04/12/2015 às 05h00 Por Tatiane Bortolozi | De São José dos Pinhais (PR) O grupo de produtos de beleza Boticário estima encerrar o ano com crescimento de um dígito, segundo o presidenteexecutivo da companhia Artur Grymbaum. As quatro unidades de negócio do grupo O Boticário, Quem disse, Berenice?, The beauty box e Eudora avançaram 16% em 2014, com faturamento de R$ 9,3 bilhões, incluindo as franquias. Grymbaum afirma que o ano foi atípico e acredita que o país vai demorar a traçar uma recuperação, ao menos até 2018. “O ano de 2016 será tão ou mais complexo que 2015”, diz, observando que esta crise é diferente das anteriores porque tem como pano de fundo a indefinição política, que engessa medidas de reforma econômica e leva os empresários a contingenciarem investimentos. “O que todo mundo quer é um horizonte mais claro.” O grupo Boticário aproveitou o ano para redesenhar a estrutura organizacional, com a criação de quatro vicepresidências, divididas em franquias, novos negócios, corporativa e desenvolvimento humano e organizacional, que ajudaram a melhorar a eficiência. A companhia também ajustou processos para reduzir custos e aumentou a integração com franqueados para ganhar agilidade. O fundador Miguel Krigsner considera que o ano foi “razoável”. Ao participar de evento com jornalistas na sede da empresa, em São José dos Pinhais (PR), Krigsner disse ontem que desde a fundação da empresa, em 1977, a perspectiva de reação do país à crise não era tão demorada quanto agora. Ele ponderou que o grupo costuma crescer mesmo nestes períodos por seu planejamento de médio e longo prazo e pela capacidade de adaptação. O setor de beleza passa por sua primeira retração em 23 anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal e Cosméticos (Abihpec). De janeiro a setembro, as vendas registram queda real de 6,7%, na comparação com igual período de 2014, afetadas por recessão econômica, alta da inflação, mudança na tributação do IPI e custos mais altos de insumos como água e energia. Apesar do cenário pior, o grupo paranaense conseguiu ampliar a atuação das quatro marcas neste ano. Foram abertas 75 lojas, acima da previsão de 50 novas unidades. Mas segundo Grymbaum, a empresa teve um olhar mais crítico para inaugurações e intensificou as negociações antes de assumir os riscos de novos empreendimentos. Ao mesmo tempo, aproveitou oportunidades como o aumento de espaços disponíveis para locação em shoppings. O grupo estima inaugurar de 35 a 50 novas lojas em 2016, embora não haja um número fechado. Segundo o presidente, “não seria de bom tom acelerar muito o número de aberturas, pois muitos franqueados passam por um momento de ajuste de gestão, reconfiguração de equipes e, às vezes, as pessoas têm um receio até maior do que deveriam tanto lojistas quanto consumidores”. A empresa tem hoje 3.962 pontos de venda. O comando do Boticário não se arrisca a traçar projeções para as vendas de Natal, que representam 30% das receitas do varejo no ano, pela falta de definição do cenário de curto prazo. Os resultados da semana de promoções “Black Week”, no fim de novembro, ainda estão sendo contabilizados. A mudança no comportamento de compra nas lojas não é muito clara, mas a empresa percebe que o número de produtos na cesta está menor. “O consumidor não fez o ‘trade down’ (troca para uma marca mais barata), mas diminuiu a quantidade”, diz Grymbaum. O quadro de funcionários foi mantido em 7 mil colaboradores neste ano, praticamente estável em relação a 2014. A companhia atua há pouco mais de um ano na Bahia, com 600 funcionários na fábrica de Camaçari e no centro de distribuição de São Gonçalo dos Campos. A companhia fará menos contratações de funcionários temporários para reforçar a produção de fim de ano e o varejo também deve ser mais cauteloso. Entre 2012 e 2014, o Boticário contratou cerca de 1 mil pessoas por ano. A companhia termina 2015 com o lançamento de 1,3 mil produtos. O investimento em inovação equivale a 2,5% do faturamento anual.
Valor Econômico – SP