Relações entre shoppings e lojistas precisarão ser renegociadas para que o varejo tenha um futuro sólido após a saída da pandemia
Uma das grandes consequências da crise do coronavírus é um intenso movimento de renegociação de despesas em toda a cadeia de distribuição do varejo. No caso da relação entre lojistas e shopping centers, isso gera uma tensão extra, pelo fato de que ainda não está claro quando será possível reabrir as lojas.
“Não voltaremos para um cenário de normalidade, e nem mesmo próximo do que tínhamos antes da crise. Certamente o varejo digital muda de patamar, novos hábitos de consumo se consolidam e empresas que conseguirem cuidar de seus stakeholders terão mais sucesso no médio e longo prazo”, afirmou Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), em live sobre o varejo de moda nesta quinta-feira (09/04).
Sua opinião é compartilhada por Andrea Bisker, especialista em tendências de consumo e CEO da Spark:Off. “Talvez nunca mais se volte aos 100% que se vendia antes. O ‘novo normal’ será completamente diferente e precisaremos mudar a forma de fazer as coisas”, comenta. Segundo ela, este momento é um divisor de águas. “Estamos vivendo um portal entre o que tínhamos antes e o que virá a seguir. A ruptura já aconteceu, a gente é que, muitas vezes, tenta não reconhecer a mudança”, analisa.
Para ela, é hora de fazer mais e fazer menos publicidade. “A Coca-Cola é um bom exemplo: ela reverteu sua verba de comunicação em ações para salvar vidas. Isso é mais importante do que qualquer coisa. No futuro teremos a oportunidade de comunicar o que foi feito. Agora é hora de agir, de acordo com o propósito de cada empresa, sem parecer oportunista. Quem for visto dessa forma será brutalmente penalizado pelos consumidores”, afirma. Essa mudança alcança os consumidores, mas avança para as empresas. “É preciso repensar as relações em toda a cadeia de distribuição, buscando alternativas mais sustentáveis e equilibradas”, diz Andrea.
Isso vale para o setor de shopping centers. Lojistas e empreendimentos vêm negociando isenções e reduções de pagamentos mês a mês, individualmente, o que gera forte stress em todos os envolvidos. “No primeiro mês, as negociações estão sendo razoavelmente sensatas. A crise afeta a todos, mas quanto mais as relações na cadeia de valor puderem ser colaborativas, entendendo que este é um momento de emergência, melhor vai ficar a vida de todo mundo”, acredita Serrentino.
Para o especialista, porém, será preciso reequilibrar as relações entre shoppings e lojistas. “Se não é possível imaginar que as vendas retornarão tão cedo aos patamares pré-crise, passa a ser preciso flexibilizar contratos. Nesse sentido, as conversas entre ABF e Abrasce, representando franquias e shoppings, são positivas, pois apontam um caminho para todo o mercado”, comenta. A Associação Brasileira de Franchising encaminhou à entidade que representa os shopping centers uma carta propondo a revisão de pontos como a isenção da cobrança do aluguel fixo durante a crise e a possibilidade de flexibilizar multas nos casos de repasse ou fechamento de lojas. “Franqueadores podem se ver tendo que absorver lojas de franqueados, ou pode ser preciso repassar unidades. A mesma coisa pode acontecer nos independentes. Neste momento, medidas que ajudem a reorganizar o varejo pós-crise serão bem-vindas”, acredita Serrentino.
Para Tito Bessa Jr, fundador da rede de moda TNG e presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), é mais enfático. “A relação do lojista com os shoppings precisa ser repensada. Os shoppings precisarão se reinventar no pós-crise, e não só no horário de funcionamento ou no mix: eles terão que se reconstruir na relação com grande parte dos locatários. Essa relação, que era desigual, vai ter que ser mais igualitária, senão uma parcela enorme dos lojistas não vai sobreviver”, afirma.
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Fonte: Redação SBVC