15/12/2015 às 05h00 Por Adriana Mattos | De São Paulo Os principais executivos das três maiores redes de varejo do país, Casas Bahia, Ponto Frio e Magazine Luiza, estiveram reunidos com investidores e analistas na semana passada para esclarecer o que farão para estancar perdas. As redes enfrentam o pior período de vendas da história recente do setor são 10 meses consecutivos com vendas em queda, o pior desempenho desde 2003, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro Geografia e Estatística). Magazine Luiza, rede comandada pela família Trajano, cai menos em vendas do que a Via Varejo (dona de Casas Bahia e Ponto Frio). Mas esta está com caixa mais reforçado e tem maior fôlego financeiro do que o Magazine Luiza. Magazine tem menores escala e poder de barganha junto a fornecedores em valor, vende menos da metade da rival. Via Varejo, por sua vez, é alvo de dúvidas do setor sobre as capacidades para colocar a empresa no rumo, após erros na estratégia comercial meses atrás e uma série de mudanças no alto escalão (quatro CEOs em três anos). Constantemente questionadas neste ano, as diretorias das duas empresas admitem certas falhas, culpam o cenário econômico e mostram medidas para reação. O Grupo Pão de Açúcar, controlador da Via Varejo, diz que esta empresa perdeu mercado para o Magazine, mas isso teria parado “recuperamos participação no quarto trimestre”, diz Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA. A empresa está adotando política mais agressiva em preços para voltar a vender mais, o que pode trazer problemas para o Magazine, diz em relatório Guilherme Assis, da Brasil Plural. Se precisar, Casas Bahia e Ponto Frio têm caixa para “queimar”, apesar de a Via Varejo dizer que não vai usar caixa para financiar ganhos de participação. Parte da margem bruta menor (reflexo dessa estratégia de preços agressivos), tem sido “bancada” por negociações mais combativas com a indústria, além do atual movimento de redução de despesas operacionais. “Via Varejo tem algumas vantagens competitivas, como um forte balanço financeiro, maior escala e poder de barganha com fornecedores”, escreveu Assis, em relatório, na sextafeira. “No entanto, acreditamos que depois da partida da família Klein das operações da Via Varejo, a empresa carece de uma liderança real de varejo para capitalizar seus pontos fortes”. A dona de Casas Bahia e Ponto Frio é comandada desde outubro por Peter Estermann. Antes, passou um ano e meio no GPA. Já foi de Magnesita, Medial e Telemar Norte Leste (quando Iabrudi a presidiu). Questionada sobre a estratégia para reação em 2016, Via Varejo tem reforçado que parte de sua política comercial é sustentada pelos cortes de despesas e aumento de eficiência interna (11 mil vagas foram reduzidas neste ano). É a estratégia do repasse de menores custos ao preço, que funciona quando o nível de serviço nas lojas não sai chamuscado pelos cortes. “Ajustes implementados devem gerar economias importantes, mas as vendas em declínio e uma política de preços mais agressiva poderia representar riscos relevantes para as margens”, observa Marcel Moraes, analista do Deutsche Bank. Na avaliação de Assis, o Magazine Luiza preserva um “DNA de varejo” mais forte que o da concorrente a rede tem no conselho de administração Luiza Trajano e Marcelo Silva (exPernambucanas, exBompreço), o que poderia ajudar o Magazine “a manter a sua força de vendas motivada durante tempos difíceis”. Ao comentar caminhos que a rede deve seguir para os próximos anos, Frederico Trajano, novo presidente do Magazine e filho de Luiza Trajano, fala em criar uma “empresa digital com lojas físicas”, invertendo a lógica atual do mercado (e mais alinhado à linha do varejo lá fora), algo que na prática, a Via Varejo também menciona. Mas há diferenças. O Magazine já tem todas as lojas e site integrados sob mesmo sistema e CNPJ, o que facilita operar a multicanalidade. “Esses passos que eles [na área digital] têm dado são positivos no longo prazo, mas no curto prazo nos preocupa como as condições macro afetam a rede”, diz Assis. “Estamos particularmente preocupados com uma guerra de preços da Via Varejo, que recentemente aumentou os investimentos em marketing e anunciou que irá reduzir os preços para recuperar mercado, e preocupa a alavancagem do Magazine Luiza […] está 2,5 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda [era 1,7 há um ano]”, afirma. Uma lenta geração de fluxo de caixa livre é outra preocupação dos especialistas. O crescimento do faturamento do Magazine Luiza não se traduziu em aumento dessa linha, particularmente em operações de varejo. Questionado sobre o tema na semana passada, em reunião com analistas, a gestão disse vai se concentrar no tema em 2016, por meio, por exemplo, da extensão de pagamentos aos fornecedores. “A gente vai focar muito em geração de caixa. Mas temos que ter leitura boa do mercado, porque não adianta ter preço alto e não vender”, disse Trajano, ao ser perguntado sobre o assunto por analistas na semana passada.
Valor Econômico – SP