Flávia Ayer No país do carnaval, a crise econômica não perdoa a folia. Em Belo Horizonte, a três semanas da festa momesca e com ensaios de blocos a todo vapor, comerciantes de instrumentos musicais lamentam a queda das vendas e se queixam do sumiço dos clientes. O baixo movimento na época que já foi considerada o Natal do segmento é debitado ao corte de verbas das prefeituras do interior para a comemoração. Se não bastasse o fato de a turbulência ter atropelado os cofres municipais, o calendário deste ano também atirou um balde de água fria aos caixas registradores das lojas, dando início ao evento em 6 de fevereiro, quando os consumidores ainda terão de priorizar o pagamento de impostos e do material escolar das crianças. No polo comercial da Avenida Olegário Maciel, no Centro de BH, onde se concentram as lojas de instrumentos musicais, a reclamação é geral. Não está surgindo pedido. Quase ninguém tem vindo comprar. Estamos vendendo picado, para uma pessoa ou outra, afirma o administrador da Estação Musical, Hélio Teixeira. Segundo ele, a queda dos negócios já chega aos 40% e os instrumentos mais procurados, a exemplo de surdo, caixa, tamborim e ganzá, não deixam o estoque baixar. Na Passarela do Som, a situação não é diferente. Estamos vendendo poucos instrumentos de percussão, comenta o gerente, Éder Silva de Azevedo. Sem saber o que fazer, o comerciante Arivaldo Chaves Pereira, da Gupiara, espera que, nesta reta final para a folia, os clientes apareçam. O carnaval sempre foi boa época para vender instrumentos. Até os colégios, que compravam muito, não estão fazendo nem orçamento, conta. Além dos efeitos da crise econômica, Arivaldo acredita que a proximidade do carnaval, neste ano, com um janeiro tradicionalmente carrega[SOFT] do pelos gastos com impostos e o ano letivo deixou o bolso do folião mais apertado. “As pessoas estão com medo de gastar. O carnaval veio em cima de tantas contas para pagar”, diz. Na semana passada, reportagem do Estado de Minas mostrou que a crise vai atravessar o samba em pelo menos 18 cidades mineiras, entre elas, municípios com tradição na folia, como Ouro Preto e Diamantina. A festa será reduzida em 15 delas. Formiga, no Centro-Oeste, e Lavras, no Sul de Minas, cancelaram o carnaval, e Cláudio, também no Centro-Oeste do estado, vai bancar um pré-carnaval em lugar do tradicional evento. O corte de verbas é mais um golpe desferido contra os foliões, pois, no ano passado, a falta de água levou ao cancelamento da festa em 23 lugares. BLOCOS DE RUA A venda de instrumentos para os blocos de rua de BH é que está salvando o carnaval das lojas Musical Lira e A Seresteira, da mesma rede. A gerente dos estabelecimentos, Daniela Fernandes, está em contato direto com os regentes de blocos, a exemplo do Então, Brilha e do Baianas Ozadas, e tem se esforçado para oferecer nas lojas os produtos usados pelas agremiações. “Fomos nos adaptando às demandas deles, conta a gerente, que, por causa desses clientes especiais, também começou a tocar no carnaval de BH. Apesar do movimento 30% superior ao nível considerado normal das vendas nos dois estabelecimentos, quando comparadas aos negócios do período do carnaval, este ano está aquém do observado em 2014. Naquele ano, houve uma explosão da procura por instrumentos musicais para os bloquinhos da capital.
O Estado de Minas on-line – MG