Sem IPO, rede de lanchonetes fundada por Júnior Durski vende participação adicional à firma de private equity
Por Luiz Henrique Mendes
Sem caixa para honrar os passivos de curto prazo, o Madero teve de recorrer ao Carlyle para conseguir um alívio nas contas. A firma de private equity se comprometeu a injetar mais R$ 300 milhões na rede criada por Júnior Durski.
Num acordo assinado no sábado e anunciado ao mercado na manhã de hoje, o Madero informou que o Carlyle fará um aumento de capital na companhia. Ainda não está claro qual a participação adicional comprada pelo Carlyle. A gestora americana já era acionista na rede de lanchonetes desde 2019, quando investiu R$ 700 milhões por uma fatia de 27,6%.
O Carlyle também ficará com uma pequena parte das ações de Durski, numa transação secundária. A firma de private equity vai comprar 2,4 milhões de ações que pertencem ao empresário, o equivalente a uma participação de 0,76% antes do aumento de capital.
Antes da transação, o fundador do Madero possuía 205,5 milhões de ações, o que lhe dava uma participação de 64,8% na companhia. No fato relevante, a companhia fez questão de frisar que Durski permanece com o controle.1 de 1 Junior Durski permanece no controle do Madero — Foto: Divulgação
O Madero foi atingido fortemente pela pandemia, e precisou alongar os prazos de empréstimos com os bancos por diversas vezes. A rede pretendia fazer o IPO neste ano para melhorar a situação, mas a operação foi adiada com a piora das condições de mercado.
BTG Pactual, Itaú BBA e Bank of America, que coordenavam a oferta de ações, deram fôlego financeiro à rede, que pretendia usar o dinheiro do IPO para quitar dívidas caras (boa parte com esses mesmos bancos) e continuar o processo de expansão dos restaurantes. Sem o IPO, o Carlyle veio em socorro.
Na semana passada, o Madero evidenciou o aperto financeiro ao divulgar o balanço do terceiro trimestre. Conforme relatou Adriana Mattos, repórter especial do Valor, a rede destacou que vinha buscando linhas de crédito para reduzir os vencimentos de curto prazo. Ao mesmo tempo, o Madero conta com a volta das operações aos níveis pré-covid.
No fim de setembro, mais de R$ 660 milhões das dívidas do Madero venciam no curto prazo. No caixa, a rede contava com apenas R$ 36,5 milhões. A trajetória de endividamento mostra como a covid-19 foi especialmente deletéria para o grupo: o endividamento bruto passava de R$ 1 bilhão em setembro, um acréscimo de R$ 311 milhões em um ano (curiosamente, montante semelhante ao aporte que o Carlyle fará).
Ao anunciar o aporte do Carlyle, o Madero não fez menção direta ao endividamento e disse que a maior parte dos recursos recebidos será usada para expandir a rede, que já abriu 27 unidades em 2021.
“O Grupo Madero tem superado com sucesso os desafios impostos pela pandemia e está bem posicionado para alavancar sua plataforma verticalmente integrada única e um portfólio de grandes marcas para continuar com seu plano de expansão de forma sustentável no longo prazo”, disse o sócio e head global de consumo do Carlyle, Jay Sammons, no comunicado.
Operacionalmente, os resultados do Madero estão se recuperando do choque pandêmico. No acumulado do ano até setembro, a margem Ebitda atingiu 13,9%, ante menos de 3% em igual intervalo de 2020. A receitas também voltaram a crescer, chegando ao recorde de R$ 310 milhões no terceiro trimestre, um salto de 66,6%. Quando excluídas as novas lojas, as vendas estão em 95% dos níveis pré-pandemia.
Fonte: Pipeline