Por Daniela Braun – Embora esteja mais otimista quanto aos rumos da economia no país, em relação ao auge da pandemia da covid-19, o brasileiro busca alternativas para reduzir gastos em consumo, optando por marcas mais baratas e por produtos de menor tamanho ou quantidade.
Nos três meses encerrados em maio, 82% dos 1.000 brasileiros entrevistados pela consultoria McKinsey & Company haviam reduzido gastos em compras, aponta a “Pesquisa sobre o Sentimento do Consumidor”, feita em dez países.
Nas categorias de itens essenciais básicos, que compõem a cesta básica, 33% dos brasileiros compraram itens de tamanho reduzido ou menor quantidade, para economizar. Nos itens essenciais não-básicos como produtos de limpeza, essa fatia é de 18%.
Já a opção por marcas com preços mais baixos, conhecida como “trade down” foi praticada por 25% dos consumidores na compra de itens essenciais básicos e por 31% na escolha dos essenciais não-básicos, mostra o levantamento.
Na média de todas as categorias pesquisadas, 28% dos brasileiros optaram por marcas mais baratas na hora da compra, com maior incidência (21%) na escolha de alimentos não-perecíveis e pedidos de refeições por aplicativo.
Na ponta do lápis — Foto: Arte/Valor
Peso do “eu mereço”
A estratégia de consumo mais racional do brasileiro não elimina a compra do “eu mereço”. Segundo o estudo, 55% dos brasileiros disseram que previam esbanjar e se presentear nos próximos três meses. Liderando as indulgências estão as categorias de vestuário, beleza e higiene pessoal e calçados, revela a pesquisa.
Pedro Fernandes, sócio da McKinsey, nota que a prática de buscar fornecedores ou marcas de menor preço, conhecida como “trade down”, recuou em relação à média de 40% em 2022 e de 39% em 2021.
“Após um período de grande incerteza durante a pandemia da covid-19, o brasileiro está mais otimista e tem mais clareza de como a economia está se encaminhando”, avalia Fernandes, em entrevista ao Valor.
Grau de otimismo
Apesar das incertezas quanto à inflação e à instabilidade do emprego, que preocupam 53% e 37% dos pesquisados, respectivamente, 43% disseram acreditar que a economia se recuperará em dois ou três meses e se tornará tão ou mais forte do que antes da pandemia. Esta parcela era de 31% em agosto do ano passado e de 28% em setembro de 2020, no auge da pandemia.
O otimismo do brasileiro não é tão alto como em outros países como China e Índia, com 75% e 81% de confiança na recuperação pós-pandemia. Mas supera o clima dos Estados Unidos, com 36% de otimismo na recuperação econômica, e de alguns países da Europa, como Espanha e Itália, onde a confiança de recuperação é de 28% e 23%, respectivamente.
“Os americanos não estão acostumados com um cenário de inflação como os brasileiros”, observa Fernandes. Nos EUA, ele sinaliza um comportamento de compra racional diferente do adotado pelos brasileiros. “Em vez de partir para marcas mais baratas, os americanos buscam compras em volume maior e com cupons de descontos”, ele ilustra.
Embalagem menor e descontos
O recado da consultoria para fornecedores e marcas que concorrem pelo bolso apertado do consumidor brasileiro é buscar alternativas. “Convencer o consumidor a gastar um pouco mais não vai acontecer”, nota Rafael Lopes, sócio associado na McKinsey, que também é responsável pela pesquisa ao lado de Fernandes. “A ideia é oferecer embalagens menores, destacar itens mais acessíveis no portfólio e dar descontos, lembrando que o consumidor está pesquisando muito“
Fonte: Valor Econômico