A sinalização ontem da agência de classificação de risco Moody’s de que uma reavaliação do rating soberano brasileiro não deve ocorrer neste ano contribuiu para a queda do dólar e dos juros futuros no mercado local, em meio ao ambiente de menor aversão a risco no exterior. O dólar recuou pelo terceiro pregão consecutivo e fechou em queda de 1,39% a R$ 3,8434.
Os juros futuros acompanharam o movimento no câmbio e fecharam em queda. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2016 recuou de 14,48% para 14,37%, enquanto o DI para janeiro de 2017 caiu de 15,4% para 15,23%. Já o DI para janeiro de 2021 cedeu de 15,26% para 15,2%.
O analista sênior da agência de classificação de risco Moody’s, Mauro Leos, afirmou ontem que a nota de crédito do Brasil, “Baa3”, tem perspectiva estável e isso significa que não há projeção de mudanças no intervalo entre 12 e 18 meses. “A Moody’s sinalizou que vai dar um voto de confiança para governo e esperar o intervalo de seis meses para ver se a dinâmica da dívida pública melhora”, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, lembrando que a preocupação do mercado era que isso ocorresse ainda neste ano.
A recuperação das moedas emergentes no mercado externo, diante da perspectiva de que o Federal Reserve possa adiar a alta da taxa de juros nos Estados Unidos, também ajudou a trazer um alívio no movimento de venda do real. A moeda brasileira foi uma das que mais se desvalorizaram recentemente e, portanto, tem mais espaço para correção
Com a menor aversão a risco no exterior, o cenário doméstico volta a ser o principal foco dos investidores, especialmente em relação à situação fiscal.
Rostagno lembra que ainda há muita incerteza sobre a capacidade do governo em conseguir aprovar as medidas de ajuste fiscal, essenciais para impedir um aumento da dívida pública. A reforma ministerial trouxe a esperança de uma melhora da relação do governo com o PMDB e consequente fortalecimento da base de apoio à aprovação das medidas fiscais no Congresso. Contudo, notícias no cenário político mostram que esse apoio ainda é incerto. A avaliação dos vetos da presidente Dilma Rousseff às chamadas pautas-bomba pelo Congresso, que preveem um aumento de gastos, foi adiada para hoje. O Tribunal de Contas da União (TCU) ainda julga nesta quarta-feira as contas do governo da presidente Dilma.
O arrefecimento da tensão política após a reforma ministerial contribuiu para corrigir os exageros recentes nos mercados, com o dólar voltando a ser cotado abaixo de R$ 4 e as taxas futuras de juros recuando depois de encostarem nos 17%. Mas, analistas afirmam haver desconforto em relação à política fiscal: enquanto a CPMF não for aprovada, não há como apostar em uma recuperação consistente.
Com o mercado mais calmo, por enquanto, o BC realizou apenas o leilão da rolagem de 10.275 contratos de swap cambial que venceriam em novembro, cuja operação somou US$ 512 milhões. Se mantiver o mesmo ritmo, o BC deverá renovar o lote integral de US$ 10,278 bilhões em swaps cambiais que vence no início de novembro.
Valor Econômico – SP