Desde que o Banco do Povo, o BC chinês, desvalorizou o yuan em relação ao dólar em 1,9% na segunda-feira e comunicou que, a partir de agora, permitirá que as forças de mercado sejam mais determinantes na definição da taxa de câmbio do país, o mundo – ocidental principalmente, mas também os vizinhos do Oriente – tenta entender o que está por trás da nova política cambial. A primeira dúvida é se a desvalorização conduzida pelo governo, uma das maiores da história do país em um único dia, seria mesmo única, isolada. E, adicionalmente, se a mexida no câmbio, somada a outras medidas de política monetária e no mercado de capitais seria, na verdade, um movimento do governo chinês para conter uma grande crise em gestação, prestes a explodir.
O funcionário de um banco chinês, em conversa com o Valor, diz não acreditar na tese de uma grave crise chinesa. “Acredito em menor crescimento e que essas medidas são uma evolução, mais do que má reação aos possíveis problemas imaginados pelo Ocidente”, diz ele. Em sua visão, a chacoalhada cambial é mais um passo. “O governo chinês está evoluindo na política monetária e cambial. A transição [para um regime de mercado] tem tentativas, erros, acertos. E, no caso da China, tem claras limitações impostas pela estrutura política e pouco transparente.”
Em se tratando de China, pontua o funcionário do banco estatal, é gritante a preocupação que a medida gera com o crescimento da economia chinesa e os impactos no mundo. “Especialmente na política do Federal Reserve para setembro.” A desvalorização cambial, que surpreendeu o mercado, não pode ser qualificada como inesperada, em sua visão. “Eles vinham avisando que estavam observando o mercado e que ajustariam as políticas cambiais e monetárias de acordo.”
Sua avaliação é que o governo se mantém firme no propósito de substituir a força motriz da economia, transitando de investimentos em infraestrutura para consumo interno. Mas a troca traz solavancos e as medidas têm o objetivo de equilibrar também o consumo interno. “O problema é que solavancos na China são terremotos para os menores. Como fica o Brasil se a China crescer ‘só’ 5%?”
Em sua análise, a queda das exportações chinesas traz a leitura automática de que há um problema “na” China, quando na verdade é um problema “para” a China. “Sobram mais produtos para o mercado doméstico absorver.” E é isso que o governo chinês tenta ajustar também ao desvalorizar o câmbio. “Mas o problema está nos países que estão comprando menos da China, porque estão crescendo menos.” Sobre as intervenções cambiais como a ocorrida nesta quarta-feira, em que os bancos estatais entraram comprando yuans para evitar uma desvalorização maior, ele diz que “intervenções regulatórias ocorrerão na medida em que a alta volatilidade perdure. São intervenções para retirar o excesso de volatilidade.”
“Teremos mais mudanças desse tipo em breve.” Teremos? “Sim, é um processo.”
Valor Econômico – SP