17/08/2015 às 05h00
Por Adriana Mattos e Ana Paula Ragazzi | De São Paulo e do Rio
O plano para equilibrar a estrutura de capital das redes BR Pharma e Leader, cujo maior sócio é o banco BTG Pactual, deve envolver aporte de recursos entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões na varejista de moda Leader, apurou o Valor. Na rede de farmácias, o projeto de aumento de capital, que poderia alcançar R$ 500 milhões, segundo fonte, não está em primeiro plano agora. Os sócios trabalham com formato combinado de novas emissões de debêntures e possível venda de algumas das cinco bandeiras para capitalizar o negócio. As emissões já feitas somam mais de R$ 200 milhões. A decisão de se desfazer de alguns ativos começou a circular no mercado há pelo menos seis meses, como antecipou o Valor, mas grandes varejistas, a princípio, não manifestaram interesse nos negócios. Uma das possibilidades pode ser a venda da rede Mais Econômica, que opera no Sul do país, de volta para seus fundadores, segundo uma fonte. Outra é a busca de compradores para as cadeias Sant’Ana, Farmais e Rosário, em operação assessorada pelo Itaú BBA. O BTG afasta, por enquanto, a hipótese de colocar mais capital na BR Pharma, um ano após ter injetado R$ 400 milhões, sem melhora nos resultados operacionais. Isso não quer dizer que o plano está totalmente descartado, caso a venda de ativos não avance. A dívida da empresa, de R$ 838 milhões em junho, com aumento de 70% em um ano, inclui R$ 215 milhões só em debêntures eram R$ 30 milhões ao fim de 2014. Valores têm sido subscritos por uma controlada do BTG Investments, braço de investimentos do banco, segundo documentos arquivados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Na Leader, o Valor apurou que um aporte de até R$ 300 milhões pode ocorrer nos próximos meses. A família Gouvêa, fundadora e sócia minoritária, não deve acompanhar o aumento de capital. A questão hoje está em decidir como se dará essa diluição. Neste ano, o BTG contratou a consultoria de Enéas Pestana para administrar as duas empresas, BR Pharma e Leader. A difícil situação financeira das redes reflete problemas de geração de caixa em operações que ainda sofrem com ineficiências. No caso da rede de vestuário, foi feito um estudo de posicionamento das marcas Leader e Seller (rede paulista adquirida em 2013, com foco em cama, mesa e banho), que estão começando os primeiros passos de integração. Decidiuse, por exemplo, que não vão “inventar a roda” devem explorar mais o conceito de moda na Leader, ponto forte da empresa, e testar novas coleções na Seller. Também foi definida a implantação do modelo de “orçamento base zero”, para aumentar o controle de gastos. Na tentativa de reorganizar a forma como a rede trabalha, houve problemas. A Leader teve queda de 10% nas vendas “mesmas lojas” (pontos em operação há mais de 12 meses) em julho, após criar uma central de abastecimento para fornecer mercadorias para as duas bandeiras. Até então, os fornecedores da Seller entregavam as encomendas diretamente nas lojas. Em meio à mudança logística, as liquidações foram aceleradas. O resultado é que faltou produto nas lojas e as vendas recuaram. Também tentouse transformar lojas Seller em Leader e não funcionou. Quem foi indicado pela consultoria Enéas Pestana para comandar a Leader é o executivo Alexandre Vasconcellos, exGrupo Pão de Açúcar (GPA), com experiência na área imobiliária e de tecnologia. Já na BR Pharma, o presidente indicado foi Paulo Gualtieri, que fez praticamente toda a sua carreira na área alimentar do GPA. A decisão de ter executivos de áreas não ligadas ao setor de moda e farmácia foi tratada internamente no banco. Havia dúvida se a equipe conseguiria reverter a situação de duas redes que continuam a dar prejuízo neste ano, num cenário econômico ruim para o varejo. Concluiuse no banco que, pelo estado das duas redes, era preciso fazer um trabalho tão básico na área de varejo, que a chegada de uma consultoria com atuação mais ampla faria sentido. A consultoria de Eneas Pestana está na Leader desde fevereiro e na BR Pharma desde março. Um trabalho profundo de reestruturação também tem sido feito na BR Pharma. A empresa cresceu rapidamente, sem integrar as redes adquiridas e com aumento na alavancagem. Decisões estratégicas erradas dois anos atrás, como na formação de estoques, afetaram a operação num ambiente de aumento da desconfiança dos investidores. Depois da entrada na presidência de Gualtieri, a empresa contratou Sergio Castro, outro exexecutivo do GPA, para a diretoria comercial. Um dos trabalhos centrais é o de finalizar o diagnóstico da bandeira Big Ben, a maior varejista da BR Pharma e que não estaria à venda. Em teleconferência dias atrás, Gualtieri disse a analistas que têm sido feitas “mudanças significativas” na empresa para sustentar “um novo modelo de gestão”. Isso passa por um foco maior em abastecimento, para evitar rupturas e aumento desnecessário de estoques e na melhoria da estratégia de preços e controle de perdas. De abril a junho, após cinco trimestres com Ebitda negativo, o indicador foi positivo em R$ 5 milhões. Lojas deficitárias têm sido fechadas (foram 30, de abril a junho), e abriuse um processo de renegociação de dívidas com bancos a curto prazo, que tem sido mencionado como uma das prioridades.
Valor Econômico – SP