24/12/2015
No Natal, tudo é diferente. Crianças esperam por presentes. Festejam quando ganham o que foi pedido. Adultos comem mais do que devem. E bebem bem mais do que devem. Natal é uma data especial. Que antecede uma correria insana. Em supermercados, onde todos procuram frutas, panetones, cervejas, espumantes, carnes, chocolates e outros itens saborosos. Encontrados os produtos ambicionados, aglomeração em frente aos guichês dos caixas é rotina inevitável. Paciência. Muita paciência.
Nos últimos dias da semana antes do Natal, a pressão arterial sobe por causa do estresse do período. Falta muita coisa a fazer. A desarrumação tolerada em casa durante 11 meses e 20 dias parece insuportável, enquanto o ar-condicionado não vence a temperatura alta.
Temos coisas demais a deixar prontas. Compras emergenciais em vários locais. Enfrentamento no trânsito congestionado. Cartão de crédito prestes a estourar.
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Por enquanto, a gritaria natural em endereços onde moram famílias grandes é de alegrias pelo olhar escancarado sobre as lembranças tornadas presentes. O olfato, a se deliciar antecipadamente diante das guloseimas postas à mesa. Agora que chegaram o dia e a noite de comemorações, cometemos exageros para festejar o ano quase acabando. O efeito da festança tende a se materializar no fígado doído ou no colesterol elevado. Ou em problemas de pele. Ou em dor de cabeça persistente.
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A crônica parece esquisita e prosaica demais para uma coluna de economia? Juro que não é. Aos argumentos.
Todos os atos descritos nos parágrafos acima têm íntima relação com o dia a dia das atividades empresariais, a envolver atores de diferentes áreas de negócios. A compra de presentes anima o comércio, independentemente do ramo. A ida aos mercados gera, também, mais ISS e ICMS. Em ambos os casos, aumenta a arrecadação dos governos municipal e do Estado. Este, portanto, fica apto a usar o dinheiro para honrar compromissos com servidores ou fornecedores. Ou, até mesmo, em investir em obras de interesse coletivo.
Igualmente, as vendas concretizadas criam valor aos acionistas e donos dos empreendimentos. Eles podem reaplicar o dinheiro obtido e gerar novos empregos, se for a intenção de expandir atividades. Também podem poupar os recursos apurados. Aí, permitirão a utilização da grana pelos bancos, que vão remunerar o capital e, em seguida, emprestar seletivamente a outros.
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Pegar o carro e ligar o motor significa dar dinamismo à economia de outra forma. A compra de gasolina, álcool ou diesel, em postos de combustíveis, faz, de novo, girar a roda. Mais ainda. A verificação de que o limite do cartão já foi quase utilizado pode causar efeitos emocionais. Com chance de se espalharem para o organismo de cada um, em pontos nos quais se é mais sensível aos desgastes e frustrações do cotidiano. Vai daí a possível necessidade de socorro em farmácias, clínicas médicas e, eventualmente, em emergências de hospitais.
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Vimos, nesta síntese, só um pouquinho da importância do Natal como fator econômico. No mínimo, envolve nove interlocutores. E nem falamos do aspecto religioso, catalisador das emoções da alma. Outro vetor do ânimo. Aliás, elemento decisivo a tornar as pessoas dispostas a reiniciar o ciclo a cada manhã.
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Por isso tudo, a contabilidade do Natal impõe números grandiosos. Neste ano, sem dúvida mais tímidos, porque as pessoas dispõem de menos dinheiro. As lembrancinhas predominam. As despesas ficam menores. Ainda assim, a data determina um ciclo de atenções aos dois vetores a conduzir a existência humana: o do consumo aparente e diário; e o do espiritual, sempre menos visível. Demonstrar padrão de vida melhorado faz parte do comportamento exibicionista de homens e de mulheres. Mais das mulheres. Expressar emoções é, em nossa cultura, quase um sacrilégio. No geral, queremos dizer das nossas conquistas. Detestamos que os demais percebam nossas fraquezas.
A Notícia (Joinville) – SC