01/09/2015 às 05h00
Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Uma década depois de começarem a ser usados pelos bancos brasileiros como um reforço na segurança contra as fraudes no mundo digital, os cartões de plásticos e os chaveiros (ou ‘tokens’) que informam senhas estão sumindo dos bolsos e das gavetas dos brasileiros. Infelizmente, observam especialistas, isso não acontece porque o número de crimes caiu e essas ferramentas não são mais necessárias. O que está acontecendo, na verdade, é uma migração dos dispositivos físicos para modelos virtuais, que funcionam nos celulares por meio de aplicativos ou por códigos enviados em mensagem de texto (SMS). De acordo com Antranik Haroutiounian, superintendente de canais digitais do Bradesco, o número de usuários do ‘token’ digital já chega a 3 milhões dos mais de 26 milhões de correntistas da instituição. A expectativa é de que, até o fim do ano, o número alcance 4 milhões, o dobro do registrado em 2014. A mudança de tecnologia, segundo o executivo, vem acontecendo ao longo dos últimos cinco anos. “A tendência natural é que o ‘token’ físico deixe de ser usado”, disse o executivo. Em mensagem recente enviada aos clientes, o Itaú informou a desativação do dispositivo físico para os que já usam as versões por SMS ou pelo aplicativo. Para quem ainda não usa SMS ou aplicativo, o banco estuda uma forma de fazer essa migração. De acordo com Ricardo Guerra, diretor de canais de atendimento do Itaú, isso faz parte da estratégia de tornar os processos cada vez mais digitais. “A ideia não é aposentar o ‘token chaveiro’ de um dia para o outro, mas sim acompanhar o perfil de clientes que praticamente já não usam mais esta opção”, disse o executivo. No Santander, a substituição da tabela de senhas por mecanismos que utilizem o celular como opção de segurança está sendo trabalhada, mas não há previsão de quando o novo modelo entrará em funcionamento, segundo Márcio Reis, superintendente de núcleo de inteligência e prevenção a fraudes da instituição. Há duas razões para esse movimento. O primeiro é a conveniência. Como o telefone está quase 24 horas próximo das pessoas, elas não precisam carregar consigo o tempo todo um outro dispositivo e que, muitas vezes, nem é usado com tanta frequência. Outra vantagem do ‘token’ digital é que os bancos integram o sistema aos seus aplicativos de internet banking. Dessa forma, não é preciso entrar no aplicativo para consultar o número que vai liberar a operação. O próprio programa faz essa consulta de forma automática. “A aceitação desse modelo é mais tranquila”, disse Marcelo Frohlich, superintendente de segurança de tecnologia no Banrisul. Há cerca de dois anos, o banco adotou o ‘token’ digital para as transações feitas por meio de seu aplicativo para celulares. “Chegamos a avaliar o modelo físico, mas todos os critérios indicaram para o virtual”, disse Além da conveniência para os clientes, pesou o custo dos dispositivos, segundo Frohlich. Cada ‘token’ físico pode custar ao banco cerca de R$ 30 em um contrato de compra de grande volume (entre 500 mil e um milhão de unidades). Já o modelo digital por cerca de R$ 7. E, em um momento em que a economia vai mal, isso tem sido um impulsionador da demanda. “Tínhamos o sistema desenvolvido há algum tempo, mas no último ano a demanda cresceu e tivemos que correr”, disse César Lovisaro, diretor Comercial da Datablink. A companhia, que nasceu em 2006 como BRToken para fabricar ‘tokens’ no Brasil, mudou de nome e de sede no ano passado em busca da expansão internacional de suas operações. A matriz saiu de Santa Rita do Sapucaí, interior de Minas Gerais, para McLean, no Estado americano de Virgínia. De acordo com Lovisaro, apesar da demanda crescente pela versão digital, a companhia não tem sentido queda nos pedidos de dispositivos físicos. Na avaliação do executivo, apesar das vantagens do novo sistema, o ‘token’ físico não desaparecerá completamente. “Para alguns clientes, esse modelo vai servir. Tem espaço para crescer. O desafio é baratear o produto e adicionar novas tecnologias. [O fabricante] tem que caminhar junto com as outras coisas, não pode ficar parado no tempo”, disse.
Valor Econômico – SP