28/10/2015 às 05h00
Por Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo
Com performance acima da média do varejo, que registrou queda de 2,2% no semestre de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o e-commerce faturou no primeiro semestre R$ 18,6 bilhões, 16% mais que no mesmo período do ano passado, e deve fechar o ano com avanço de pelo menos 15% sobre 2014, graças à expectativa com as vendas da Black Friday, ao fim de novembro, e com o período de Natal.
O desempenho é mais tímido do que em 2013 e 2014, quando o e-commerce avançou 31,1% e 25,9% no primeiro semestre, respectivamente, sobre o ano anterior. E, embora o relatório Spending Pulse, da MasterCard, indique que as vendas do varejo online tenham sido 6,8% maiores em setembro ante o mesmo mês de 2014, o presidente da eBit, André Sapoznik, diz que o terceiro trimestre afetou os resultados do ano e o crescimento foi sustentado até agora pelo tíquete médio 13% maior, já que nos seis primeiros meses de 2015 o número de pedidos aumentou só 2,5%.
Os principais responsáveis foram as categorias de alto custo, como telefonia (avanço de 53%) e eletrodomésticos (41%). O segmento de eletrônicos, comprometido pela alta do dólar, caiu 17%. Além disso, estima-se que em agosto o número de pedidos tenha levado um tombo de 7% sobre agosto de 2014.
Ainda assim, o e-commerce é em parte favorecido pela crise, que estimula a busca por preços baixos e alternativas de renda. “A percepção do consumidor de ser mais barato comprar pela internet favorece o canal. Vimos isso em 2008 e 2009”, diz o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador. “Vemos muita gente procurando opções para complementação de renda”, diz Marcelo Epstejn, presidente do UOL, que reúne mais de 12 mil lojas virtuais em sua plataforma.
Também marcante é o fortalecimento dos marketplaces, o formato de shopping center digital empregado por marcas como Mercado Eletrônico, que passou a ser oferecido pelas grandes plataformas de e-commerce como forma de ampliar seu portfólio de produtos e sua margem sem investir em estoques, com o “aluguel” correspondendo a comissão sobre as vendas realizadas por parceiros.
Hoje, eles já respondem por cerca de 20% das vendas online no Brasil. Outra tendência é a maior chegada de novos players, nativos digitais ou do varejo tradicional. Mesmo com cerca 54 mil lojas virtuais no país, o potencial ainda é enorme. “Entre os grandes são poucos os ausentes, como Pernambucanas, Carrefour, Riachuelo. Mas faltam muitos médios, como redes regionais com faturamento entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões”, indica Salvador.
O cenário econômico pode ser um estímulo. No mês passado, a rede de supermercados Mambo anunciou site e aplicativo para atender São Paulo, Barueri e Alphaville (SP) com entregas de perecíveis a flores, agendadas e expressas, e funcionalidades como criação de lista de compras por comando de voz e leitor de código de barras.
O mesmo fez o atacarejo mineiro Decisão, com preços para atacado e varejo e entrega com data e hora marcada em Belo Horizonte. “Esperamos incrementar em 30% as nossas vendas”, diz o diretor Leonardo Villaça.
Mesmo assim, os lucros dos gigantes do setor ainda não decolaram este ano, com marcas como CNova, B2W e Netshoes reportando prejuízos maiores que no ano passado. Mas o comportamento de vendas atesta que ainda há vitalidade do mercado suficiente para expectativas de melhorias no ano. Os líderes apostam em estratégias de longo prazo e investimentos pesados em áreas como logística e tecnologia para ampliar as vendas, escala e participação no mercado.
A CNova, responsável pelos negócios online de marcas como Casas Bahia, Ponto Frio e Extra e cujo prejuízo alcançou R$ 95,8 milhões no primeiro semestre, em comparação a R$ 45,1 milhões no mesmo período de 2014, ao fim de junho havia cravado 28 trimestres consecutivos de ganhos de market share no Brasil, segundo ressaltou o CEO German Quiroga na apresentação dos resultados do primeiro semestre.
No terceiro trimestre, as vendas da companhia cresceram 18,1% sobre o mesmo período de 2014, somando R$ 1,5 bilhão. A contribuição do marketplace foi multiplicada por três, passando de 4,2% para 12,8%. O mobile e o tamanho da rede Click & Collect foram outros destaques. A participação dos dispositivos móveis no tráfego passou de 20,5% para 32,5% e o sistema que permite ao cliente comprar online e buscar o produto na loja, uma mão na roda para equacionar custos com logística e distribuição, já tem mais de 1250 pontos e taxa de adesão de 15% no Estado de São Paulo para o site Extra.com.br.
O Walmart.com comemora o crescimento de 50% entre 2011 e 2014 e market share perto de 10%. O CEO Paulo Sérgio Silva destaca o comportamento do consumidor, mais cauteloso e pesquisador antes das compras. A velocidade do marketplace, que deve alcançar 1000 lojas ainda este ano, cresceu 500% nos nove primeiros meses do ano e, de acordo com ele, já passou dos 10% de participação nas vendas. “Em categorias como móveis e brinquedos chega a 80%”, registra. Segundo Silva, a empresa aposta em investimentos em tecnologia, atendimento e na consolidação da rede de distribuição para passar longe de guerra de preços para atrair clientes, com programas como “Falando com o Chefe”, que o leva e aos demais executivos da rede a atenderem clientes no call center 50 minutos a cada mês.
O diretor da B2W Digital Thiago Barreira, por sua vez, destaca os R$ 4,9 bilhões de faturamento alcançados no primeiro semestre, 27% mais que no mesmo período de 2014 e 12 trimestres seguidos crescendo acima do mercado.
A companhia aglutina Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato e viu seu prejuízo avançar de R$ 122,2 milhões entre janeiro e julho de 2014 para R$ 132,8 milhões neste primeiro semestre, com a margem bruta passando de 24,6% para 24,2%. O posicionamento de plataforma digital completa está apoiado em tecnologia e distribuição, além do marketplace com mais de 1000 vendedores, vendas de R$ 158 milhões e 7% de participação nos negócios. O mobile já responde por 18% dos pedidos. “A estratégia é de expansão da liderança, preparando para ganhar escala”, garante Thiago.
Valor Econômico – SP