Queda no volume de vendas no varejo restrito é a mais intensa desde dezembro de 2021, quando o recuo foi de 2,9%
Por Alessandra Saraiva
O volume de vendas no varejo restrito teve queda de 1,4% em junho, ante maio, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
É a mais intensa queda desde dezembro de 2021 (-2,9%). Em maio, frente a abril, o comércio tinha caído 0,4% (dado revisado após divulgação de 0,1%).
Na comparação com junho de 2021, o varejo restrito caiu 0,3%. O comércio restrito acumula queda de 0,9% no resultado acumulado em 12 meses até junho. No primeiro semestre de 2022, houve alta de 1,4% frente a igual período do ano passado.
O resultado de junho ante maio do varejo restrito veio menor que a mediana estimada pelo Valor Data, apurada junto a 30 consultorias e instituições financeiras, que era de queda de 1,2%. O intervalo das projeções para o varejo restrito era de queda de 2,6% a alta de 0,6%.
A queda de 0,3% ante junho de 2021 foi resultado pior do que o esperado. A expectativa mediana do Valor Data era de alta de 0,2%, com intervalo entre redução de 2,6% a crescimento de 2,5%.
A receita nominal do varejo restrito acumulou alta de 0,2% em junho, ante maio. Na comparação com junho de 2021, houve alta de 17,1%.
Atividade
Na passagem de maio para junho, houve recuos em tecidos, vestuário e calçados (-5,4%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-3,8%), Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,7%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,3%), Combustíveis e lubrificantes (-1,1%), Móveis e eletrodomésticos (-0,7%) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5%).
Por outro lado, entre maio e junho de 2022, o setor de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria mostrou crescimento (1,3%) nas vendas do varejo.
No âmbito do comércio varejista ampliado, que mostrou queda de 2,3% em junho ante maio, houve recuos nas vendas do varejo tanto para Veículos e motos, partes e peças (-4,1%) quanto para Material de construção (-1,0%).
Já na comparação com junho do ano passado, o comércio varejista mostrou predominância de taxas positivas. Houve aumentos nas vendas de varejo de Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (11,0%); Combustíveis e lubrificantes (7,8%); Livros, jornais, revistas e papelaria (2,6%); Tecidos, vestuário e calçados (2,2%); Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,5%); e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,4%).
Em contrapartida, houve quedas de volume de vendas de varejo em artigos de uso pessoal e doméstico (-11,4%) e Móveis e eletrodomésticos (-14,7%) em junho ante igual mês de ano anterior.
Vestuário e supermercados
A queda de 1,4% nas vendas do varejo restrito foi fortemente influenciada por comportamento de recuos, em vendas no mesmo período de comparação, em dois segmentos do comércio.
Em nota sobre a pesquisa, o IBGE detalhou que dois segmentos de comércio tiveram maior influência sobre o índice geral do varejo: tecidos, vestuário e calçados, com queda de 5,4%, e hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, segmento que recuou 0,5% no período.
“A atividade de hiper e supermercados teve uma influência importante da inflação ao longo do primeiro semestre do ano. Entre abril e maio, houve variação de 4% na receita e de 1% no volume de vendas, indicador em que a pesquisa já desconta a inflação. De maio para junho, essa atividade teve queda de 0,5% no volume, mas variou 0,3% em receita. Isso significa que há amplitude menor da inflação, mas o suficiente para que o volume tivesse uma variação negativa, apesar de a receita ficar no campo positivo”, explicou, em nota, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Abaixo do pico da série
O patamar do comércio varejista em junho está 4,6% abaixo de pico da série do levantamento, recorde observado em outubro de 2020. A informação é de Cristiano Santos, gerente da pesquisa.
Ele ponderou ainda que, na comparação com período pré-pandemia – iniciada em março de 2020-, no entanto, o patamar está 1,6% acima, em junho desse ano, no volume de negócios do comércio varejista.
Varejo ampliado
No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas caiu 2,3% na passagem entre maio e junho, já descontados os efeitos sazonais.
O número ficou abaixo do piso das projeções de 29 bancos e consultorias ouvidos pelo Valor Data, que iam de -2,1% a +1,0%, com mediana de -0,7%.
Na comparação com junho de 2021, o volume de vendas do varejo ampliado caiu 3,1%. A expectativa mediana, pelo Valor Data, era de aumento de 0,1%.
IBGE também revisou variação de vendas do varejo ampliado de maio ante abril de 0,2% para 0,3%.
Já a receita nominal do varejo ampliado recuou 0,9% em junho, frente a maio, na série com ajuste sazonal. Na comparação com junho de 2021, houve alta de 13,6%.
Acumulado
As vendas do varejo restrito na leitura da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acumulam queda de 0,9% em 12 meses até agosto. Em maio desse ano, já registravam recuo de 0,4% na taxa acumulada em 12 meses até aquele mês.
Segundo o gerente da PMC, Cristiano Santos, foi a primeira vez que a taxa acumulada em 12 meses do volume de vendas do varejo restrito fica negativa por dois meses seguidos desde 2017. Na prática, acrescentou ele, isso comprova perda de fôlego nas vendas do comércio varejista, até junho.
Ele detalhou que, em 2017, essa taxa em 12 meses do volume de vendas do varejo restrito, mostrou taxa negativa de 0,7% em setembro daquele ano; e em agosto, com recuo de 1,6%, também naquele mesmo ano.
Fonte: Valor Invest