da empresa. Quando esse tipo de ruptura começar a ocorrer com frequência é necessária uma revisão do mix de produtos oferecidos.
2.Ruptura de Abastecimento ou Ruptura de compra: ocorre quando um item já cadastrado está em falta nas lojas por uma falha na compra ou no abastecimento. É um problema mais grave que o anterior já que muitos clientes acostumados a comprar determinados itens naquela loja terão problema se não encontrarem o item. Muitas vezes esse tipo de ruptura é gerado pelo chamado estoque virtual. Esse fenômeno acontece quando um item tem quantidades furtadas da loja, o sistema mostra estoque, mas o produto já não existe mais, o comprador acaba adiando o pedido e cria-se assim um ralo duplo de produtividade. Além de perder o produto, estamos perde-se venda.
3.Ruptura de Exposição: ocorre quando um item existe em estoque, mas não está exposto na loja. Esse erro acontece normalmente por um problema de reposição. Além da mesma gravidade do tipo anterior, o prejuízo é ainda maior, já que a loja irá perder uma venda ou até um cliente por causa de um item que foi comprado, está em estoque, mas por algum motivo de erro na operação não estava exposto ou disponível para o cliente.
4.Ruptura Fantasma: a mais curiosa das rupturas ocorre quando uma loja perde uma venda de um item cadastrado, comprado, estocado e exposto. Em lojas maiores o problema ocorre quando um cliente não encontra o produto (normalmente pela exposição em local equivocado) e em lojas menores por falta de informação dos vendedores que desconhecem a existência daquele item em estoque.
A somatória dessa perda de venda, de acordo com um estudo realizado pela Nielsen/Neogrid, pode representar até 6% no faturamento de uma loja e mais de 15% de perda de venda para a indústria. Além desse índice, o estudo realizado em 2015 apontou que 32,8% das gôndolas de supermercados estão desabastecidas.
Perdas
No varejo brasileiro convencionamos chamar de perdas toda diferença de inventário identificada em uma loja ao longo de um período. Em tempos de queda na rentabilidade, programas de prevenção de perdas são essenciais para a busca na eficiência e produtividade do varejo no Brasil já que diferentes estudos e pesquisas apontam para uma perda superior a 2% do faturamento bruto das redes de varejo brasileiras.
Um programa consistente de prevenção de perdas cobre as quatro principais origens do problema: furto externo, furto interno, erros operacionais e erros administrativos.
Perdas no varejo são combatidas em um equilíbrio entre tecnologia, processos e pessoas.
Precisamos estabelecer uma agenda prioritária para que esses quatro elementos da estratégia de uma empresa de varejo possam atingir indicadores mais produtivos e eficientes.
Enfim, o caminho para uma operação de varejo mais eficiente e mais produtiva é longo, mas possível. A boa notícia é que com essa “lição de casa” bem-feita estaremos criando empresas mais enxutas e preparadas para boas margens de lucro em um futuro ciclo de crescimento que esperamos estar próximo.
Eduardo Terra é sócio da BTR Educação e Consultoria e Presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo
Fonte: EPTV | Break