A alta de 0,6% das vendas no varejo em outubro surpreendeu positivamente economistas, mas deve ter sido apenas um soluço em meio à tendência de desaceleração do comércio. A estimativa média de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o volume de vendas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, diminuiu 0,9% entre outubro e novembro, feitos os ajustes sazonais, mais do que devolvendo o aumento observado no mês anterior. As projeções para a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de alta de 0,2% até contração de 2%.
Para o varejo ampliado – que considera, além dos oito segmentos pesquisados no comércio restrito, os preços de veículos e material de construção -, 14 economistas preveem tombo um pouco menor, de 0,3%. Na comparação com novembro de 2014, porém, a retração deve chegar a 14,4%, na média das estimativas.
Para Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong, a trajetória da atividade é de desaceleração e o resultado de outubro foi uma surpresa positiva, mas passageira. “Em novembro, o varejo deve devolver parte, senão toda a alta observada no mês anterior”, diz Serrano, que projeta queda de 0,6% das vendas. Para ele, é improvável que o comércio apresente recuperação diante da deterioração do mercado de trabalho, da falta de confiança dos consumidores e da contração da renda, que em novembro de 2015 foi de 8% em relação a igual período de 2014.
Outro ponto que afasta as chances de que o resultado de outubro aponte reversão da tendência, afirma, é a abrangência da recessão atual, que atinge todos os setores. “Na indústria, a queda se espalhou para praticamente todos os ramos, assim como no comércio”, afirma ele.
A retração do consumo, diz, ainda é mais forte entre os bens duráveis, mas há algum tempo também afeta os setores mais ligados ao rendimento das famílias, como vestuário e combustíveis.
Nem mesmo a Black Friday foi capaz de reanimar o setor. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), o fluxo de pessoas nos centros comerciais durante a Black Friday foi mais fraco do que em 2014, com movimentação 3,87% inferior à observada no mesmo período de 2014. Sem esse empurrão, a atividade no comércio varejista encolheu 0,3%, segundo a Serasa Experian, na sexta queda mensal seguida. “Com a Black Friday mais magra que a de 2014, esperamos mais uma queda do comércio varejista em novembro, de 0,4%”, diz a Rosenberg Associados.
O Itaú é ainda mais negativo. Para o banco, o varejo deve manter a tendência declinante vista na maior parte de 2015, com queda de 2% das vendas em novembro. Para o comércio ampliado, a equipe do Itaú estima retração de 0,9% das vendas na passagem mensal, a quarta seguida nessa comparação.
Serrano observa que o desempenho ruim do varejo ampliado é um sinal particularmente ruim, porque é o indicador usado para o cálculo do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que deve ser divulgado no fim da semana. Para ele, os dados já publicados sugerem mais um mês de recuo do índice, o que leva a crer que o PIB do quarto trimestre pode repetir o desempenho bastante negativo observado entre julho e setembro, de -1,7% na comparação com o trimestre anterior.
Valor Econômico – SP