Cerca de uma década após o início de uma parceria de sucesso, a Ancar Ivanhoe e a BR Malls, então responsáveis pela administração e operacionalização do Natal Shopping, se dissociaram. A Ancar Ivanhoe comprou os 50% do empreendimento que pertencia à BR Malls e, com isso, passou a ser proprietária majoritária do mais antigo shopping center da capital potiguar. O valor do negócio não foi informado pelas empresas e ficou sob sigilo até a confirmação da transação, em dezembro de 2017. Com isso, a Ancar ampliou a participação no mercado nacional e passou a contar com 22 shoppings espalhados pelo Brasil no portfólio.
Apesar da recessão que abalou a economia brasileira entre 2014 e 2017, gerando um número recorde de desempregados e subempregados, além do fechamento de milhares de lojas, o setor de shoppings encerrou o ano passado com números positivos. Somente no natal, período mais importante para o comércio, os centros comerciais ampliaram as vendas em 6%. Em todo o Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), o faturamento foi de R$ 167,7 bilhões no ano passado. O tráfego de pessoas registrado foi de 463,2 milhões e cerca de um milhão de trabalhadores estão empregados formalmente nos empreendimentos.
Na entrevista a seguir, o CEO da Ancar Ivanhoe, Evandro Ferrer, faz um balanço do mercado de shoppings centers, comenta os resultados do Natal Shopping e destaca como lojistas e empresários devem gerir seus negócios para extrair deles números e cifras positivas. Acompanhe.
Após a aquisição da participação societária da BR Malls, quais são as projeções da Ancar Ivanhoe para este ano?
A expectativa da Ancar Ivanhoe é a manutenção do fluxo e, em paralelo, um aumento de 12% em venda total no país. Vamos para uma cifra de R$ 12., bilhões em vendas. Acreditamos que o Natal Shopping vá seguir os números da Ancar Ivanhoe. Nós preparamos o shopping, adquirimos o mall no ano passado, estudamos muito o cenário. Fizemos um investimento muito elevado: dobramos nossa participação, éramos 50% junto com a BR Malls e compramos a parte deles, assumimos 100% do shopping. Para um empresário fazer isso, é preciso que tenha uma crença muito grande. Eu jamais iria apoiar uma decisão dessa se não acreditasse numa retomada muito forte do empreendimento. Então, estamos muito seguros. Esse shopping em especial, está totalmente pronto, fez expansão, revitalização, tem pouquíssimos ajustes a serem feitos. Estamos com uma excelente expectativa para Natal. Nós poderíamos investir esse recurso em outro mercado onde não estamos presentes, mas escolhemos ficar em Natal. Acreditamos no trabalho que pode ser feito aqui. É uma decisão desafiadora.
Isso significa que vocês apostam no mercado potiguar?
É um mercado bem distribuído. Os shoppings estão muito bem posicionados, é muita clara a leitura entre os três shoppings de relevância aqui. Eles estão geograficamente bem distribuídos em relação a posicionamento. Conseguimos fazer com o nosso shopping um posicionamento muito claro em relação ao consumidor que nós focamos. Como o Midway Mall tem o seu, como o Partage Norte Shopping tem o seu. Isso nos dá uma clareza muito grande do mercado, que é muito bem dividido juntamente com o mercado de rua, que também é muito forte.
Em relação ao mercado brasileiro, quais serão os movimentos da Ancar Ivanhoe? Vocês pretendem fazer novas aquisições?
Agora não. Nós fizemos muitos investimentos nos últimos anos e, este ano, pretendemos voltar nossa atenção para dentro dos shoppings. Temos alguns desafios em alguns deles, não é o caso do Natal Shopping, de reposição de lojistas, de ocupação com qualidade. Então, estamos cuidando da nossa casa, com o olhar voltado para dentro, claro que sempre atentos e abertos a aquisições que justificarem o investimento. A gente plantou muito e agora precisamos colher um pouco.
O senhor esteve em Natal no início deste mês apresentando uma palestra aos empresários locais. O assunto abordado foi o NRF (National Retail Federation). O que é esse projeto e qual a importância dele localmente?
O NRF é um evento que acontece todos os anos em Nova Iorque e reúne os varejistas do mundo inteiro e o Brasil já é a segunda maior delegação presente, só perde para os EUA. É um momento de avaliação, reflexão, identificação e confirmação de tendências. As informações são disponibilizadas. Quando voltamos para o Brasil, adaptamos o que vimos à nossa realidade e é isso que a Ancar Ivanhoe faz. Eu vou à NRF desde 2007. Na época, a tecnologia era uma ameaça para o mundo físico e isso mexeu com a cabeça de todos os lojistas, independentemente de onde estivesse. Se alguém fala que seu negócio sofre alguma ameaça, você se apavora. Depois de sete anos, você vê que aquela tendência não se confirmou e sim, que a loja física ganharia uma nova vida. Hoje, o varejista tem que saber utilizar a tecnologia como uma ferramenta. Há 10 anos a venda começava e terminava na loja. Hoje, começa num smartphone pela consulta do produto ou marca. O consumidor hoje chega à loja mais bem informado do que o vendedor, em muitos casos. Esse é um ponto de atenção dos varejistas: ele não pode permitir isso.
Qual era o foco no passado?
Há 10 anos, o foco do varejista era voltado para produto, hoje a prioridade é o consumidor. O foco hoje está nas informações, no que o cliente gosta de consumir, qual o estilo dele, o que valoriza. Quando o consumidor começa uma venda na internet e vai conhecer o produto na loja, vem a terceira dica para o lojista: cuidar do ambiente da loja, do merchandising, pois ali o consumidor pode confirmar uma compra ou não. É preciso cuidar do atendimento, pois o cliente tem que se sentir bem para concretizar a venda.
O assunto tecnologia continua em pauta. No que pode ser aliada neste processo?
A tecnologia está presente em tudo, no processo inteiro, do início ao fim. Não dá para viver sem a tecnologia. O que houve esse ano, é que a NRF foi a mais humana desde 2007. Não é que a tecnologia tenha perdido relevância, muito pelo contrário, a venda online vai subir, a dependência em relação à informática vai aumentar, mas o lado humano, a sensibilidade, o preparo, o atendimento, o relacionamento, a proximidade, isso ganhou relevância. O lado humano está ganhando esse valor. A tecnologia é apenas um meio. Mas a lembrança que você vai levar de um lugar sempre será um sorriso. Em shopping center, trazendo para o meu negócio, as tendências são o ganho de importância em dois grandes pilares: o dos serviços oferecidos para que facilitem a vida do consumidor; um outro pilar que vem crescendo absurdamente, é o de entretenimento e lazer, incluindo gastronomia. É o que refresca a mente, é o que faz você sair de casa. Esses dois pilares não concorrem com o mundo online. Nos grandes shoppings, esse mix representa 45% da nossa ABL (Área Bruta Locável). Isso é um percentual muito alto para o negócio, pois são áreas que demandam espaços maiores: cinema, parque, um mall mais confortável, mais humano, são áreas comuns para que o consumidor se sinta melhor, ou seja, a ideia é fazer o consumidor se sentir confortável e, consequentemente, ele vai comprar, se assim desejar. O Natal Shopping por exemplo, tem um mall bem cuidado, agradável, amplo, com uma iluminação natural, uma prestação de serviços cada vez melhor. O consumidor tem que chegar no nosso shopping e dizer que esse é o lugar dele, que aqui ele é bem tratado.
E esse cuidado deve se estender ao ambiente da loja?
Com certeza. Esse é um desafio muito grande, nós somos um market place, somos um lugar que reúne marcas às pessoas. Esse é o papel de um shopping center. Nós temos que estar próximos dos lojistas e vice-versa. Os dois juntos tem que proporcionar o que o consumidor espera. Eu não faço nada sem o lojista, não domino a informação do consumidor dele. Eu cuido do mix e ele do consumidor junto comigo. Esse é um desafio e uma motivação. Existe uma tendência muito forte de o fluxo de consumidor diminuir no mundo inteiro, ou seja, de menos passantes no shopping, mas existem dados que nos mostram que a taxa de conversão vem aumentando. Isso nos confirma que existem lojas que estão aproveitando muito bem quando o consumidor está dentro da sua loja.
Fonte: Tribuna do Norte