20/11/2015 às 05h00 Por Cibelle Bouças | De São Paulo A retração da economia brasileira esperada para 2015 e 2016, com a consequente queda no consumo, levou companhias de vestuário e calçados a mudar planos de investimentos em lojas e novos negócios. As empresas também tentaram melhorar o perfil de endividamento e formar caixa para suportar um período mais longo de economia fraca. Entre as companhias que já divulgaram meta de abertura de lojas, Riachuelo, Arezzo e Hering informaram que vão inaugurar menos unidades em 2016. A Riachuelo abre neste ano 28 lojas, ante 30 a 40 estimadas no início do ano. Para 2016, a meta também foi reduzida de 40 para 15 unidades. A Arezzo reduziu o plano de 2015 de 62 lojas para 30 a 40 unidades. Em 2016, prevê de 20 a 25 novas lojas. A Hering, que abriu 43 pontos de venda neste ano até setembro, vai se dedicar à renovação de lojas e abrir “algumas” da Dzarm. A Marisa, por sua vez, fechou quatro lojas este ano e avalia o desempenho de outras 15, que também podem ser fechadas em 2016. A Renner manteve a meta de abrir 45 unidades, sendo 25 de sua marca principal, e informou que para 2016 tem pelo menos 14 lojas Renner para serem abertas. “A conjuntura macroeconômica ainda está ruim, com expectativa de retração no PIB de 3% neste ano e 1,9% no ano que vem. Empresas capitalizadas aguentam dois anos de retração no PIB e podem até ganhar participação de mercado”, afirmou Guilherme Assis, analista da Brasil Plural. Ele pondera, no entanto, que as companhias terão um desempenho fraco em 2016. Para a Renner, que registra o melhor desempenho de vendas entre seus pares, Assis estima um crescimento de vendas de um dígito, ante uma alta de 21,6% nos primeiros nove meses de 2015. Thiago Macruz, analista do Itaú BBA, estima que, em 2016, as varejistas de moda terão desempenho similar ao deste ano. “O cenário é difícil para geração de receita, mas a queda em vendas tende a ser menor, porque a base de comparação é mais baixa”, disse Macruz. O analista aponta como fator positivo para as empresas a contenção nos custos e a melhora no nível de endividamento obtido em 2015. “Não há uma grande preocupação para o setor em relação ao seu nível de endividamento”, disse Macruz. No terceiro trimestre, três das nove companhias de moda com ações na BM&FBovespa apresentavam posição de caixa líquido em outras palavras, um caixa maior que a dívida de curto prazo. A Grendene ampliou a posição de caixa líquido em 15,8% neste ano, para R$ 1 bilhão. A fabricante fez esforços para conter custos em 2015 e reavalia se manterá a operação de móveis TOG em 2016. O negócio gerou receita de R$ 1,4 milhão e prejuízo de R$ 14,8 milhões no acumulado de janeiro a setembro. A loja aberta em São Paulo em maio não trouxe os resultados esperados. “Não foi o melhor momento para abrir uma loja no país. Os resultados começam a afetar o resultado da Grendene”, afirmou Francisco Schmitt, diretor de relações com investidores da Grendene, em teleconferência com investidores feita no fim de outubro. Também no segmento de calçados, a Arezzo fechou o trimestre com posição líquida de caixa de R$ 67 milhões, 25,5% inferior ao saldo do terceiro trimestre de 2014. A Arezzo mudou seus planos ao longo do ano para controlar custos em meio ao cenário de consumo retraído. A empresa previa abrir 62 lojas e reforçar a atuação direta no varejo. Mas reduziu a meta para 30 a 40 unidades e anunciou a transferência de sete lojas próprias para franquias em 2016. “Estamos tentando equilibrar a necessidade de manter uma margem saudável e reduzir despesas, para conseguir solidez financeira”, disse Thiago Borges, diretor financeiro e de relações com investidores da Arezzo, em apresentação a investidores na semana passada. A Alpargatas, dona das marcas Havaianas, Dupé e Mizuno, foi a única entre as calçadistas que manteve a estratégia de expandir seu raio de atuação, com foco maior em vestuário. Por outro lado, a companhia vendeu as marcas de artigos esportivos Topper e Rainha para o grupo de investimentos Sforza, um movimento que não estava nos planos da companhia no fim de 2014. Outro fato inesperado foi a decisão da sua controladora, Camargo Corrêa, de colocar à venda sua participação de 44,12% na Alpargatas, para reduzir dívidas. A fabricante de calçados fechou o trimestre com dívida líquida de R$ 49,7 milhões, ante um caixa líquido de R$ 140,1 milhões um ano antes. E precisa manter o nível de endividamento sob controle para melhorar seu preço de venda. Entre as varejistas de vestuário, a Hering foi a única que apresentou posição de caixa líquido no terceiro trimestre, de R$ 145 milhões. O montante é 41,8% inferior ao registrado em 2014. A companhia concentrouse na redução de estoques e de custos neste ano. A Hering ainda não divulgou planos para 2016. A Marisa se concentrou no ajuste de estoques ao longo de 2015 e reduziu o seu endividamento líquido em 17,8%, para R$ 643,8 milhões. Outra medida tomada com a piora do cenário econômico foi o fim da venda de produtos por catálogo (venda direta). Adalberto Santos, diretor financeiro da Marisa, informou no fim de outubro que a venda direta representou uma perda de R$ 24 milhões em 2014 e, neste ano, o prejuízo será de R$ 40 milhões. A varejista ainda fechou quatro lojas em outubro e avalia outras 15 unidades que não são rentáveis. A Riachuelo foi a única que elevou fortemente seu endividamento em 2015. A dívida líquida cresceu 116,8%, para R$ 1,25 bilhão. O motivo é a captação de financiamentos do BNDES. Sua rival Renner manteve seu endividamento sob controle, fechando o terceiro trimestre com alta de 5,1% na dívida líquida, para R$ 472,7 milhões.
Valor Econômico – SP