26/10/2015 às 05h00
Por Rodrigo Polito | Do Rio
Pelo menos seis empresas informaram à Petrobras o interesse em adquirir uma fatia da BR Distribuidora, subsidiária integral da companhia no ramo de distribuição de combustíveis. Segundo uma fonte ligada ao comando da estatal, a petroleira avalia vender entre 25% e 40% da BR Distribuidora. As empresas interessadas são de várias nacionalidades, como China, Holanda e do próprio Brasil. Entre elas, estão empresas do ramo de varejo, devido ao interesse nas lojas de conveniência dos postos de abastecimento de combustíveis. Uma dessas empresas, segundo a fonte, é o grupo varejista francês Carrefour. O assunto foi discutido na última sextafeira, em reunião do conselho de administração da petroleira, no Rio de Janeiro. Na ocasião, os conselheiros aprovaram a decisão da diretoria executiva da estatal de adiar o registro da oferta pública de ações da BR Distribuidora e autorizar a busca de um parceiro estratégico para a empresa. O Valor apurou que a Petrobras planeja realizar um processo em várias etapas. Nas primeiras, as empresas apresentarão ofertas de preço pelo negócio. Nas etapas mais avançadas, está prevista uma “due dilligence” (auditoria) e a definição de um preço final. “A busca por um ‘private equity’ se tornou tão interessante quanto um IPO [oferta pública inicial de ações]”, disse a fonte. Procurada pelo Valor, a Petrobras informou que não se manifestaria além do que foi dito em fato relevante publicado na sextafeira. No documento, a empresa confirmou o adiamento por prazo indeterminado do registro de companhia e aberta e da oferta pública de ações da BR e a autorização para a busca de parceiro estratégico para a empresa, sem fornecer detalhes sobre interessados. Na reunião, o conselho aprovou a venda de 49% da Gaspetro para a Mitsui Gás e Energia do Brasil, conforme antecipado pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, no fim da tarde de sextafeira. Segundo fato relevante da estatal, o valor total da operação é de R$ 1,9 bilhão, que representa o montante no momento do fechamento da operação, previsto para dezembro deste ano. “Esta operação, realizada através de processo competitivo, faz parte do Programa de Desinvestimentos previsto no Plano de Negócios e Gestão 20152019”, informou a Petrobras, ressaltando que a conclusão do negócio ainda está sujeita a determinadas condições precedentes usuais, incluindo a aprovação por órgãos competentes. A meta da Petrobras é levantar US$ 15,1 bilhões com desinvestimentos em 2015 e 2016. Desse total, pretende vender US$ 700 milhões este ano e US$ 14,4 bilhões no próximo. Ao longo de todo o período do atual Plano de Negócios e Gestão, 20152019, a companhia espera arrecadar US$ 57,7 bilhões em venda de ativos. Para realizar a venda de 49% da Gaspetro para a Mitsui, o conselho de administração da petroleira aprovou anteriormente a cisão da subsidiária, para segregar os ativos e passivos relacionados ao negócio de distribuição de gás natural dos demais ativos e passivos da empresa. Com isso, a Gaspetro se tornará uma holding que consolida participações da Petrobras apenas nas distribuidoras de gás natural. Também foi aprovada a criação de uma nova subsidiária integral da Petrobras, chamada “Petrobras Logística de Gás”, que receberá os ativos e passivos não relacionados ao negócio de distribuição de gás natural segregados da Gaspetro. Sobre a Gaspetro, a estatal informa que a Mitsui já possui participação societária em oito companhias estaduais de distribuição de gás natural no país. Entre outros itens deliberados na reunião, está o encerramento do contrato de patrocínio da Fórmula 1 com a Rede Globo. Segundo a fonte, a medida está na linha da estratégia de “máxima austeridade” da companhia. As decisões sobre vendas de ativos tomadas pela administração da Petrobras podem agravar a relação do comando da empresa com os petroleiros, com risco de instalação de uma nova greve, por tempo indeterminado. Na última sextafeira, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade que reúne 14 sindicatos da categoria, enviou carta aberta ao comando da petroleira solicitando uma reunião de negociação coletiva de trabalho, para debater a pauta alternativa ao Plano de Negócios desenhada pela instituição, contrária ao plano de desinvestimentos da estatal. No documento, a FUP exige que o encontro ocorra até a próxima quartafeira, 28. “após essa data, a disponibilidade da entidade à negociação continuará a mesma, no entanto, as reuniões só poderão ser realizadas após a deflagração da greve”, informou a entidade. As assembleias dos sindicatos ligados à FUP já aprovaram a instalação da greve.
Valor Econômico – SP