Empresa passou por reformulação, enxugou estrutura e agora coloca foco na expansão da operação digital e no lançamento de produtos
Quando a pandemia do novo coronavírus começou, a C&C-Casa & Construção, rede do conglomerado Alfa, tinha trocado de presidente poucos meses antes e iniciado o desenho de mais um plano de reestruturação dos negócios, após perder mercado para concorrentes em decorrência de um projeto que não trazia resultados. A venda de eletrodomésticos, defendida como necessária porque seria complementar ao negócio, não deslanchava e a demanda pelo on-line era pouco relevante, menos de 5% das vendas.
Na época, rivais como Telha Norte e Leroy Merlin avançavam sobre novas praças e rumores cresciam até mesmo sobre planos de abertura de capital na bolsa, caso da rede Quero-Quero. “Seguimos um caminho que não trouxe resultados que os donos previram e agora não dá para esperar mais”, resume Marcelo Roffe, diretor-geral da rede.
Com 35 lojas no país, a C&C contratou, em outubro de 2019, Roffe (ex-Saint Gobain) e Christophe Auger (ex-Dicico) para dividirem o comando da companhia e montar um plano para tentar melhorar os números, após expansão abaixo do ritmo do mercado. “O projeto se baseou em revisão de portfólio de itens à venda, renegociação de contratos com fornecedores para rever condições comerciais, porque não aproveitávamos o poder da nossa escala nesses acordos, avaliação de lojas deficitárias e aceleração do digital”, disse Roffe. “Então veio a crise e avançamos mais rápido com isso.”
A C&C interrompeu a venda de produtos para “pet”, eletrodomésticos e portáteis nas lojas, e passou a comercializar esses itens só pelo on-line, no ano passado. Também fechou, em 2020, três lojas que davam prejuízo, reduzindo o número de 38 para 35 unidades no país. E iniciou um processo, ao custo de R$ 10 milhões, de instalação dos sistemas de gestão SAP, para a área tributária, financeira, logística — algo que algumas das grandes redes no país já utilizam — e amplia o controle e eficiência de processos do dia a dia e da cadeia de abastecimento.
Após março do ano passado, com a pandemia, outras medidas também foram tomadas para tentar enxugar mais a estrutura. A empresa demitiu empregados, numa das maiores reduções de pessoal dos últimos anos, segundo fontes do setor. Em meados do ano passado, segundo informações que circulavam no mercado na época, as demissões teriam atingido entre 150 a 200 pessoas, mas Roffe diz que o número total foi bem maior, sem detalhar.
A empresa opera em São Paulo, no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Em 2013, eram cerca de 5 mil colaboradores com 44 lojas. Hoje, com 35 lojas, são 2,8 mil, reflexo de fechamento de unidades ao longo da década.
De acordo com Roffe, esse movimento de revisão de tamanho foi concluído e os projetos em curso hoje envolvem o avanço na instalação do SAP, já em andamento (deve levar até dois anos), o lançamento de um cartão “private label” com o Bradesco (o acordo anterior com a Cetelem foi finalizado), reforma do layout das lojas e instalação de um novo programa de determinação de preços, que vai se basear na elasticidade entre preço e demanda de cada produto, algo que ainda não existia na rede.
A rede também vai voltar a abrir lojas, apesar de num nível abaixo de frente a alguns concorrentes, como Telha Norte. Serão três neste ano, e a última abertura foi no fim de 2019.
Segundo Roffe, apesar da pandemia, a classificação das lojas de materiais de construção como essenciais em algumas praças do país ajudou a sustentar os resultados do setor na crise. Em São Paulo, principal mercado da rede, na segunda onda da covid -19, ocorrida neste ano, as lojas do setor permaneceram fechadas alguns dias até que o governo determinasse a essencialidade. Nesse período, a venda despencou, apesar de a empresa ter ampliado a operação digital — representa 15% das vendas hoje, enquanto em 2019 era um terço disso.
“Janeiro e fevereiro vinham muito bem, mas março desacelerou por conta do aumento das restrições pelo país. Teremos um segundo trimestre um pouco semelhante com o de 2020 pelas incertezas e pelo abre e fecha de lojas pelos país”, diz ele.
“Achamos que o segundo semestre será parecido em vendas com o segundo semestre de 2020, o que é bom, porque para o setor o período foi um dos melhores dos últimos anos, com o crescimento das reformas em casa e o ‘boom’ do setor da construção civil”, afirma Roffe. A empresa tem vendas anuais na faixa de R$ 1,5 bilhão, e não faz projeções a respeito desse número.
Segundo o Valor apurou, após a morte do banqueiro Aloysio Faria, fundador do Grupo Alfa, em setembro de 2020, algumas ações mais focadas em resultado, que evitem aportes na empresa, como já ocorreram no passado, passaram a ser mais cobradas. Faria tinha um vínculo emocional com o negócio, o que também impedia negociações de fusão ou aquisição da companhia, diz uma fonte. Hoje, sobre eventual associação ou venda, Roffe responde: “Estamos trabalhando, olhando qualquer tipo de operação possível.”