À medida que fica mais sofisticada, a inteligência artificial (IA) vem sendo tratada como um segredo de negócio pelas empresas. Mas a B2W Digital – a companhia de comércio eletrônico que reúne as marcas Americanas.com, Submarino e Shoptime – decidiu fazer o caminho inverso. Depois de passar dois anos desenvolvendo seu sistema de IA, o Marvin, o grupo resolveu transformá-lo em uma plataforma aberta. Isso significa publicar o código principal do programa na internet e permitir que qualquer pessoa possa modificá-lo ou criar softwares e aplicativos com base na tecnologia.
A criação do sistema é resultado da contratação de profissionais e da aquisição de empresas especializadas, diz Vasco Crivelli Visconti, diretor da B2W Digital. Entre 2013 e 2015, o grupo adquiriu dez companhias de tecnologia, todas brasileiras, e triplicou o número de engenheiros de software – atualmente mais de mil deles trabalham na B2W Digital. “Nosso modelo de negócio depende muito da inovação”, justifica o executivo. O investimento total da companhia em suas operações no período foi de R$ 2,4 bilhões, mas não é revelado quanto disso foi para inovação.
O nome escolhido – Marvin – foi retirado de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, uma série de livros escritos pelo autor e comediante britânico Douglas Adams e festejado pelos nerds. No livro, Marvin é um androide cujo “cérebro tem o tamanho de um planeta” e é 50 mil vezes mais inteligente que qualquer ser humano. “É um robô que tem respostas para tudo”, diz Visconti.
Uma das aplicações do Marvin é melhorar o processo que define o preço das mercadorias, com base em duas variáveis fundamentais – quanto o cliente quer ou pode pagar pelo produto e o equilíbrio financeiro da empresa. Fazer recomendações ao cliente é outra tarefa. “Quando você tem milhões de pessoas entrando [nos sites] todo dia, a quantidade de combinações possíveis é muito grande”, afirma Visconti.
No caso de um vestido, por exemplo, o sistema consegue priorizar cores e formatos, entre outras características, para aumentar a chance de o cliente encontrar opções mais precisas do que está procurando.
No terceiro trimestre do ano fiscal 2017, o mais recente disponível, a B2W registrou receita de R$ 1,77 bilhão. O Ebitda (sigla em inglês para os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 159,5 milhões.
Além das aquisições, a empresa tem adotado outras medidas para acelerar a inovação. Em 2014, criou o Digital Labs para proporcionar ambientes de trabalho colaborativos em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade de Harvard. Um ano depois, abriu um escritório de pesquisa no MIT, em Boston. Também em 2015, inaugurou, em São Paulo, seu segundo centro de tecnologia. O primeiro, aberto em 2013, fica no Rio.
Com a decisão de transformar o Marvin em um sistema aberto, a ideia é reforçar a parceria com a comunidade acadêmica e os programadores em geral. Os dados dos clientes permanecerão confidenciais e não serão compartilhados. Só o “cérebro” da plataforma é que está disponível na internet.
Em parte, esse movimento é uma retribuição, já que o Marvin também usa elementos de código aberto. A percepção na B2W é que, ao abrir o código, muitas pessoas que não estão diretamente ligadas à companhia poderão acelerar o chamado “aprendizado de máquina”, o processo pelo qual as máquinas aprendem ao interagir com os seres humanos e, desse maneira, tornam-se mais eficientes.
“Trata-se de uma ciência nova”, afirma o executivo. “Quanto maior a comunidade que desenvolver [inovações] para o Marvin, melhor para nosso cliente”.
Fonte: Valor Econômico