30/11/2015 às 05h00
Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo
O surgimento das plataformas online de intermediação de crédito dá um novo fôlego às pequenas e médias empresas em busca de capital em um momento de retração das instituições financeiras. O pulo do gato é concentrar diversas ofertas em um mesmo local, cobrando comissão por negócios fechados e facilitando a vida dos tomadores, que não precisam mais buscar diversos estabelecimentos diferentes para negociações individuais.
A Intoo e a Broadfactor estão concentradas em antecipação de recebíveis. A primeira nasceu em 2013 por iniciativa dos sócios Bruno Maggi e Renato Farache. Foi selecionada pelo programa Brasil, passou um ano incubada na Wayra, da Telefônica, e depois de receber aportes de um anjo do mercado financeiro e do fundo Artex Capital, do grupo 3G, e fechar contratos com instituições financeiras, entre elas a Caixa, começou a operar no ano passado.
Este ano, os fundos Monashees, Redpoint e Accion reforçaram o caixa da empresa, que já soma aportes de US$ 5 milhões. Até outubro, as solicitações de crédito superou R$ 1 bilhão. Da oferta mais ampla de operações em um primeiro momento, hoje o foco da Intoo é em recebíveis, evitando etapas mais complexas como a avaliação de garantias para operações como capital de giro. “A meta é tornar a operação totalmente digital”, diz Bruno.
Atualmente, a plataforma concentra mais de 40 mil empresas cadastradas, com faturamento entre R$ 200 mil e R$ 2 milhões, e 56 instituições financeiras, incluindo bancos de médio porte, como Pan e Indusval e fundos de investimento em direitos creditórios (FDICs). “A plataforma facilita a prospecção. Mas a tecnologia não basta, tem de ter alguém visitando e fazendo a gestão do cliente”, afirma Maria Isabel Camargo, da Midas Fomento Mercantil, que em quatro meses conquistou dez clientes via Intoo, a maior parte do setor industrial.
A Broadfactor atua na mesma área. A plataforma nasceu em 2012 para atender a empresa de fomento Federal Invest, onde chegou a somar 48 clientes e 4 mil títulos comercializados no valor de R$ 15 milhões em um ano e meio. A iniciativa serviu como protótipo para o novo negócio, remodelado a partir da chegada de investimentos da americana Mondo Strategy e anjos brasileiros, cerca de R$ 2 milhões.
Em outubro, a plataforma foi relançada com o novo nome. O presidente Ricardo Cury estima que, até o fim do ano, entre 40 e 50 empresas de fomento juntem-se à iniciativa. Até o final de 2016 ele projeta reunir 550 instituições e 12 mil cedentes, movimentando mais de R$ 500 milhões.
“Monitoramos situação das notas fiscais em todos os Estados da federação e em 300 prefeituras”, detalha.
Já a F(x), fundada pelo ex-executivo do mercado financeiro Dan Cohen, adotou outro caminho, com plataforma desenvolvida para a oferta de operações estruturadas. A base é um algoritmo de matching que já está na 300ª versão e funciona como o aplicativo de paqueras Tinder, “combinando” perfis de tomadores de crédito e interesse de investidores. A solução rendeu aporte de quase R$ 3 milhões da eGenius, dos fundadores da Easy Taxi, e permite ao interessado relacionar mais de 300 fatores para aumentar sua atratividade, como garantias, motivação para o pedido, desempenho e perfil, do lado das empresas, e condições da dívida, no caso das instituições financeiras.
As 45 instituições cadastradas definem o perfil da empresa almejada, hoje com 53 variações. Em comum, o prazo acima de 18 meses. O próprio algoritmo sugere adaptações para tornar o pedido do tomador mais atraente.
As empresas na mira são aquelas com faturamento anual acima de R$ 30 milhões. Até agora, 120 empresas entraram na plataforma, das quais 43 conseguiram matching, com propostas somando mais de R$ 100 milhões - seis operações já foram fechadas, com ticket médio de R$ 5 milhões.
O serviço custa ao tomador R$ 10 mil por seis meses, devolvidos quando o empresário recebe o capital, sobre o qual é cobrado 1% de comissão. “Nos próximos meses vamos transformar a ferramenta em leilão, para os empresários selecionarem os investidores”, antecipa Dan hoje os investidores só são conhecidos depois da combinação.
Para Marco Rennó, da Osher Investimentos, que já fechou uma operação via F(x) e está com mais duas em análise, itens como relatório prévio, análise e indicativos, além de opinião independente sobre a oportunidade, reduzem o tempo investido na avaliação da operação. “Não é uma operação que o empresário vai encontrar em um banco tradicional. Existe uma estruturação que precisa ser discutida conjuntamente”, diz.
Valor Econômico – SP