Por Pedro Diniz
O casal Annamaria Brivio e Massimo Baltimora não conquistou os pés dos fashionistas falando apenas a língua de sua Itália natal, berço do que se entende por elegância clássica dos calçados e onde, agora, a Arezzo&Co. entra com os dois pés ao adquirir deles 65% da marca Paris, Texas.
Durante o anúncio, na manhã desta sexta-feira (3),em Paris, Alexandre Birman afirmou que um dos desejos para o futuro é que, com o acordo, o grupo tenha um centro de manufatura na Itália. A aquisição foi de R$ 136,1 milhões e trata-se da primeira compra de ativo internacional da companhia.
A diretora executiva de marcas da Arezzo&Co., Luciana Wodzik, disse ao Valor que a grife de luxo do grupo, a Alexandre Birman, já se beneficiará da cadeia de suprimentos da Paris, Texas. Por sua vez, a grife italiana ganha o “back office” da Arezzo & Co. e o investimento em publicidade que possibilitará, segundo Annamaria Bravio, “mostrar quem realmente somos”.
Quando começaram, em 2015, os fundadores da Paris,Texas tinham a ideia de colocar no mercado um contraponto aos “loafers”, botas e sapatos sociais um tanto básicos demais nas vitrines e dar nova vida, um apelo fashion, segundo Brivio, “ao que diferentes mulheres queriam usar”.
Quando iluminaram as cores das sandálias, aplicaram estampa de couro exótico e envernizaram as botas “over the knee”, acima do joelho e com salto fino. Ganharam tanto as celebridades, das irmãs Kardashian à cantora Miley Cyrus, quanto as mulheres comuns que conseguiam comprar peças de luxo a um preço mais acessível se comparado aos praticados pelo mercado tradicional italiano.
A média de US$ 720 e o máximo de US$ 1.500 pagos pela bota de cristais deram à grife um sucesso midiático que muitas das marcas mais reconhecidas da Itália têm de pagar para ter. Durante as semanas de moda, tops como a americana Gigi Hadid e influenciadoras, a exemplo da italiana Chiara Ferragni, se deixam fotografar com um par da grife do momento.
“Talvez nossos concorrentes sejam mais clássicos porque são estabelecidos desde sempre, e, você sabe, manter o ‘made in Italy’ é muito importante para todos nós. O que fizemos foi oferecer esses clássicos de uma forma mais sexy, de forma que pudessem transitar nas festas. Fizemos uma bota, mas aplicamos cores loucas, materiais fora do comum e demos essa ideia ‘edgy'”, diz Annamaria Bravio.
“Edgy” é um termo da moda para definir aquele item que se destaca no conjunto da roupa. E destaque é o que não falta na coleção que marca o acordo com a Arezzo & Co. Na apresentação que o grupo armou em Paris, em plena semana de moda local, havia botas forradas de pelo, sandálias com brilho forte e peças de veludo com tratamento amassado. O píton falso que forra uma das botas recebeu detalhes de cristais, por exemplo.
Costuras nos canos e fivelas por toda a extensão dos modelos gladiadora, com vazados laterais, completam a coleção. Há um toque de faroeste no modelos da marca, mas eles conservam as formas clássicas e o brilho ofuscante dos metalizados em voga nas passarelas.
O nome Paris, Texas, aliás, ilustra o que a marca representa em se tratando de estilo. Une tanto o ideal de elegância das casas de luxo europeias quanto o sentido mais casual dos modelos americanos.
O ajuste com o grupo brasileiro, portanto, teria sido ideal para firmar o desejo dos fundadores em ampliar tentáculos da grife, que tem produção concentrada na Toscana e na região de Veneza, dois centros da produção coureira “made in Italy”.
“Não havia um momento ideal para fecharmos um acordo, mas sim a pessoa certa. Porque não queríamos um investidor, mas sim um parceiro. Alexandre [Birman] compartilha conosco o amor pelos calçados e também a visão de moda que temos”, explica Bravio.
Fonte: Valor Econômico