Em abril de 2013, Jesús Zabalza assumiu a presidência do Santander Brasil com data marcada para sair. No planejamento de sua gestão já se contemplava que ele entregaria o comando do banco para um sucessor brasileiro – Zabalza e seu antecessor, Marcial Portela Alvarez, são espanhóis – em um movimento semelhante ao que foi visto em outras filiais do banco mundo afora. A troca, porém, só ocorreria depois que a unidade brasileira do Santander, sua maior operação fora da Europa, passasse a entregar resultados mais consistentes.
Ontem, depois de três balanços trimestrais bem-recebidos pelo mercado, o Santander Brasil confirmou que Zabalza será substituído, a partir de janeiro do ano que vem, pelo atual presidente do conselho de administração do banco, Sergio Rial.
Zabalza vai continuar no banco e passa para a posição de vice-presidente do conselho. A presidência do órgão, porém, ficará vaga, informou o Santander. Segundo o Valor apurou, o espanhol tem o compromisso de ficar no conselho até o fim de 2016 e deve voltar para a terra natal só depois de transferir também o comando desse colegiado a um executivo local.
A substituição de Jesús Zabalza na presidência do banco vinha sendo desenhada há algum tempo, como parte de um alinhamento à estratégia global da instituição. A troca do comando do banco para as mãos de um executivo local é um movimento que o Santander já realizou em outras filiais consideradas estratégicas, como o Reino Unido, e também na Argentina, Chile e Estados Unidos. Ana Botín, por exemplo, ingressou na presidência da filial do Reino Unido com a missão de arrumar a casa e, em seguida, passou o bastão para um executivo local.
Zabalza já cumpriu duas das três etapas a que se propôs a executar enquanto estiver no Brasil. A primeira fase era preparar a instituição para apresentar resultados melhores – com menos gastos com devedores duvidosos e mais eficiência. A segunda etapa era, então, migrar a presidência do banco para um brasileiro e a terceira, que deve ocorrer ao longo de 2016, é transferir a presidência do conselho de administração também para um executivo do país.
O grande sinal de que a mudança no comando estava prestes a se concretizar veio com a chegada de Rial ao comando do conselho do banco, no início do ano, deixando a presidência do frigorífico Marfrig. Essa foi a primeira mudança mais visível feita por Ana Patricia Botín no País, após assumir o comando do grupo espanhol no lugar de seu pai, Emílio Botín. Na época, Zabalza evitou comentar a mudança e disse, em teleconferência com jornalistas, que a chegada de Rial era “de grande valia para o banco” e que ele iria “ajudar a acelerar o crescimento do banco no Brasil”.
Ainda que Zabalza tenha desempenhado importante papel em resolver alguns dos problemas que pesavam no desempenho do banco, é longa a lista de tarefas que aguardam Rial. O executivo assumirá um banco que entrega um retorno sobre patrimônio na casa dos 12%, enquanto que seus concorrentes privados têm esse indicador acima de 20% – comparação constantemente citada por analistas quando falam do banco.
A expectativa de funcionários do banco ouvidos pelo Valor é que, na área de crédito, Rial possa contribuir com avanço do banco no empréstimo rural, uma das áreas definidas como prioridade por Zabalza. Além da Marfrig, Rial também ocupou importantes posições na Cargill.
As visitas que Rial fez às diversas áreas do banco nos últimos meses renderam boas impressões do executivo, que impressionou pelo raciocínio considerado “rápido” e pelo preparo com que abordou os responsáveis pelas diferentes áreas do banco. “Na apresentação que fizemos para ele, no terceiro slide, ele já estava perguntando o detalhe da rentabilidade da operação”, conta uma fonte.
Valor Econômico – SP