24/11/2015 às 05h00 Por Ivo Ribeiro | De São Paulo A venda do controle da fabricante de calçados e vestuário Alpargatas, anunciada ontem, por R$ 2,67 bilhões, traz um refresco de curto prazo no perfil de endividamento do conglomerado Camargo Corrêa, que tem negócios em vários setores de construção pesada, cimento a concessões, até naval e têxtil. A operação foi fechada no domingo com a holding J&F Investimentos, da família Batista Sobrinho, que também controla o JBS. O novo dono adquiriu 44% do capital total, levando no pacote 67% das ações com direito a voto. O valor da transação, com pagamento à vista, representará 11% do endividamento líquido da Camargo Corrêa. A previsão é fechar o ano em R$ 24,5 bilhões, disse ao Valor, na semana passada, Vitor Hallack, presidente do conselho de administração do grupo, sediado em São Paulo. A pergunta do mercado é se essa venda será suficiente para o grupo equacionar sua alavancagem financeira. Medida pela relação da dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a alavancagem é de 5,4 vezes. Com a entrada do dinheiro da venda da Alpargatas no caixa do grupo, recua para 4,8 vezes. O perfil continua ainda elevado frente aos padrões definidos pelos especialistas para mostrar a saúde financeira de uma companhia na faixa de duas a três sobre o Ebitda anual gerado por uma empresa. Essa é a linha do conforto. Em caso de companhias com forte presença em áreas de infraestrutura ou de atividades que exigem capital intensivo caso da Camargo Corrêa , é aceitável um índice de alavancagem de até 4 vezes o Ebitda. No setor de infraestrutura, investese muito no início e o retorno vem ao longo dos anos. A Camargo Corrêa está presente na construção pesada e engenharia, em concessões de rodovias, metrô e aeroportos e de geração e distribuição de energia, construção naval, cimento, incorporação imobiliária e indústria têxtil. No ano passado, o grupo teve receita de R$ 26,1 bilhões. Cimento respondeu por 31% e construção por 24%. A seguir vieram concessões de energia e transportes, com 21%, e Alpargatas, com quase 14%, além de outros (10%). A projeção para este ano é de uma expansão de 6%, alcançando R$ 27,6 bilhões. Todavia, a geração de resultado vai ter queda da ordem de 4% a 5% de R$ 4,74 bilhões para algo em torno de R$ 4,5 bilhões. Os negócios do grupo foram afetados pela retração econômica do país, em especial nas atividades de construção pesada e imobiliária e na atividade de produção de cimento e concreto. Além disso, sofre encolhimento nas margens de ganho da maioria dos negócios. As áreas de concessões de energia e transportes é que vão puxar o crescimento da receita líquida, informou o presidente do conselho. Outras vendas de ativos, segundo o grupo, não estão no horizonte. Mas é sabido desde o primeiro semestre que a Camargo Corrêa busca um sócio minoritário para a sua fabricante de cimento e concreto InterCement, que tem operações na Argentina, Paraguai, Brasil, Portugal e países da África. O grupo é dono de mais de 95% do capital da cimenteira. A Camargo diz que vai continuar direcionando seu foco para a construção e infraestrutura e no desenvolvimento de projetos novos, como o aeroporto de Caieiras, na Grande São Paulo. Por isso, reitera que não tem intenção de se desfazer de ativos como a CCR (concessões de transporte), bem como da CPFL, de energia. Mas, a depender de oportunidade de venda, a aposta é que vai se desfazer tanto da operação têxtil quanto do estaleiro EAS, que absorveu muito dinheiro e não deu retorno. A construtora, que foi envolvida na Operação LavaJato, vai fechar o ano com queda de 30% na receita líquida de R$ 6,3 bilhões para R$ 4,5 bilhões. O cenário continua ruim em 2016. A previsão é que o negócio sofra nova retração da ordem de 25%. “Não há oferta de novas obras no país. Nem privadas nem públicas”, disse o executivo.
Valor Econômico – SP