Varejista analisa desde marcas de varejo até plataformas tecnológicas, incluindo de grandes a pequenos negócios que tenham potencial de geração de valor
Por Raquel Brandão e Mônica Scaramuzzo
A Arezzo não desistiu de fazer uma grande aquisição para crescer no varejo de moda, depois que foi atropelada pelo grupo Soma na compra da Hering. Em sua primeira entrevista após a tentativa frustrada de comprar a empresa centenária, Alexandre Birman, presidente da Arezzo&CO, diz ao Valor que o grupo continua olhando marcas que façam sentido ao negócio.
“A Arezzo busca aquisições que façam sentido ao nosso portfólio de marcas e no potencial de geração de valor do grupo”, afirma Birman, reforçando que a companhia tem uma área de fusões e aquisições ativa, que olha desde marcas até plataformas tecnológicas e de grandes e pequenos negócios. Não há planos de fazer “follow on” (oferta subsequente de ações). “Não queremos ser diluídos.”
O empresário diz que a estratégia de aquisições é complementar ao negócio. “O nosso foco principal é crescimento orgânico. Nosso portfólio, com exceção da Vans, são de marcas criadas por nós”, afirmou, lembrando a história da empresa, criada há 49 anos. “Não somos um grupo que tem uma estratégia de aquisições para crescer. Somos uma empresa de origem familiar com a capacidade muito grande de se reinventar ao longo dos anos e em que o crescimento inorgânico é complementar à nossa estratégia.”
Ao longo de mais de um ano de pandemia, a companhia, com forte participação no setor calçadista, teve de mudar a rota. Intensificou a digitalização, encurtou o calendário de lançamentos de coleções e passou a ser cada vez mais presente e atuante nas redes sociais, com campanhas e comunicação com os clientes.
O desempenho no primeiro trimestre já reflete isso. A receita líquida cresceu 33%, para R$ 499,9 milhões ante o mesmo período de 2020. O lucro líquido contábil subiu 15%, para R$ 29,8 milhões. O resultado é 310,7% maior se desconsiderados os R$ 30 milhões em créditos fiscais registrados nos primeiros três meses de 2020. As vendas on-line responderam por 27,7% no fim do primeiro trimestre – eram 15,9% há um ano.
As vendas do Dias das Mães, o “Natal do primeiro semestre” como define Birman, foram fortes e os resultados do segundo trimestre serão positivos em relação a 2020 e 2019.
“No fim de maio de 2020, quando tivemos o primeiro pico da pandemia, ficou nítida nossa capacidade e agilidade para mudar nosso rumo. Conseguimos consolidar no segundo semestre de 2020 o setor de calçados e bolsas femininos”, diz Birman. Era hora, então, de voltar ao plano de crescimento e entrar no segmento de vestuário.
Depois da compra da Reserva em outubro, a Arezzo retomou um namoro antigo: a Hering. A varejista, com sede em Blumenau (SC), já tinha sido avaliada pela Reserva em 2017, mesmo ano em que a Arezzo criou o primeiro estudo de sinergias com a Hering. Birman diz que “esse processo foi muito bem executado por nós, junto com BTG Pactual e Itaú BBA e o escritório de direito Stocche Forbes. O processo foi muito transparente.”
Em recente entrevista ao Valor, Fábio Hering disse que a abordagem da Arezzo foi mal estruturada. Para Birman, esse assunto foi superado. “Não tenho ‘hard feelings’ (ressentimentos). No sábado passado, encontrei o Fábio no meu condomínio de veraneio e tivemos uma conversa agradável, com relação de respeito.”
Com o “não” da Hering, o mercado quer saber os próximos passos da Arezzo. “Disciplina, diligência e foco no longo prazo”, diz Birman, que não nega uma aquisição em breve. Uma fonte de mercado diz que marcas da Restoque (dona da Les Lis Blanc e John John) poderiam ser um novo alvo. “Especulações vão acontecer.”
Para Birman, as estratégias para o curto prazo são voltadas para replicar na malharia o modelo que a Arezzo tem em calçados e também ampliar o poder das marcas nos Estados Unidos. “Somos um grupo fundado por uma família. É um marco uma empresa cinquentenária com capacidade de se reinventar ao longo dos últimos anos.”