24/03/2015 05:00
Por Marília de Camargo Cesar
Um sinal claro de que a disciplina fiscal é para valer reativaria rapidamente o interesse das empresas multinacionais europeias em investir no Brasil, bem como dos fundos a comprarem papéis do país. A opinião é de um especialista em acompanhar as crises econômicas brasileiras de um ponto de vista externo: Marcelo Cabral, diretor do Bradesco Europa. Segundo Cabral, o país deixou de ser visto como um mercado “exótico”, monitorado apenas por um grupo pequeno de especialistas em emergentes. “Brasil é mainstream e está em pé de igualdade com qualquer outro mercado do mundo. Não é mais concebível que uma empresa globalizada e um investidor financeiro globalizado deixem de acompanhar o país, que se consolidou como uma alternativa de investimento no portfólio do investidor global. Essa é a grande diferença das outras crises.”
A retomada dos negócios, por esta razão, pode se dar muito mais rapidamente que no passado, ele acredita. Basta uma indicação de que as novas metas fiscais serão atingidas. Cabral mudou-se para Londres há apenas seis meses, depois de 25 anos trabalhando para o banco em Nova York, onde era responsável pela distribuição da carteira de renda variável da instituição na Europa. Ele vê semelhanças e uma diferença significativa entre a crise atual e anteriores que o Brasil atravessou, como em 1992, 1994 e 2003. “Naquelas crises, como agora, nós tínhamos queda no preço dos ativos brasileiros e queda na liquidez dos mercados do Brasil. Mas a redução de interesse do investidor, que se viu antes, não ocorre agora. Nossas agendas continuam cheias e o investidor internacional continua acompanhando o Brasil com forte interesse.” O Bradesco tem 75 funcionários em seus escritórios no Reino Unido, Luxemburgo e Portugal. A base fica em Londres, onde acaba de se mudar para um andar em um moderno edifício na Old Broad Street, na City londrina. Da sala de reuniões, temse uma vista privilegiada do “Gherking”, como é conhecido o prédio em forma de pepino recentemente adquirido pelo Grupo Safra por 700 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 3,5 bilhões). São 700 metros quadrados e 25 funcionários.
O Bradesco Europa atende 310 clientes corporativos principalmente multinacionais com negócios no Brasil e companhias brasileiras com negócios na Europa e 150 clientes institucionais, fundos internacionais que investem na América Latina. O crescimento na carteira de empréstimos em 2014 foi de 62% e a expectativa este ano é de aumento de 15%. Os clientes institucionais, que têm uma visão mais curta, estão mais retraídos em função da atividade econômica no Brasil. “O volume da Bovespa caiu, a liquidez no mercado secundário caiu e a atividade de emissão de papéis também diminuiu, como reflexo dessa retração. O investidor está mais cauteloso. No lado comercial, as empresas têm visão de longo prazo. Nesse segmento, o impacto maior é da redução das taxas de juros na zona do euro, um fenômeno novo, o cenário de taxas de juros negativas. Isso afeta mais nosso negócio”, diz.
“Existe uma abundância muito grande de liquidez na Europa, e agora ainda mais, com a atividade do Banco Central Europeu e o ‘quantitative easing’ [afrouxamento quantitativo].” Por outro lado, o banco é favorecido pelo aumento da complexidade do cenário econômico no Brasil. “Nosso valor agregado aumenta quando aumentam os desafios e a complexidade. Nossa inteligência se torna mais valiosa num momento em que o mercado está mais volátil.” A jornalista viajou a convite do UK Trade&Investment
Valor Econômico – SP