Por Fernanda Guimarães
A oferta subsequente (follow-on) do atacarejo Assaí acaba de quebrar um jejum de ofertas de ações na Bolsa brasileira em 2023 e garantiu um fôlego financeiro ao varejista francês Casino, que embolsou R$ 4,064 bilhões, ao vender 254 milhões de ações, que acabam de ser precificadas em R$ 16. Fato Relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no começo desta sexta-feira confirma informações apuradas pelo Valor mais cedo junto a fontes a par das negociações.
Foi vendida na oferta o lote principal e também o adicional (hot issue). Como resultado, o Casino viu sua fatia na companhia cair para cerca de 11,7% e uma nova tranche de venda é esperada pelo mercado, visto que a companhia francesa vive pressão de credores e possui dívidas a vencer no curto prazo. Por isso, a companhia ignorou o mercado mais volátil, situação deteriorada com a quebra do banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB). Considerando a venda que o Casino fez em novembro do ano passado, já embolsou cerca de R$ 6,6 bilhões com a venda de ações do Assaí.
Segundo uma fonte que acompanhou a operação, a demanda pela oferta ficou próxima de duas vezes a tranche principal. Mesmo sem gordura, a companhia vendeu todo a sua oferta adicional, disse uma fonte. A operação ocorreu apenas duas semanas depois do fim do “lock up” que restringiu a venda das ações por parte do varejista francês por 90 dias após a última oferta que ocorreu em novembro. Antes da oferta, o varejista francês possuía cerca de 30% do Assaí. Agora, dada a nova participação, que o posicionando como um acionista minoritário, o Casino terá sua atuação no Conselho de Administração reduzida para apenas um membro. Uma nova venda das ações poderá ocorrer em 90 dias, porque, assim como na oferta realizada no ano passado, foi acordado um lock-up, restringindo a venda de ações pelo Casino ao longo desse período.
Um gestor, que chegou a olhar a operação, decidiu não entrar, dado o contexto ruim de mercado e a própria situação do setor de varejo no Brasil. Fora isso, disse que o resultado do Assaí do quatro trimestre do ano passado não foi bom como o esperado. Ao longo de reuniões com investidores, a temática governança corporativa foi um dos principais temas tratados, mas visto com menos entusiasmo do que em novembro do ano passado, quando o Casino fez a primeira venda de ações do Assaí.
“A melhoria de governança com a saída do Casino [como acionista majoritário] já era algo precificado”, disse um gestor que participou das conversas. O que ganhou força nas conversas entre empresa e investidores é que, após a já saída completa do Casino, o Assaí se tornará uma “full corporation”, ou seja, com seu capital totalmente pulverizado. Foram coordenadores da oferta o BTG Pactual, Bradesco BBI, Itaú BBA e JP Morgan.
Fonte: Valor Econômico